RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 14. 1

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Carta ao Editor

Cátedra de ética

Alcino Lázaro da Silva

Professor Titular de Cirurgia do Aparelho Digestivo - UFMG

Endereço para correspondência

Alcino Lázaro da Silva
Av. Alfredo Balena, 190, 9º andar
Belo Horizonte, MG. CEP: 30.130-100, Brasil

Resumo

O Dr. Aloísio Faria solicitou à direção da Faculdade de Medicina, UFMG, um projeto em que se contemple uma "Cátedra de Ética". Esta solicitação e o que se ouve em todas as reuniões é um clamor pela Ética no mundo contemporâneo. Atendendo ao chamado formulamos uma sugestão.
Em se tratando de uma carta, tomo a liberdade de dividir a sua redação em tópicos, para que me torne mais claro na proposta.

Palavras-chave: Moral, Ética, Deontologia, Diceologia, Bioética, Ontoética, Instituto Avançado em Reflexões Éticas, Instituto do Pensar

 

INTRODUÇÃO

O homem é um ser imanente que busca a transcendência. O homem-médico é aquele que tem o exercício diário junto ao ser humano e, conseqüentemente, cria, mantém e desenvolve a relação médico-paciente. O produto da imanência-transcendência é a humanização. Sem esta não existe relação médico-paciente material, mental, espiritual e empática, que leve o paciente à satisfação plena e o médico a cumprir o seu desiderato de promover o bem-estar e a saúde do indivíduo. Isto só se obtém se houver atenção ao sinal-sintoma, à síndrome, à doença e ao ser humano que os possui e por isso se inclui na finalidade da ontoética. Logo, "a doença é um sinal-sintoma do ser humano". O atendimento médico, pelos profissionais de saúde, em todo o seu espectro (da educação à complexidade), só é pleno se o ato médico for praticado com atitude ética inalienável, qualquer que seja a área ou condição de atendimento. É preciso, pois, informar para agir e formar para a plenitude.

 

OBJETIVO

Implantar na faculdade para a equipe de saúde, uma cátedra em que os grandes problemas (temas) do exercício ético sejam criados, avaliados, discutidos, questionados e divulgados, sob qualquer forma, como frutos de reflexões filosóficas e culturais avançadas no teor e no tempo.

 

LOCAL

Criar-se-á um instituto que será a área física para o exercício da ética em todos os seus níveis e em todos os seus aspectos. A área física se abrirá aos profissionais das áreas básica e clínica, aos alunos, aos residentes, aos pósgraduados, aos funcionários, aos dos recursos humanos do HC e seus anexos e ambulatórios, ao Coep, às comissões de ética, ao Conepa e às associações de classe.

 

CENTRO DA INSTITUIÇÃO

Esse será o centro de convivência. Egocêntrico, fundamental, indissociável e perene para produzir qualificação na relação médico-paciente. O centro de convivência será o local aglutinador de todos os envolvidos e que queiram aumentar seus conhecimentos e seu aprofundamento nas reflexões dos grandes problemas éticos. A convivência é o ponto crucial do relacionamento humano, pois é ela que nos introduz, nos educa e nos projeta no exercício mais difícil que é o da tolerância. Tolerância de médico. Tolerância do doente.

 

CONTEÚDO DO CENTRO DE CONVIVÊNCIA

Esse centro será erguido em uma área física grande, uniforme, unitária, de acesso fácil, aberta e com ambiente saudável para encontros (uma Acrópole). O encontro é o acerto de pessoas que necessitam se entender para se promover como profissionais e como sujeitos da ação. Para que o encontro, a convivência e a tolerância criem a convivialidade será necessário ter recursos nas áreas que instruam, humanizem e promovam a transcendência. Por exemplo, um profissional de saúde, desde o neófito (aluno) ao pesquisador de alto nível, deve ter ou encontrar ambiente para discussões filosóficas e teológicas nas áreas de: Artes Cênicas, Artes Plásticas, Espiritualidade, Filosofia, Língua Portuguesa, Literatura, Música, Poesia e Política. Toda a necessidade que o homem tem para crescer e transcender encontra resposta nas reflexões que ele fizer nessas áreas. Percebe-se que o Centro de Convivência (Cecon) trabalhando com a informação e a formação, integrando e interagindo, torna-se o elemento maior de "transformação da pessoa em ser humano".

 

TEMPO DO CENTRO DE CONVIVÊNCIA

Atemporal, perene, para que as reflexões se transfiram como tradições culturais e impeçam o império do continuísmo.

 

LINHA DE PESQUISA:

O Ser Humano, a Ontoética, a Comunidade Azul (a cor da paz).

 

TREINAMENTO

A liberdade de pensamento e de ação é a tônica da convivência, ocasião em que se aprende o respeito pelo outro e a sua alteridade como pessoa humana. Os exercícios serão feitos no ócio, no GD, no seminário, na aula magistral, no colóquio, no embate, na bravata e no lazer. O Centro de Convivência oferecerá toda infraestrutura em informática, telemedicina, biblioteca para as áreas de formação, jogos, música, questões políticas, audiovisual, vídeo, TV, rádio, salas para discussões e estudo, salões para exercícios culturais e de lazer.

 

DIVULGAÇÃO

O Centro de Convivência divulgará para informar seus freqüentadores, aliciar novos elementos, vincular-se às atividades afins e registrar o realizado, o a realizar, o sonhado e até a quimera. Pode-se ter folhetos, revistas, jornais, boletins, páginas na internet, cartazes, botões, adesivos...

 

GERÊNCIA

A Cátedra de Ética deve ser regida, gerenciada e apoiada pelos colegiados que trabalham com o ser humano em formação ou que os aglutine como pares ou conviventes.

 

CONCLUSÃO

O Centro de Convivência do Instituto do Pensar, na Cátedra de Ética, deve transformar o profissional de saúde num ser supremo no exercício do seu mister e num ser humilde, na sua aculturação ética.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Lázaro da Silva A: Ensino Médico Simples. Boletim FM. UFMG, Março 1990.

2- Sugestão Sobre Ensino Médico. Faculdade Futurista. Rev Méd Minas Gerais. 2000;10(2):120-4.

3- Faculdade Futurista Pós-Moderna. J Bras Méd 2002;83(4):56-9.