ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Higroma cístico cervical gigante em adulto - relato de caso
Giant cervical cystic hygroma in an adult patient - case report
Romeu Ferreira Daroda1; Larissa Cezar da Silva Leitão2; Marcia Ferreira Daroda3
1. Médico Residente em Cirurgia Plástica - Hospital da Lagoa, Rio de Janeiro/RJ, RCBC-RJ
2. Médica Residente em Cirurgia Plástica - Hospital da Lagoa, Rio de Janeiro/RJ, especialista pela SBCP
3. Médica Cirurgiã Plástica, especialista pela SBCP, TCBC-RS
Romeu Ferreira Daroda
Rua Carlos Vasconcelos, 76 / apt. 1006
20521-050 / Rio de janeiro / RJ
Tel.: (21) 2264-0787 / 8111-2263
e-mail: romeudaroda@hotmail.com
Data de Submissão: 16/12/03
Data de Aprovação: 12/07/04
Trabalho realizado na Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) - Rio Grande - RS.
Resumo
Higroma cístico consiste em proliferação linfática benigna, freqüentemente vista na região cérvico-facial e diagnosticada nos primeiros dois anos de vida. Relata-se caso raro em paciente adulto, que apresentava tumefação cervical de 10cmx15cm de tamanho e 922g de peso. O higroma cístico resulta de desenvolvimento anormal do sistema linfático, cuja etiologia exata ainda é desconhecida. O diagnóstico se baseia no exame físico juntamente com radiografia simples de tórax, ressonância magnética, entre outros. O tratamento de escolha é a excisão cirúrgica da lesão por oferecer a melhor chance de cura.
Palavras-chave: Linfangioma cístico / cirurgia; Linfangioma cístico adulto / etiologia
INTRODUÇÃO
A malformação linfática cística, também conhecida como higroma cístico ou linfangioma cístico, é uma proliferação benigna de tecido linfático1. Descrita pela primeira vez em 1828, por Redembacher, foi mais bem detalhada por Weinher em 1843, e denominada higroma cístico1. A maioria das malformações linfáticas ocorre na região cérvico-facial e axilar, sendo 65% diagnosticadas ao nascimento, 80% durante o primeiro ano de vida e 90% no segundo ano de vida2. A ocorrência em adultos é rara, havendo menos de 100 casos descritos3,4, o que nos motivou a relatar este caso.
RELATO DO CASO
Paciente do sexo feminino, leucodérmica, 69 anos de idade, sem antecedentes patológicos, foi encaminhada ao Ambulatório de Cirurgia Plástica para diagnóstico e tratamento de tumefação supraclavicular direita, com aparecimento há seis meses. Dor moderada e hiperestesia em membro superior direito há três meses, sem sintomas de obstrução aérea, disfagia, história de infecção respiratória ou trauma.
Ao exame físico, apresentava tumefação de aproximadamente 13cm x 7cm de tamanho, de superfície lobulada, consistência fibroelástica e indolor à palpação, em região supraclavicular direita, que se estendia desde a clavícula até posteriormente ao músculo esternocleidomastóideo (Figura 1). Na base da língua e na região supraglótica, não foram encontradas alterações mucosas. Não havia edema de membro superior direito. Não foi realizada punção citológica. A radiografia simples de região cervical mostrou opacidade confinada à região supraclavicular direita com extensão à parede faríngea. A radiografia simples de tórax não sugeriu comprometimento mediastinal, traqueal, da parede torácica ou região escapular. A ressonância magnética confirmou a natureza multicística da massa e seu contato com a parede faríngea. Os exames laboratoriais não mostraram alterações significativas.
Realizou-se tratamento cirúrgico, com incisão ampla da pele, e retirada completa da massa sem rompimento da cápsula. Para prevenir serohematomas foi posicionado dreno de aspiração contínua. Foram identificados os fascículos do plexo braquial, assim como ramos das artérias subclávia e carótida externa, deslocadas em grande parte de seus trajetos pelo processo expansivo. Apesar do contato com a parede faríngea, esta não foi ressecada.
O laudo histopatológico confirmou tratar-se de higroma cístico. Macroscopicamente, a peça correspondia a lesão totalmente encapsulada, de 15cm x 10cm de tamanho e 922g de peso, irregularmente lobulada, cística, roxo-amarelada, de paredes translúcidas. Na superfície de corte, observava-se líquido de consistência serosa e o aspecto multilobular de paredes finas, alternando com áreas de tecido adiposo. Microscopicamente, havia predominância do aspecto cístico com paredes finas, revestidas por camada endoteliforme. Em outras áreas, a espessura parietal era maior, com presença de capilares do tipo cavernoso e acúmulos linfóides sem centros germinativos.
A evolução pós-operatória foi satisfatória, não sendo observados hemorragia, seroma ou fístula. O dreno foi retirado no segundo dia de pós-operatório. A paciente foi acompanhada durante cinco anos, com desaparecimento progressivo da dor e da hiperestesia no membro superior direito, inicialmente relatados.
DISCUSSÃO
Considerado um tipo de linfangioma, o higroma cístico trata-se, geralmente, de lesão pequena, unilateral, de crescimento lento, que afeta o tecido linfóide1. Pode ser definido como neoformação espontânea, exuberante e circunscrita, de vasos linfáticos e tecido linfonodal, constituindo uma forma de angiodisplasia inativa2, sem etiologia conhecida.
É raro em adultos e sua etiologia está provavelmente relacionada a um atraso na proliferação de restos linfóides congênitos ou adquiridos após estímulo, como infecção respiratória ou trauma local3.
Na classificação histopatológica, corresponde à forma cística do linfangioma, desenvolvendo-se a partir de tecido linfático.
Clinicamente, encontra-se geralmente como lesão cervical assintomática, localizada no trígono posterior do pescoço, passível de transiluminação. Eventualmente, podem surgir sintomas por compressão de estruturas vizinhas1. Os diagnósticos diferenciais incluem lipoma, hemangioma, massas tireóideas, linfopatias primárias ou secundárias2.
Além do exame físico, os seguintes métodos diagnósticos podem ser úteis: punção com agulha fina, radiografia simples cervical, tomografia computadorizada e ressonância magnética. Estudos endoscópicos laríngeos e esofágicos podem ser empregados se existirem sintomas associados5. O exame histopatológico é essencial para o diagnóstico definitivo.
O tratamento de escolha é cirúrgico, pois a regressão espontânea é incomum na maioria dos casos3,5. É preconizada a ressecção cirúrgica parcial, seguida de radioterapia nos casos de aderência a estruturas vitais, como os nervos frênico e recorrente, plexo braquial ou artéria carótida. Métodos adjuvantes incluem: aspiração, injeção de agentes esclerosantes, aplicação de laser e radioterapia e uso de OK-432 (anticorpo monoclonal)5. A operação precoce no adulto é preconizada devido à facilidade técnica encontrada, principalmente antes de ocorrer invasão de estruturas vizinhas ou infecção local, causando fibrose1. Quanto maior o tamanho do tumor, maior é a chance de recidiva, que nos estudos científicos tem variado de 27% a 32%3,6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Cudennec YF, Roche P, Buffe P, Berthelot B, Trannoy P, Poncet JL, et al. Lymphangiomes kystiques cervicaux de l'adulte. J Chir (Paris) 1993;130:278-84.
2- Kennedy TL. Cystic hygroma-lynfangioma: a rare and still unclear entity. Laryngoscope 1989;99:1-10.
3- Wiggs WJ, Sismanis A. Cystic hygroma in the adult: two cases reports. Otolaryngol Head Neck Surg 1994;110:239-41.
4- Sherman BE, Kendall, K. A unique case of the rapid onset of a large cystic hygroma in the adult. Am J Otolaryngol 2001;22:206-10.
5- Barrios JM, Tirado I. Linfangioma cervical. An Otorrinolaringol Ibero Am 1992;19:595-600.
6- Hancock BJ, St-Vil D, Luks FI, Di Lorenzo M, Blanchard H. Complications of lymphangiomas in children. J Pediatr Surg 1992;27:220-4.
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