RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 13. 3

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Editorial

A reforma curricular do curso de medicina da UFMG

Janete Ricas

 

Trinta anos após uma grande reforma curricular que a projetou no cenário nacional por suas idéias inovadoras, a Faculdade de Medicina da UFMG retoma o caminho interrompido por algumas décadas. Retomada nos parece ser a palavra correta, na medida em que a atual proposta reafirma os princípios e diretrizes da proposta anterior.

Uma nova realidade do conhecimento e da organização dos sistemas de saúde, hoje, favorece essa retomada. Desta realidade, alguns determinantes se destacam.

Os sistemas de saúde baseados, predominantemente, na assistência ao doente sofrem uma demanda econômica crescente devido, dentre outros fatores, à utilização cada vez mais intensa de tecnologias sofisticadas e à evolução social do conceito de bem-estar, com exigência de extensão da cobertura a toda população. Assim, além de economicamente inviável, o seu impacto sobre a saúde coletiva tem sido muito pequeno. Os países se dão conta de que a promoção, a manutenção da saúde e a intervenção precoce na comunidade e no indivíduo são a saída possível para evitar a falência do sistema e a exclusão da maior parte da população dos benefícios disponíveis, advindos da evolução do conhecimento na área. Continuar centrando a formação do médico, quase que exclusivamente na atenção ao doente, seria ignorar que novas competências lhe têm sido exigidas na prática profissional, levando à necessidade de mudanças na sua formação.

A supervalorização da tecnologia e da especialização do conhecimento acentuou a tendência positivista da medicina científica de olhar e intervir no corpo do paciente de forma isolada, ignorando seus afetos, sentimentos, significados e relações sociais. Além da reação de setores da própria ciência que revela cada dia mais a artificialidade desta dissociação, a reação social, estimulada pelo crescimento da consciência de cidadania, se faz notar no sentido da exigência de escuta e relação ética.

A pletora de conhecimentos produzidos e divulgados e o maior acesso às informações têm demandado maior capacidade crítica do profissional, exigindo conhecimentos de metodologia científica e capacidade de discernir os conhecimentos úteis e aplicáveis à sua realidade. O aluno deve, assim, aprender a avaliar as suas necessidades em termo de conhecimentos, buscá-los, criticá-los e aplicá-los na resolução dos problemas e dificuldades que surgem na prática profissional.

O atual Projeto de Reforma do Curso Médico da Faculdade de Medicina da UFMG, denominado RECRIAR, pretende formar profissionais capazes de maior impacto na saúde individual e coletiva, mais éticos e humanos e mais autônomos em sua formação, que deve continuar, necessariamente, enquanto permanecer no exercício de sua profissão.

 

Janete Ricas
Coordenadora do Colegiado do Curso Médico da UFMG e Coordenadora do Projeto Recriar