RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 19. (3 Suppl.1)

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Artigos de Revisão

Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez

Anesthesia for nonobstetric surgery during pregnancy

Walkíria Wingester Vilas Boas1; Michelle Reis de Lucena2; Renata da Cunha Ribeiro3

1. TSA/SBA. Mestrado e Doutorado em Fisiologia pela UFMG. Responsável pelo CET do HC/UFMG. Anestesiologista do Hospital Lifecenter. Coordenadora do Serviço de Anestesiologia do Hospital Municipal Odilon Behrens
2. Anestesiologista do Hospital SOCOR e Hospital Municipal Odilon Behrens
3. Anestesiologista do HC/UFMG e Hospital Municipal Odilon Behrens

Endereço para correspondência

Walkíria Wingester Vilas Boas
Rua Formiga, 50 - Bairro São Cristóvão
Belo Horizonte/MG
E-mail: walkiria589@hotmail.com

Trabalho realizado no Hospital Municipal Odilon Behrens.

Resumo

Anestesiologistas em cada subespecialidade encontram, com variada regularidade, pacientes se apresentando para cirurgias durante o curso de uma gravidez. Até 2% de todas as mulheres grávidas são submetidas à cirurgia não-obstétrica durante a gravidez, que pode ser indicada em qualquer idade gestacional. O estágio da gestação e o procedimento cirúrgico indicado parecem ter influências prognósticas maternas e fetais. Em geral, o segundo estágio é tido como o mais oportuno para aqueles procedimentos que não podem esperar até depois do parto, porque a organogênese já está completa e o risco de parto prematuro é mais baixo do que no terceiro trimestre. A escolha da anestesia para a cirurgia não-obstétrica em grávidas possui características clínicas únicas, já que envolve dois pacientes e a fisiologia específica da gravidez. O objetivo final é promover uma anestesia segura para a mãe, enquanto simultaneamente minimiza-se o risco de comprometimento fetal. Manutenção da perfusão útero-placentária e adequada oxigenação materna preservam a oxigenação fetal e são de importância máxima para qualquer anestesia durante a gravidez.

Palavras-chave: Procedimentos cirúrgicos operatórios; Cirurgia; Complicações na gravidez; Gravidez; Anestesia.

 

INTRODUÇÃO

Anestesiologistas em cada subespecialidade encontram, com variada regularidade, pacientes se apresentando para cirurgias durante o curso de uma gravidez.

Até 2,0% de todas as gestantes são submetidas à cirurgia não-obstétrica durante a gravidez.1,2,3,4 Essa percentagem não inclui pacientes que estão na fase inicial de uma gravidez ainda não diagnosticada.1,4 Entretanto, testes laboratoriais só seriam necessários se indicados pela história da paciente.5,6 A incidência de condições cirúrgicas não-obstétricas encontradas em pacientes grávidas é semelhante à da população feminina em idade fértil: trauma, cistos ovarianos, apendicite, colecistite e nódulos de mama. Procedimentos maiores como craniotomia, bypass cardiopulmonar e transplante hepático podem também ser necessários.3 A cirurgia não-obstétrica pode ser indicada em qualquer estágio da gravidez.7 O tempo de gestação pode ter influências prognósticas.2 Em geral, o segundo trimestre é tido como o mais oportuno para aqueles procedimentos que não podem esperar até depois do parto, porque a organogênese já está completa e o risco de parto prematuro é mais baixo que no terceiro trimestre. Além disso, o tamanho do útero interfere menos no procedimento cirúrgico.8

Embora a segurança da cirurgia e da anestesia não-obstétrica durante a gravidez tenha sido bem estabelecida para quase todos os procedimentos cirúrgicos,2,9 a anestesia para cirurgia não-obstétrica possui características clínicas únicas, já que envolve dois pacientes e a fisiologia específica da gravidez. A escolha da anestesia é geralmente guiada por indicações maternas, pelo local e natureza da cirurgia.2,9 O objetivo final é promover anestesia segura para a mãe, enquanto simultaneamente minimiza-se o risco de trabalho de parto e parto prematuros, comprometimento e perda fetal.4 Manutenção da perfusão uterina e adequada oxigenação materna preservam a oxigenação fetal e são de importância máxima para qualquer anestesia durante a gravidez.3,6 Efeitos teratogênicos macroscópicos estruturais e funcionais dos anestésicos rotineiramente usados são provavelmente mínimos e ainda não foram conclusivamente demonstrados em humanos.2,3,10 A prevenção e o tratamento de parto prematuro são problemas dos mais difíceis de se resolverem no perioperatorio e são a causa mais comum de perda fetal3 relacionada principalmente com a doença subjacente e o procedimento cirúrgico em si, provavelmente pouco influenciado pelo manejo anestésico.1,3 Estudos prognósticos têm demonstrado que gestantes submetidas a cirurgias não-obstétricas terão o parto mais cedo e os bebês serão menores.1,7,11 O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) recomenda, sempre que possível, que um obstetra seja consultado antes de um procedimento anestésico cirúrgico não-obstétrico na gestante, com fins de monitorar, conduzir e tratar a situação fetal e um possível trabalho de parto prematuro durante o perioperatório.3,8,12

 

MUDANÇAS FISIOLÓGICAS DA GRAVIDEZ E IMPLICAÇÕES ANESTÉSICAS

Na gestação, a fisiologia materna sofre profundas mudanças: aquelas que ocorrem sob a influência de hormônios gestacionais, que são essenciais para assegurar suprimento de oxigênio e nutrientes para o feto e preparar para o trabalho de parto, e aquelas que resultam de efeitos mecânicos do útero gravídico aumentado. As mais importantes para a condução anestésica são as seguintes:

respiratórias: consumo de oxigênio aumentado devido a demandas metabólicas aumentadas, redução da capacidade residual funcional, suave alcalose respiratória crônica com PaCO2 entre 28 e 32 mmHg e alterações anatômicas das vias aéreas superiores com edema e vascularização aumentada. Tais alterações colocam a paciente em risco de desenvolver hipoxemia e rápida dessaturação quando apneicas, intubação traqueal difícil, sangramento de vias aéreas e dificuldade para ventilação sob máscara;3,4,6

cardiovasculares e hematológicas: débito cardíaco e volume sanguíneo aumentados, anemia dilucional, compressão aortocava na posição supina, resposta vascular reduzida - apesar de resposta dos barorreceptores aumentada - leucocitose e estado hipercoagulável. Tais alterações indicam deslocamento uterino quando na posição supina a partir do segundo trimestre e cuidados para se evitar tromboembolismo perioperatório;3,4,6

gastrointestinal: o tônus do esfíncter gastroesofágico está reduzido a partir da 15ª semana de gestação, aumentando o risco de aspiração pulmonar;3,4,6

sistema nervoso central e periférico: a necessidade de anestésicos locais e a concentração alveolar mínima (CAM) para agentes inalatórios estão ambas reduzidas em 25-40% durante a gravidez.3,4,6

 

DROGAS ANESTÉSICAS E GRAVIDEZ

Teratogenicidade

Uma das maiores preocupações numa anestesia durante a gravidez é qual será o efeito das drogas anestésicas e coadjuvantes sobre o feto em crescimento.13,14 Embora, a FDA tenha separado as medicações em classes de risco (Tabelas 1 e 2), as drogas são raramente testadas nas gestantes, com os dados frequentemente baseados em estudos animais; e sua aplicabilidade em humanos no contexto de doença e cirurgias é incerta.8

 

 

 

 

A teratogenicidade é definida como a observação de qualquer mudança significativa na função ou forma de uma criança, secundária a tratamento ou exposição pré-natal.4 Teoricamente, qualquer agente pode ser teratogênico se ocorre exposição suficiente em estágio sensível do desenvolvimento.2,4,6 A maioria das anormalidades estruturais tem resultado de exposição a drogas durante o período de organogênese (primeiro trimestre). Anormalidades funcionais são associadas à exposição a drogas durante gravidez tardia.3,4,6 Associação entre benzodiazepínico e defeitos crânio-faciais foi muito pesquisada e debatida,15 mas as evidências parecem não comprovar essa relação16,17,18; e em situação de estresse, uma dose única pode ter mais benefícios que possíveis riscos.4 Outra droga de uso controverso na gestação é o óxido nitroso, que, por aumentar o tônus adrenérgico, pode contrair vasos uterinos e reduzir fluxo uterino, se não combinado com halogenados3. E, por atravessar a placenta, pode oxidar a vitamina B12 e inibir a atividade da metionina sintase no feto, alterando, entre outros, sua produção de DNA.14 Mas seu uso é extenso, sem efeito adverso demonstrado durante a gravidez humana e é liberado durante trabalho de parto pela FDA.8

Até o momento, nenhum dos agentes anestésicos rotineiramente utilizados foi definitivamente identificado como um agente teratogênico.2,3,4 Os estudos de avaliação prognóstica em gestantes que se submeteram à cirurgia não-obstétrica preconizam apenas um aumento no risco de abortos, restrição do crescimento e na frequência de recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (PIG).1,7 Parece ser mais importante evitar hipóxia, hipercarbia, hipocarbia, hipertonia uterina e hipotensão materna durante cirurgia não-obstétrica em grávidas do que se preocupar com a teratatogenicidade das drogas anestésicas.6 Mas não se pode assumir que algum potencial para teratogênicidade das drogas não exista. É prudente, portanto, atrasar procedimentos anestésicos cirúrgicos maternos eletivos até depois do parto.2,9 Recentemente, trabalhos experimentais sobre bloqueadores de receptor NMDA (ex: cetamina, oxido nitroso) e facilitadores de receptor GABAA (benzodiazepínicos, agentes de indução intravenosa, agentes voláteis), mecanismo de ação da maioria das drogas anestésicas, exceto opioides, demonstraram que a exposição fetal e de recém-nascidos animais aos agentes citados resultou em neurodegeneração apoptótica difusa e persistentes reduções de memória e aprendizado.19,20 Uma vez que os anestésicos atravessam facilmente a placenta, o cérebro fetal em desenvolvimento seria exposto sempre que a paciente grávida fosse submetida a uma anestesia geral, com risco de neurotoxidade e reduções de memória e aprendizado no futuro. No momento ainda não existem informações suficientes para mudar essa prática clínica,3 mesmo porque há trabalhos experimentais que não confirmam essas informações.21

A necessidade de exames de imagem durante a gravidez é outra situação que gera dúvidas. O risco de radiação é real, embora frequentemente superestimado.8 Os riscos fetais de radiação ionizante incluem teratogenicidade, restrição do crescimento e aborto. Efeitos tardios podem incluir leucemia na infância.8 Embora o ACOG informe que o risco comece com uma exposição de 1-2 rads (10-20 mGy),22 tanto ele quanto o Colégio Americano de Radiologia consideram ser seguro, para evitarem-se anomalias e perda fetal, uma exposição de até 5 rads (50 mGy).23 A quantidade de radiação liberada para o feto varia significativamente, dependendo do número de filmes e técnicas específicas (Tabela 3). Ultrassom e ressonância magnética não usam radiação ionizante e não são contraindicados. O ACOG sugere que um exame de imagem bem indicado (mesmo usando radiação ionizante) não deve ser negado a uma mãe, se contribuirá para o seu tratamento ou solução de um problema primário.22

 

 

Farmacologia na gravidez

A farmacocinética e farmacodinâmica das drogas durante a gestação estão alteradas (Tabela 4). As consequências do volume de distribuição aumentado, da hipoalbuminemia fisiológica e do aumento do clearance são elevação da variabilidade da fração livre das drogas durante os intervalos das doses, com toxicidade no início e perda potencial do efeito terapêutico no final.4,24 Em geral, a transferência das drogas através da placenta obedece à lei de difusão de Fick.25 Alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas são, entretanto, individuais, refletindo o resultado final da interação entre as diferentes mudanças fisiológicas relacionadas à gravidez e às propriedades fisicoquímicas de cada droga. Bloqueadores neuromusculares ilustram a complexidade dessas mudanças. Os níveis de colinesterase plasmática estão reduzidos em torno de 25%, do início da gravidez ao sétimo dia de pós-parto, mas bloqueio neuromuscular prolongado com succinilcolina é incomum, porque o volume de distribuição aumentado contrabalança o impacto da hidrólise reduzida.26 Vecurônio, nas doses de 0,2 mg/kg, mostra menos latência, mas duração de ação mais prolongada na gravidez.27 A latência do rocurônio, nas doses de 0,6 mg/kg, está inalterada, mas também salienta mais duração de ação quando comparada à de pacientes não-grávidas.28 Bloqueadores neuromusculares cuja eliminação é órgão independente também têm farmacocinética alterada na gravidez, como o Cisatracúrio, que tem menos latência e menos duração de ação.29 Em relação aos agentes de indução anestésica, os mais usados são proprofol, tiopental, cetamina e etomidato. Proprofol é bastante popular para anestesia geral obstétrica, é lipofílico, tem baixo peso molecular, atravessa rapidamente a placenta, é rapidamente eliminado da circulação neonatal e baixas concentrações são detectadas no leite materno.30 O tiopental atravessa rapidamente a placenta, porém, com doses inferiores a 4 mg/kg, o pico das concentrações no cérebro fetal raramente excede o limiar para depressão.31 A Cetamina também é um agente de indução muito útil em pacientes obstétricas,31 tem rápido início de ação e promove analgesia, hipnose e amnésia. Suas propriedades simpaticomiméticas são vantajosas em pacientes com asma ou hipovolemia leve. Altas doses aumentam o tônus uterino, mas não dose de 1 mg/kg. O Etomidato é um agente de indução venosa também usado com frequência na prática da anestesia obstétrica. Ele pode causar supressão das concentrações séricas de cortisol fetal, embora ainda não seja claro se o nível de supressão é clinicamente significativo. Por causar mínimas alterações cardiovasculares, ele é uma boa indicação em pacientes hemodinamicamente instáveis.13 Opioides e agentes de indução reduzem a variabilidade da frequência cardíaca fetal e produzem depressão fetal.13 Halogenados em concentrações moderadas (0,75-1,0CAM) têm mínimos efeitos colaterais maternos e fetais em estudos animais. Já o uso de concentrações maiores (2,0 CAM) por tempo prolongado causa hipotensão materna, redução do fluxo sanguíneo placentário e efeitos deletérios sobre o feto.9

 

 

MANEJO ANESTÉSICO DA PACIENTE GRÁVIDA PARA CIRURGIA NÃO OBSTÉTRICA

Avaliação pré-anestésica

A avaliação pré-anestésica da gestante para cirurgia não-obstétrica deverá incluir avaliação clínica, esclarecimento do risco anestésico (ou falta dele) para o feto e para a mãe e informação sobre sinais e sintomas de trabalho de parto prematuro à paciente.

A administração de drogas pré-operatórias para alívio de dor e ansiedade é apropriada, pois nível de catecolamina materna elevado pode reduzir o fluxo sanguíneo uterino.2,3,4 Baixas doses de midazolam (0,5-2,0 mg)3 e opioides (25-50 µg de fentanil) também podem ser usadas.2 A partir da 16ª semana de gestação,4 profilaxia para aspiração pulmonar e pneumonia deve ser realizada.2,3,4 Geralmente é utilizada a combinação de antiácido não particulado via oral, metoclopramida (10 mg) e antagonista de receptor H2.

Durante a avaliação pré-anestésica, deve-se discutir terapêutica tocolítica com o obstetra da paciente. Indometacina (oral ou supositório) e sulfato de magnésio são os tocolíticos mais comumente utilizados no perioperatório.3 A Indometacina tem poucas implicações anestésicas, mas o magnésio potencializa bloqueadores neuromusculares e reduz a resposta vascular a vasopressores. Gestantes são propensas a eventos tromboembólicos. Medidas profiláticas adequadas deveriam ser adotadas, incluindo administração profilática de heparina de baixo peso molecular.6

Posicionamento e monitorização materna e fetal

A partir da 16ª semana de gestação4 existe compressão aortocava na posição supina e desvio lateral esquerdo de no mínimo 15-20º. Para facilitar o deslocamento uterino, é necessário para evitar hipotensão arterial. Mudanças bruscas na posição materna podem ter efeitos hemodinâmicos profundos e a posição de trendelemburg ou proclive deve ser estabelecida de forma lenta. Circulação útero-placentária não possui autorregulação de seu fluxo sanguíneo, sendo inteiramente dependente da manutenção de uma pressão sanguínea sistêmica materna adequada.4

Durante cirurgia não-obstétrica na gestante, a monitorização regular materna padrão deverá incluir ECG, pressão sanguínea, oxímetro de pulso, capnografia e temperatura.3,4 Existe correlação linear entre a PaCO2 materna arterial e o ET-CO2.32 Os níveis de ET-CO2 devem ser mantidos dentro dos limites normalmente vistos durante a gravidez (PaCO2=28-32mmHg).3,4 Hipercarbia materna limita o gradiente de difusão de CO2 do feto para a mãe, levando à acidose fetal e seus riscos. Durante procedimentos prolongados, a glicemia materna deve ser monitorada para evitar-se hipoglicemia.3

A partir da16-18ª semanas de gestação, a monitorização da frequência cardíaca fetal (FCF) tornase possível.4,6,8 Já a partir da 25-26ª semanas de gestação, a variabilidade da FCF também passa a ser disponível.4,6,8 Entretanto, o uso da monitorização fetal durante a cirurgia é controverso, a literatura ainda é incipiente para permitir recomendações baseadas em evidências sobre o assunto e não há confirmação mostrando que a monitorização intraoperatória da FCF melhora o prognóstico fetal.6 As últimas recomendações do CAOG para cirurgia não-obstétrica em grávidas indicam uma consulta obstétrica antes da cirurgia não-obstétrica, uma abordagem multidisciplinar da grávida e uma decisão caso a caso em relação à necessidade de monitorização contínua fetal.3,8,12 Já a Sociedade Americana de Anestesiologistas (ASA) não tem feito recomendações oficiais sobre o cuidado de gestantes durante cirurgias não-obstétricas, enquanto os livros-textos de anestesiologia estimulam o uso precoce (a partir da 16ª semana de gestação) da monitorização da FCF intraoperatória.33,34 A técnica pode ser limitada por interferência com o campo cirúrgico (cirurgias abdominais), cirurgias de urgência, obesidade materna, falta de experiência com o método, alta frequência de padrões falso-positivos, falta de estudos sobre a FCF durante cirurgia e anestesia e possibilidade de distração do foco principal.8 No entanto, a FCF é considerada um monitor de perfusão útero-placentária, que pode fornecer dados não oferecidos pelos monitores maternos de rotina.35 Bradicardia e desaceleração da FCF persistentes geralmente indicam sofrimento fetal verdadeiro, devendo ser iniciadas medidas de aumento da perfusão útero-placentária. Tais medidas incluem otimizar oxigenação e débito cardíaco maternos e sua transmissão para o leito placentário, aumentar o desvio do útero, proceder à reanimação materna com líquidos e sangue, assegurar equilíbrio ácido-básico respiratório, reposicionar instrumentos cirúrgicos, iniciar relaxamento do útero (tocolíticos) e ajustar manobras cirúrgicas que afetem a perfusão uterina (insuflação peritoneal, compressão de grandes vasos, etc.).3,8 Já a variabilidade da FCF e acelerações são sinais tranquilizadores do bem-estar fetal, mas podem desaparecer, sem significar sofrimento fetal, durante o sono fetal, sedação materna, anestesia geral ou hipotermia.5,8

Anestesia geral e regional

Anestesia geral ou regional tem sido usada com sucesso em gestantes.5 A anestesia regional evita o risco potencial de falha de intubação e aspiração pulmonar e reduz a exposição do feto a teratógenos potenciais. Nenhuma pesquisa até o momento mostrou superioridade de uma técnica sobre a outra em relação ao prognóstico fetal. Estudo recente sobre a mortalidade materna relacionada com anestesia36,37 ameaça um dogma da anestesia obstétrica: nenhuma morte materna relacionada à anestesia durante o parto estava associada à aspiração pulmonar ou falha de intubação na indução anestésica. Essas mortes maternas ocorreram no despertar e sala de recuperação e se relacionaram à obstrução de vias aéreas ou hipoventilação.36 A padronização e divulgação do manejo de uma via aérea difícil também pode ter contribuído para esses resultados.37

A anestesia geral deve incluir pré-oxigenação, denitrogenação completa e indução em sequência rápida com pressão cricoide, evitando-se a hipóxia. Embora intubação traqueal seja mandatória, em casos de falha a máscara laríngea tem sido usada para ventilação em paciente na posição de proclive, por breves períodos, com sucesso e segurança.4 A manutenção é geralmente feita com anestésicos inalatórios.3,4 A administração de agentes para reversão de bloqueadores neuromusculares deve ser lenta, para impedir aumentos agudos de acetilcolina circulante, que poderia induzir contrações uterinas.3 A ventilação com pressão positiva deve ser usada com cuidado e ETCO2 deve ser mantido dentro dos limites normalmente vistos na gravidez.3,4,6 A aplicação de PEEP deve levar em consideração as mudanças hemodinâmicas que poderiam comprometer a perfusão placentária.4 As pacientes devem ser extubadas acordadas.4

Na anestesia regional, quantidade menor de anestésicos locais é necessária para produção de mesmo nível de anestesia em pacientes grávidas que em não-grávidas.3,4,6 Se não há sedação, a variabilidade da FCF é mantida. Hipotensão causada por hipovolemia, drogas anestésicas, bloqueio do neuroeixo ou compressão aortocava coloca em risco o feto e deve ser tratada agressivamente. Apesar da efedrina ter sido muito usada ao longo dos anos, dados recentes sugerem que a fenilefrina é igualmente eficaz para manter a pressão sanguínea materna normal e produzir melhor equilíbrio ácido-básico fetal.38

Pós-operatório

Monitorização pós-operatória da FCF e atividade uterina devem continuar. Trabalho de parto prematuro deve ser tratado precoce e agressivamente. Promover analgesia adequada também é importante no pós-operatório, já que a dor aumenta o risco de parto prematuro.4 Entretanto, analgesia pós-operatória pode mascarar trabalho de parto prematuro e atrasar a tocólise. Administração profilática de tocolíticos é controversa e geralmente limitada àquelas pacientes em que houve manipulação do útero no intraoperatório.

 

SITUAÇÕES ESPECIAIS

Cirurgias laparoscópicas

Indicações mais comuns: apendicite aguda, colelitíase, cisto ovariano persistente e torção anexial.4,39 No passado, a gravidez foi considerada uma contraindicação absoluta para a laparoscopia.4 Contudo, os últimos anos mostram extensa e boa experiência com essa técnica durante toda a gestação,40 apesar de alguns autores indicarem sua realização, se possível, apenas no segundo trimestre.39 Os benefícios da cirurgia laparoscópica sobre a cirurgia convencional na gestante são semelhantes àqueles da não-gestante e o prognóstico fetal é semelhante entre laparotomia e laparoscopia.3 Entretanto, muitas questões maternas e fetais específicas da laparoscopia ainda existem: risco de trauma uterino e fetal, risco de acidose fetal por absorção do CO2, redução do débito cardíaco e redução do fluxo sanguíneo placentário secundário à pressão intraperitoneal aumentada. Estudos animais mostram que o pneumoperitônio com CO2 resulta em grande gradiente entre PaCO2 e ETCO2 e acidose fetal.41,42 Mas esses achados não foram confirmados em estudos humanos.43,44 Baseado nessas observações, monitorização de gases sanguíneos arteriais (gasometrias arteriais seriadas), como sugerido inicialmente pela Sociedade de Cirurgiões Endoscopistas Americanos, pode não ser necessária durante cirurgias laparoscópicas em grávidas.40

O manejo anestésico geral para pacientes grávidas submetidas à laparoscopia não difere da anestesia geral durante a gravidez para outros procedimentos. Mas algumas precauções relacionadas ao procedimento em si se aplicam:

ETCO2 deve ser mantido entre 32-34 mmHg;
pressão sanguínea materna deve ser mantida dentro de ± 20% dos valores de base com vasopressores;
as mudanças de posição da mesa cirúrgica devem ser graduais assim como a insuflação e desinsuflação do pneumoperitônio;
não há necessidade de monitorização invasiva ou monitorização fetal e uterina contínuas no intraoperatório para casos de rotina;39,40
FCF deve ser avaliada no pré e pós-operatório;
a técnica de introdução do trocater deve ser aberta;
a pressão de insuflação deve ficar entre 12-15mmHg;
atividade uterina deve ser avaliada no pré e pós-operatório;
tocólise iniciada se atividade uterina detectada;
se necessário colangiograma intraoperatório, blindagem fetal deve ser realizada;
compressão pneumática intermitente dos membros inferiores deve ser realizada;
rotação lateral esquerda da mesa é benéfico.2,3,39,40

Cirurgia cardíaca

Cirurgia cardíaca com bypass cardiopulmonar durante a gravidez tem se tornado um procedimento relativamente seguro para a mãe, mas não para o feto.3,45,46 A taxa de mortalidade fetal em cirurgias cardíacas materna com circulação extracorpórea permanece alta, chegando a 33%.3,24,45,46 Fatores contribuindo para essas altas taxas de mortalidade fetal incluem a urgência e duração da cirurgia e a resposta fetal e placentária ao bypass cardiopulmonar.45 As estratégias atuais de proteção ao feto durante o bypass materno incluem:

manutenção da taxa de fluxo da bomba > 2,5 L.mim-1.m-2 e pressão de perfusão >70 mmHg;
manutenção de hematócrito > 28%;
usar perfusão normotêrmica, quando possível;
usar fluxo pulsátil;
usar manejo α-stat de pH.

A heparina pode ser usada com segurança nas doses de anticoagulação sem risco para o feto.24 A monitorização da FCF durante e após a cirurgia cardíaca é uma decisão individualizada, mas, de maneira geral, após 22 semanas é indicada se disponível. A monitorização das contrações uterinas pode também ser realizada. E tratamento tocolítico, se necessário, deve contar com a orientação do obstetra.3,4,5,24

Neurocirurgia

Procedimentos neurocirúrgicos tais como clipagem de aneurisma, reparo de malformações arteriovenosas3 ou tumores cerebrais sintomáticos4 podem ser necessários durante a gravidez. Em geral, pressão sanguínea materna deve ser mantida dentro de limites estreitos, próximos dos valores de base. Se a pressão arterial materna se encontra um pouco mais alta (pré-eclâmpsia), ela deve ser controlada objetivando um nível próximo de 140/90 mmHg.47 Em procedimentos neurocirúrgicos de urgência, no qual a pressão intracraniana está elevada, reduzir a pressão arterial materna é menos aconselhável.47 Embora a hiperventilação controlada para reduzir aumentos agudos de pressão intracraniana permaneça como uma opção, sugere-se que a PaCO2 seja mantida em torno de 30 mmHg.47 Normotermia é desejável. Monitorização fetal pode ser de ajuda no caso de hipotensão, grandes desvios de líquidos ou perda sanguínea.3 Diurese agressiva pode reduzir a perfusão uterina. Em estudos animais, altas doses de manitol causam desidratação fetal, mas isto provavelmene não é clinicamente relevante, já que há relatos de casos individuais do uso do manitol, em doses de 0,5-0,25mg/Kg, com segurança.48 O uso de corticoide não é teratogênico, parece seguro e age para acelerar a maturidade pulmonar.47 Tratamento endovascular de aneurisma cerebral roto tem sido realizado com sucesso durante a gravidez.3 Blindagem fetal deveria ser usada durante procedimentos radiológicos intervencionistas.3

 

CONCLUSÕES

O objetivo final do cuidado anestésico a pacientes grávidas durante cirurgias não-obstétricas é promover anestesia segura para mãe enquanto simultaneamente minimiza os riscos potenciais para o feto, o que muitas vezes requer modificações das abordagens cirúrgica e anestésica nas várias especialidades. O objetivo central, para o feto, durante o manejo anestésico é a manutenção da perfusão útero-placentária, seguida pela prevenção e tratamento do parto prematuro. Para um bom prognóstico materno e fetal, as considerações anestésicas para cirurgias não-obstétricas durante a gravidez deveriam sumariamente incluir:

conhecimento das alterações anatômicas e fisiológicas da gravidez;
manutenção de fluxo sanguíneo útero-placentário adequado;
evitar e tratar hipotensão materna;
evitar compressão aortocava;
selecionar drogas e técnicas anestésicas com bom relato de segurança;
usar anestesia regional, se possível;
lembrar que nenhum agente anestésico foi provado ser teratogênico em humanos;
promover vigilância fetal a partir de monitorização da FCF e tônus uterino, quando disponível e possível;
fazer ajustes de condutas guiados pelos resultados.

 

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