ISSN (on-line): 2238-3182
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CAPES/Qualis: B2
Imagem molecular
Molecular imaging
Carlos Jorge Rodrigues Simal
Médico Nuclear. Professor Associado do Departamento de Propedêutica Complementar da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais,(UFMG) Belo Horizonte, MG – Brasil
Endereço para correspondênciaCarlos Jorge Rodrigues Simal
Depto de Propedêutica Complementar da Faculdade de Medicina da UFMG
Av. Alfredo Balena, 190 - 4º andar
CEP: 30130-100 Belo Horizonte, MG - Brasil
Email: simal@feliciorocho.org.br
Recebido em: 06/05/2011
Aprovado em: 01/06/2011
Instituiçao: Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte, MG - Brasil.
Resumo
Imagem molecular é denominação relativamente recente para procedimentos diagnósticos por imagem que envolvem reações entre agentes de imagem e moléculas-alvo específicas, como enzimas e receptores celulares. Essencialmente, um agente de imagem se constitui de uma porção que interage com um alvo específico, enzima ou receptor celular e uma porção que permite a sua detecção, como, por exemplo, um elemento radioativo, uma partícula magnética ou uma molécula fluorescente. A imagem molecular permite abordar processos biológicos nos níveis celular e subcelular, em organismos vivos intactos. Embora a Medicina Nuclear seja o método, de longe, mais utilizado na área do diagnóstico por imagem que se enquadra na imagem molecular, novas abordagens envolvendo a fluorescência, a ressonância magnética e a ultrassonografia, entre outros, despontam com grande potencial para emprego clínico e pré-clínico. São apresentados exemplos de abordagens pelos diversos métodos de imagem.
Palavras-chave: Medicina Nuclear; Imagem Molecular; Diagnóstico por Imagem; Fluorescência; Ultrassonografia; Imagem por Ressonância Magnética; Tomografia por Emissão de Pósitrons; Tomografia Computadorizada de Emissão de Fóton Unico; Compostos Radiofarmacêuticos.
INTRODUÇÃO
O conceito de imagem molecular (IM) é relativamente recente e ainda pouco compreendido. O objetivo desta revisão é ajudar no esclarecimento de dúvidas ainda existentes e contribuir para a difusão da IM no nosso meio.
Os métodos para diagnóstico por imagem, fundamentalmente, registram a transferência de energia pelos tecidos biológicos e sua distribuição no tempo e no espaço. Cada forma de energia, como as radiações eletromagnéticas e o ultrassom, interage com o meio de um modo característico, o que define, genericamente, o tipo de informação a ser obtida.
Nos primeiros passos do diagnóstico por imagem houve predomínio da Física e da Anatomia. Os avanços na Física nas áreas de fontes de energia, detecção e registro de radiações ionizantes e não ionizantes permitiram o desenvolvimento de equipamentos para o diagnóstico por imagem com resolução espacial na faixa de centímetros a milímetros. Nessa fase teve-se como foco principal os "sinais radiológicos" e a correlação anatomopatológica.
Nos passos seguintes do diagnóstico por imagem já se verifica predomínio da Química e da Biologia. Tem-se o surgimento de meios de contrastes e agentes moleculares tecido-receptor específicos, permitindo abordar a incorporação metabólica desses agentes. Com os progressos na tecnologia dos equipamentos, atingem-se resoluções espaciais na faixa de micrômetros a nanômetros. A incorporação dos recursos da informática ao diagnóstico por imagem permitiu a aplicação de processamentos que levam aos estudos tomográficos e imagens tridimensionais, sem falar das análises quantitativas e temporais.
Avançou-se de uma abordagem eminentemente anatômica para abordagem funcional das células e órgaos. Hoje se pode abordar a distribuição e a função de moléculas orgânicas que, em última análise, refletem a expressão de genes.1 A partir da farmacogenética e da farmacogenômica permitindo a identificação do melhor medicamento para determinado processo patogênico em um indivíduo, alcança-se o estado da arte, levando à Medicina personalizada, em que cada tratamento será realmente individualizado levando em consideração o padrao genético que define o fenótipo daquela doença naquele indivíduo.2
Mais recentemente, adotou-se a denominação de IM para procedimentos diagnósticos por imagem que envolvem reações entre os agentes de imagem e moléculas específicas, como enzimas e receptores celulares. Fazendo livre adaptação da definição de IM proposta pela Comissão de Imagem Molecular do Colégio Americano de Radiologia, pode-se definir imagem molecular como a percepção de processos moleculares e celulares in vivo localizados no espaço e/ou analisados temporalmente.3 Do mesmo modo, de acordo com o Centro de Excelência em Imagem Molecular (MICoE) e pela Sociedade de Medicina Nuclear dos Estados Unidos, pode-se definir imagem molecular como a visualização, caracterização e medição, espacial e temporalmente, de processos biológicos nos níveis molecular e celular, in vivo.4 Pode-se, ainda, considerar a IM como a representação visual, caracterização e quantificação de processos biológicos nos níveis celular e subcelular em organismos vivos intactos.5,6
As metas da IM incluem o avanço no entendimento da biologia tumoral, a avaliação da presença e do status biológico (ativo-inativo) de receptores e vias envolvidas no desenvolvimento tumoral, o estudo farmacocinético e farmacodinâmico de drogas antitumorais, bem como a avaliação e a predição da resposta terapêutica a essas drogas.7
A importância da IM relaciona-se ao fato de que as interações moleculares estao na base dos processos vitais normais e patogênicos. Deste modo, as alterações moleculares e celulares precedem as alterações anatômicas. Como a IM pode retratar os processos moleculares envolvidos nos processos vitais, ela permite dar diagnósticos cada vez mais exatos e precoces, como a presença de metástases de poucos milímetros de diâmetro.
É importante ressaltar que a IM é um termo novo para um conceito antigo.1,8 A primeira aplicação de importância clínica da IM foi a utilização, há mais de 50 anos, do 131Iodo pela Medicina Nuclear na avaliação da captação desse radioisótopo pela glândula tireoide e na cintilografia da tireoide ou tireograma.1 Deste modo, a Medicina Nuclear inaugurou a era da IM. Grande parte dos seus procedimentos enquadra-se na definição de IM e ainda hoje predomina com larga margem de vantagem entre os diversos métodos de IM de aplicação clínica, a partir da tomografia por emissão de fóton único (SPECT) e da tomografia por emissão de pósitrons (PET).
Não obstante o atual predomínio da Medicina Nuclear, pode-se antever grande expansão dos horizontes da IM, com a contribuição de outros métodos de imagem, como a ressonância magnética, a ultrassonografia e outros.
Nem todos os procedimentos de imagem na Medicina Nuclear se enquadram no conceito de IM.9 Na cintilografia de perfusão pulmonar são utilizadas partículas de macroagregado de albumina (MAA) marcadas com 99mTecnécio. Essas partículas têm diâmetros na faixa de 10 a 100 µm e, após uma injeção intravenosa, embolizam pequenas arteríolas e capilares pulmonares, permitindo a "visualização" da árvore arterial pulmonar. O mecanismo de visualização é, em última análise, mecânico. A embolização poderia ser obtida com outros materiais, como microesferas de albumina ou de plástico ou cerâmica. Não há ligação específica entre a molécula utilizada, o MAA, e receptores ou enzimas localizados nas paredes dos vasos pulmonares.
Por outro lado, quando se utilizam isótopos radioativos do iodo (123Iodo e 131Iodo) para estudos de captação pela glândula tireoide, para realização de tireogramas ou quando se emprega o 131Iodo para tratamentos de hipertireoidismo e de carcinomas diferenciados da tireoide, está-se usando receptores e enzimas específicos das células tireoidianas envolvidos no mecanismo de captação e organificação do iodo. Quando se utiliza a metaiodobenzilguanidina (MIBG), que é molécula análoga da guanetidina e norepinefrina, marcada com 123Iodo ou 131Iodo para estudos cintilográficos de receptores adrenérgicos e para cintilografia ou tratamentos de tumores neuroendócrinos, está-se envolvendo mecanismos enzimáticos e receptores que permitirao a captação e armazenamento da MIBG nas vesículas pré-sinápticas dos nervos adrenérgicos. Quando se utiliza a glicose marcada com 18Flúor (18F-FDG, 18Flúor-desoxiglicose) para detecção de tumores e metástases para estudos de viabilidade miocárdica ou para estudos neurológicos, está-se envolvendo o mecanismo de difusão facilitada para a glicose na superfície celular e a ação enzimática da hexoquinase. Deste modo, as cintilografias e tratamentos com iodo radioativo, com a MIBG marcada com radioiodo e a 18F-FDG envolvem enzimas e receptores, portanto, alvos específicos, de modo que esses métodos se enquadram no conceito de IM. Esses exemplos com o isótopo do iodo com número de massa 131 são conhecidos como agentes "teranósticos", uma vez que um mesmo agente pode ser usado para obter imagens ou para tratar lesões.10
AGENTES DE IMAGEM
Para a formação de imagens diagnósticas pode-se ter ou não a necessidade de administrar substâncias aos pacientes. Essas substâncias são conhecidas como agentes de imagem molecular, agentes de imagem, sondas de imagem, traçadores, radiotraçadores, radiofármacos, sondas ativáveis ou inteligentes. Esses métodos podem requerer a ou não a administração de agentes de imagem, como se dá, respectivamente, com a Medicina Nuclear em todas as suas modalidades, incluindo a PET, a fluorescência no infravermelho próximo, a bioluminescência, a ressonância magnética e a ultrassonografia; ou a espectroscopia por ressonância magnética, como a tomografia óptica por difusão e a ressonância magnética (RM) funcional.
Usualmente, os agentes de imagem são constituídos de três partes: um componente específico, que interage com o alvo (v.g., uma proteína) e permite sua localização a partir de interações moleculares; um componente sinalizador, que permite a sua detecção (v.g., um radioisótopo); e um componente de ligação entre eles.1,10 Esses agentes podem ser primariamente ativos, como os agentes radioativos, que emitem radiação mesmo que não estejam ligados ou tenham sofrido qualquer ação do seu alvo específico, ou ativáveis, quando o agente não é detectável enquanto não interagir com o seu alvo específico. Estes últimos têm a vantagem de fornecer um sinal com menos ruído de fundo, o que melhora a qualidade da imagem.
As interações moleculares que permitem a localização dos agentes de imagem são de diversas naturezas11 (Figura 1). Pode ser desde a simples ligação de uma molécula a um alvo específico, como nas reações antígeno-anticorpo e ligações entre microbolhas - peptídeo receptor GpIIbIIIa. Pode ser pelo acúmulo de uma substância no interior das células pela ação de receptores ou enzimas celulares, como na captação celular de 18F-FDG, na captação de radioiodo pelas células tireoidianas ou na fagocitose das partículas de CLIO-Tat por células-tronco ou linfócitos. Pode, ainda, ser decorrente da transformação de moléculas por enzimas-alvo, levando a uma forma detectável do agente de imagem, como no caso dos agentes inteligentes utilizados na fluorescência no infravermelho próximo.
O tipo de interação influencia na qualidade das imagens e na sensibilidade dos diferentes métodos. No caso de uma interação unitária, como nas reações antígeno-anticorpo, tem-se menor número de moléculas ligadas ao alvo específico e maior número de agentes de imagem circulando livremente, elevando o sinal de fundo e reduzindo a relação , deste modo levando à redução da sensibilidade do método. Nas interações em que ocorre concentração do agente de imagem na célula, podem-se ter milhares de agentes de imagem, sendo concentrados pela ação de um único alvo. Isto leva a significativa redução do ruído de fundo, com melhora da relação sinal-ruído e elevação da sensibilidade do método. Nas interações do alvo com os agentes inteligentes tem-se que o nível de ruído de fundo é mínimo, em decorrência do agente de imagem não emitir sinal antes de sofrer a ação do alvo. Deste modo, a relação sinal-ruído tende a se elevar, aumentando a sensibilidade do método.11
MODALIDADES DE IMAGEM MOLECULAR
Embora a maioria dos procedimentos de IM pertença à seara da MN, alguns métodos começam a despontar. Cada método apresenta as suas vantagens e desvantagens. Por vezes um método possui excelente resolução espacial, mas carece de sensibilidade, como acontece com a RM, enquanto outro não apresenta boa resolução espacial, mas tem alta sensibilidade, como os métodos de MN. Como será visto adiante, a fusão de imagens moleculares-funcionais com imagens anatômicas tem sido a solução para aproveitar o melhor de cada método e propiciar diagnósticos mais precoces e mais acurados. Apresentam-se, a seguir, alguns dos métodos de IM que já deram demonstração de seu potencial, seja para uso clínico ou experimental.
IMAGEM OPTICA
Nessa modalidade podem-se considerar a bioluminescência, a fluorescência proteica e a fluorescência no infravermelho próximo (FIVP).
Na bioluminescência, devem ser incorporados ao animal os genes que levarao à produção da enzima luciferase. Esta enzima está envolvida em processos naturais de fluorescência, como observado em insetos (v.g., vagalumes), água-vivas (medusas) e bactérias.12 Havendo interação do substrato adequado (v.g., D-luciferina) com a luciferase, levando à oxiluciferina será emitida luz visível (na faixa de 400 a 700 nm). A penetração tecidual dessa faixa de comprimento de onda do espectro eletromagnético é relativamente baixa e esse sistema é útil em pequenos animais, uma vez que os diferentes órgao estarao situados em profundidades de 1 a 2 centímetros.
A bioluminescência e a fluorescência proteica, por requererem manipulação genética, não são adequadas para uso em humanos.
A FIVP tem grande potencial para estudos em animais e humanos. A faixa do espectro eletromagnético conhecida como infravermelho próximo vai de 600 a 900 nm e permite mais penetração nos tecidos.13
Agentes de imagem foram desenvolvidos para diferentes enzimas-alvo que tendem a ser superexpressas em processos patogênicos. Os agentes de imagem são compostos de uma molécula fluorescente e uma proteína que será quebrada (clivada) por uma enzima específica.
A molécula dos agentes de imagem intacta apresenta interferência entre as moléculas fluorescentes e isto impede que elas fluoresçam antes da ação enzimática. Após a clivagem desses agentes de imagem as moléculas fluorescentes são liberadas e, se excitadas, podem emitir luz, ou seja, são ativadas (Figura 2). Daí o termo de agentes de imagem inteligentes.
Os equipamentos utilizados para a formação das imagens da FIVP basicamente são constituídos de uma fonte de luz excitadora que ilumina o objeto, usualmente um animal de experimentação, e recolhe a luz emitida pela fluorescência. Como os comprimentos de onda da luz excitadora e da luz emitida pela fluorescência são diferentes, através de um filtro é permitida apenas a passagem da luz produzida pela fluorescência até o detector CCD, como os presentes em câmaras fotográficas digitais (Figura 3).14
Têm-se como exemplos de aplicação desse método os agentes de imagem que sofrem a ação da catepsina-B, uma enzima proteolítica presente em concentrações elevadas em processos inflamatórios, infecciosos e tumorais.1,15-18 A Figura 4 mostra lesão tumoral de 2 mm na mama de um camundongo e a Figura 5 exibe atividade inflamatória na pata de um camundongo em um modelo experimental de artrite reumatoide.
A FIVP poderá vir a ser utilizada na clínica no diagnóstico de tumores epiteliais. Por meio de exames endoscópicos poderá ser útil no diagnóstico de processos tumorais em cavidades e vísceras ocas. Avaliação de margens cirúrgicas nas cirurgias para remoção de tumores pode ser feita com o emprego de óculos especiais. Placas ateroscleróticas instáveis poderao ser detectadas via cateterismo.1,19
MEDICINA NUCLEAR
Como mencionado anteriormente, grande parte dos procedimentos de MN se enquadram na definição de IM e respondem por cerca de 90% dos procedimentos clínicos da IM. Fornece informação predominantemente bioquímico-funcional, sendo o dado anatômico oriundo do dado funcional. A PET é a técnica de IM mais utilizada atualmente.7 Em relação à RM, a MN apresenta como desvantagens o emprego de material radioativo e a resolução espacial de 1 a 4 mm para o SPECT e de 1 a 3 mm para o PET. Sua principal vantagem está na sua grande sensibilidade na detecção dos agentes de imagem, com a massa requerida variando de 1 a 1.000 ng para o SPECT e de 1 a 100 ng para o PET, correspondendo a sensibilidades na faixa de 10-10 - 10-11 mol/L para o SPECT e de 10-11 - 10-12 mol/L para o PET (Tabela 1).9 Com quantidades tao pequenas de agentes de imagem, praticamente não há preocupação com efeitos tóxicos ou reações adversas ao emprego desses materiais. Para se ter um termo de comparação, em estudo de PET com 18F-FDG se utiliza quantidade aproximada de 200 µg de glicose ou aproximadamente 1 µmol.9
O emprego de um equipamento de tomografia computadorizada acoplado aos equipamentos de SPECT e PET tem se mostrado uma razoável solução para contornar o problema da baixa resolução espacial dos métodos de MN. Mais recentemente estao disponíveis equipamentos, para uso clínico, com acoplamento de equipamento de RM aos PETs, melhorando a resolução espacial e reduzindo a dose de irradiação aos pacientes. A partir da fusão das imagens cintilográficas, ricas em dados bioquímico-funcionais, com os dados da TC ou RM, ricas em dados anatômicos, é possível precisar a localização das lesões, com grande repercussão na sensibilidade para detecção de metástases, melhorando o estadiamento e a abordagem terapêutica em oncologia.
Como exemplo de estudo experimental utilizando o método nuclear, tem-se a detecção de 99mTc-HYNIC-bAla-Bombesina em animais com tumor mama (MDA-MB-231). A bombesina é um peptídeo isolado da pele do sapo Bombina bombina, semelhante ao peptídeo liberador de gastrina, que está presente nos mamíferos, apresentando, deste modo, elevada afinidade pelos seus receptores.20 Aproximadamente 62% dos carcinomas de mama e 100% de suas metástases apresentam elevada expressão genética para os receptores do peptídeo liberador de gastrina e, em consequência, para a bombesina.21 Outros tumores, como os carcinomas de pulmão, pâncreas, cólon e próstata, também apresentam elevada expressão genética para os receptores do peptídeo liberador de gastrina.22-24 Deste modo, a bombesina marcada com radioisótopos pode ser interessante agente de imagem para a detecção desses tumores e de suas metástases.
A Figura 6 mostra imagens após 1 hora de administração intravenosa do radiofármaco 99mTc-HYNIC-βAla-Bombesina7-14 em camundongo inoculado na pata posterior direita com células do tumor de mama (MDA-MB-231).
A cintilografia com a metaiodobenzilguanidina, marcada com 123Iodo ou 131Iodo, é de emprego corrente na MN. Molécula análoga da guanetidina e norepinefrina é captada e armazenada nas vesículas pré-sinápticas dos nervos adrenérgicos. É utilizada no diagnóstico e acompanhamento de pacientes com tumores neuroendócrinos, como os paragangliomas (feocromocitomas), neuroblastomas, gânglio-neuroblastomas e gânglio-neuromas. A Figura 7 mostra um caso de extensa massa abdominal e duas metástases de paraganglioma.
As lesões são facilmente detectáveis pela cintilografia, plana e tomográfica (SPECT). Mas a fusão das imagens com a TC, realizada no equipamento gama-câmara acoplada a um tomógrafo (SPECT/CT), propiciou a localização exata das lesões metastáticas no corpo de L3 e na articulação sacroilíaca esquerda. Este é um exemplo interessante da utilização da fusão das imagens de MN com a TC, como mencionado.
A tomografia por emissão de pósitrons (PET) é modalidade recente na área do diagnóstico por imagem. É tecnologia em franca expansão no Brasil e no restante do mundo. Pode-se dizer que ela é uma cintilografia em que os radioisótopos são emissores de pósitrons. Os pósitrons são a antimatéria dos elétrons, ou seja, são elétrons com carga positiva. Quando os pósitrons se encontram com os elétrons (matéria e antimatéria) eles sofrem a chamada reação de aniquilação, em que as massas das duas partículas são integralmente transformadas em energia. Deste modo, dois fótons de energia igual a 511 keV são emitidos em direções opostas e, para serem considerados válidos na formação das imagens, os equipamentos precisam detectar os dois fótons quase que simultaneamente. A tecnologia SPECT (tomografia por emissão de fóton único) é realizada nos equipamentos de gama-câmara e lida com Raios-gama emitidos pelos núcleos dos radioisótopos, enquanto a tecnologia PET lida com fótons emitidos nas reações de aniquilação.
Os radioisótopos mais utilizados atualmente são o 11C (T1/2 = 20 min), o 18F (T1/2 = 110 min), o 13N (T1/2 = 10 min), o 15O (T1/2 = 2 min) e o 82Rb (T1/2 = 75 seg). Destes, o 18Flúor é, com larga margem, o mais utilizado. A quase totalidade dos exames de PET realizados em todo o mundo utiliza o 18F -FDG (18Flúor-desoxiglicose). O 18F -FDG é uma molécula de glicose que tem a sua hidroxila no carbono 2 substituída por um átomo de 18F (Figura 8). O 18F -FDG penetra nas células pelo mesmo mecanismo utilizado pela glicose e sofre a ação da enzima hexoquinase, dando origem ao 18F -FDG-6-PO4, em lugar da glicose-6-fosfato. Esta prossegue no metabolismo, produzindo ATP ou sendo armazenada na forma de glicogênio. O 18F -FDG-6-PO4 não é reconhecido pelas enzimas e acumula-se nas células (Figura 9), podendo, assim, ser detectado.25 A Figura 10 mostra o padrao de biodistribuição normal do 18F -FDG.
Os tumores tendem a apresentar metabolismo glicolítico mais acentuado que as células normais. Como regra geral tem-se que quanto mais agressivo o tumor, mais alta a taxa de captação do 18F -FDG. Deste modo, há tendência a se acumular o 18F -FDG-6-PO4 nas células tumorais, permitindo a sua detecção e a formação de imagens. Tumores com alta taxa de glicólise, como os melanomas, permitem a visualização de metástases de aproximadamente 5 mm de diâmetro.
Hoje os equipamentos de PET são acoplados a tomógrafos computadorizados e, mais recentemente, a equipamentos de RM. Deste modo, pode-se fazer fusão das imagens, o que permite mais precisão na localização das lesões e na identificação de artefatos, levando a maior acurácia diagnóstica (Figura 11). Isto leva a diagnósticos mais precoces, estadiamentos mais precisos, além de permitir melhor abordagem cirúrgica ou radioterápica.
A utilização cada vez mais frequente do método é a avaliação precoce da resposta ao tratamento quimioterápico. Estudos de PET/CT são realizados antes do início e após um a dois ciclos de quimioterápicos. A comparação das intensidades das captações das lesões (SUV - valor de captação padronizado) antes e após o início da quimioterapia permite prever a resposta final ao tratamento.
RESSONANCIA MAGNÉTICA
A RM possui como grandes vantagens a sua elevada resolução espacial (<1 mm), a possibilidade de fornecer informação anatômica, fisiológica e funcional, além de não utilizar radiação ionizante. Sua principal desvantagem, como método de IM, é a sua baixa sensibilidade para a detecção de agentes moleculares, na faixa de 10-3 - 10-5 mol/L, requerendo massa de agente molecular da ordem de 103 - 106 ng (Tabela 1).9
Entre as estratégias propostas para contornar essa baixa sensibilidade, pode-se citar a concentração intracelular de CLIO-tat, uma nanopartícula de óxido de ferro ligada ao peptídeo Tat, um tipo de peptídeo penetrador celular encontrado no vírus da imunodeficiência humana26 (Figura 12). O peptídeo Tat promove a concentração das nanopartículas de óxido de ferro no interior de células de modo a permitir a sua detecção e localização pela RM. Na Figura 13 têm-se imagens de RM de um camundongo inoculado na coxa direita com células da linhagem B16-OVA de melanoma e na coxa esquerda células da linhagem B16F0 de melanoma. Linfócitos T citotóxicos CD8+ sensibilizados contra a linhagem B16-OVA foram incubados com as partículas CLIO-Tat. Após a injeção desse material, as imagens seriadas de RM mostraram o ataque dos linfócitos marcados apenas ao tumor da coxa direita, da linhagem B16-OVA.27
A espectroscopia por RM é modalidade de IM que não demanda administração de agentes de imagem e já é utilizada há alguns anos. O espectro reflete a distribuição de moléculas normalmente presentes no tecido em estudo. A comparação entre espectros de um tecido normal e um patogênico permite a identificação do tipo de anomalia presente. Para o sistema nervoso central, o N-acetilaspartato (NAA) é considerado um marcador neuronal, a creatinina (Cr) permite a estimativa do estoque energético e a colina (Col) favorece a estimativa da taxa de renovação celular, que tende a se apresentar elevada em tumores e processos inflamatórios. A Figura 14 mostra espectro cerebral de um indivíduo normal e de um caso de tumor cerebral (glioblastoma multiforme) em que se pode verificar redução do pico da NAA (neurônios) e elevação no pico da colina, refletindo a elevada taxa de renovação celular intratumoral.28
ULTRASSONOGRAFIA
A presença de ar em tecidos moles causa intensa reflexão da sondas sonoras utilizadas na ultrassonografia. Esse fenômeno pode ser explorado para a criação de "meios de contraste" ultrassonográfico como microbolhas contendo gases em seu interior. Estas microbolhas podem ter uma parede de fosfolípides, como no caso dos lipossomas, ou de materiais como emulsões de perfluorcarbono. Com diâmetros variando de 100 nm a 2 µm, as microbolhas normalmente não saem dos vasos sanguíneos e, portanto, são adequadas para alvos intravasculares, endotélio ou outras células que estejam expostas ao sangue circulante. A incorporação de moléculas alvo-específicas na superfície das microbolhas permite a sua ligação a alvos definidos. A Figura 15A mostra visão artística de uma microbolha com bioconjugados incorporados à sua membrana e a Figura 15B mostra como estes bioconjugados podem ser acoplados e estabilizados na membrana.29 Um exemplo interessante é a utilização de bioconjugados direcionados aos receptores GPIIbIIIa que são expostos na superfície das plaquetas ativadas. Estes receptores, pertencente ao grupo das integrinas, estao envolvidos na promoção da agregação plaquetária e na transformação do fibrinogênio a fibrina com a consequente formação dos coágulos sanguíneos.30
A utilização de microbolhas revestidas de bioconjugados específicos para o receptor GPIIbIIIA permite o direcionamento das partículas ao alvo, as plaquetas ativadas e, em última análise, ao coágulo. A Figura 16 mostra microfotografias de coágulos expostos a microbolhas sem e com os bioconjugados direcionados aos receptores GPIIbIIIA, onde se pode verificar a intensa fixação das partículas revestidas de bioconjugados alvo-específicos.29 A Figura 17 mostra um trombo na aurícula de um cao. A utilização de microbolhas direcionadas ao receptor GPIIbIIIA aumenta a capacidade de visualização do mesmo pela Ultrassonografia.31 Esta capacidade de fixação das microbolhas direcionadas aos coágulos pode prenunciar o emprego terapêutico do ultrassom, na dissolução de coágulos.32
Um outro exemplo de microbolhas direcionadas aos receptores GPIIbIIIa envolve o sistema biotina-avidina. É feita a administração intravenosa de um anticorpo ligado à biotina direcionado aos receptores GPIIbIIIA. Alguns minutos após é feita a injeção intravenosa de microbolhas revestidas com avidina. Deste modo as microbolhas se ligam ao coágulo permitindo a sua visualização pela Ultrassonografia. A Figura 18 mostra a diferença na visualização de coágulos pela Ultrassonografia em animais injetados com anticorpos ligados à biotina e animais que receberam salina, portanto sem o direcionamento das microbolhas.33
PERSPECTIVAS:
O futuro do diagnóstico por imagem é a IM. O diagnóstico mais precoce e preciso, cada vez menos invasivo é a tendência geral. A uniao das abordagens anatômica e molecular traz inúmeros benefícios à pesquisa e à prática médica.
Para se ter noção da evolução da IM para a clínica e a pesquisa com animais, é interessante observar a quase vertiginosa oferta de novos agentes de imagem. Há um banco de dados de agentes de Imagem Molecular e contrastes (MICAD) do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos da América, onde constam, apenas, agentes para uso in vivo em animais ou humanos. O MICAD apresentava, na atualização de 28 de abril de 2011, 4194 agentes catalogados, sendo 1002 já aprovados.34
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