RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 25. 3 DOI: https://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20150088

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Caso 19

Case 19

Lucas Vieira Rodrigues1; Hércules Hermes Riani1; André Ribeiro Guimarães1; Fábio Mitsuhiro Satake1; Ana Júlia Furbino Dias Bicalho1; Ana Elisa Tavares Diniz2

1. Acadêmico(a) do Curso de Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Belo Horizonte, MG - Brasil
2. Médica Generalista Atenção Primária da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Belo Horizonte, MG - Brasil

Endereço para correspondência

Lucas Vieira Rodrigues
E-mail: lucasvrvr@gmail.com

Recebido em: 18/07/2015
Aprovado em: 15/08/2015

Instituição: Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte, MG - Brasil

 

RELATO DO CASO

Paciente feminino, de 23 anos de idade, previamente hígida, sem comorbidades, procurou atendimento médico em unidade básica de saúde por apresentar há duas semanas odinofagia e lesões esbranquiçadas como película de nata, recobrindo língua e palato.

São fatores de risco para as lesões apresentadas neste relato, EXCETO:

 

 

sexo oral desprotegido;
corticoterapia inalatória crônica;
síndrome de imunodeficiência adquirida;
antibioticoterapia de amplo espectro.

 

ANÁLISE DAS IMAGENS

 


Figura 1 - Análise: Placas brancacentas, parecendo "coalho", sob a língua; dentes apresentando irregularidades de implantação de sua arcada, com conservação precária e alguns expondo a sua raiz, além de algumas perdas dentárias.

 

DIAGNÓSTICO

As lesões esbranquiçadas recobrindo a superfície mucosa são frequentemente associadas à candidíase oral, determinada pela Candida sp. Esse tipo de lesão é mais frequente em lactentes e adultos imunossuprimidos. A forma como se apresenta, nessa paciente, entretanto, por sua intensa disseminação, denuncia imunodeficiência, especialmente dos linfócitos T auxiliares, que se associam à resposta granulomatosa e estão envolvidos, principalmente, nos processos de defesa contra vírus, Mycobacterium, espiroquetas, fungos e protozoários.1, 2

Constituem fatores de risco para o desenvolvimento da candidíase a corticoterapia inalatória crônica, a síndrome de imunodeficiência adquirida e a antibioticoterapia de amplo espectro, por reduzirem a capacidade de defesa para a Candida sp. O sexo oral desprotegido, mesmo expondo parceiros a secreções potencialmente contaminadas, não é fator de risco estrito para candidíase oral, atuando, dessa forma, apenas se o indivíduo a ser contaminado pela boca esteja em estado de imunossupressão.3

 

DISCUSSÃO DO CASO

A candidíase tem como agentes causadores os fungos do gênero Candida, principalmente a espécie Candida albicans, que comumente coloniza o ser humano, em especial os tratos digestivo, respiratório, genital feminino e pele. A candidíase oral pode ser observada em lactentes e em adultos sob imunossupressão contra a Candida sp., como ocorre na anti-bioticoterapia de amplo espectro, quimioterapia, radioterapia em cabeça e pescoço, corticoterapia inalatória crônica ou síndrome de imunodeficiência adquirida. O mecanismo de invasão dos tecidos pelo microrganismo é obscuro, sendo conhecidos quatro fatores que interferem nesse processo, como:

adesinas que auxiliam a ligação do fungo às células hospedeiras;
formação de hifas que penetram no epitélio;
secreção de enzimas fúngicas;
capacidade do fungo em se adaptar ao microambiente do hospedeiro.

Na candidíase oral, a superfície da mucosa apresenta a formação de placas esbranquiçadas, cremosas ou membranosas.2, 3

A candidíase oral deve ser diferenciada de:

líquen plano em sua forma mucosa, que se apresenta com lesões esbranquiçadas, diferenciando-se da candidíase oral por causar ardor;

leucoplasia pilosa oral, que tem como agente o vírus Epstein-Barr, acometendo usualmente portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida e manifestando-se com placas esbranquiçadas nas laterais da língua, diferenciando da candidíase oral por não serem removíveis com a raspagem da língua;

neoplasia oral, que pode se apresentar como lesão esbranquiçada, contudo, a sua evolução é mais lenta quando comparada com a candidíase oral.2,3

O diagnóstico de candidíase orofaríngea é confirmado pela raspagem das lesões suspeitas com uma espátula e coloração do material pelo método de Gram ou KOH e examinado em microscópio. A cultura das lesões não costuma ser indicada, salvo em sua reincidência. O tratamento pode ser tópico, com nistatina, cetoconazol e clotrimazol; ou pela via oral, com cetoconazol, fluconazol e itraconazol.2

 

ASPECTOS RELEVANTES

imunossupressão: estado em que o sistema imune se mostra incapaz em contrapor um processo infeccioso de determinado hospedeiro;1

pacientes com o diagnóstico de síndrome de imunodeficiência adquirida têm deficiência na resposta celular, especialmente de linfócitos T auxiliares;1

a candidíase oral apresenta-se com placas brancas aderentes à mucosa oral e língua e ao serem destacadas revelam enantema intenso e doloroso.1

 

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Ênio Roberto Pietra Pedroso, pela revisão do caso e contribuições acadêmicas.

 

REFERÊNCIAS

1. Veronesi R, Focaccia R. Tratado de infectologia. 4ª ed. São Paulo: Atheneu; 2009. v. 1, p.9- 23, 171-6.

2. Veronesi R, Focaccia R. Tratado de infectologia. 4ª ed. São Paulo: Atheneu; 2009. v.2, p.1493-505.

3. Kauffman CA. Overview of Candida infections. [Citado em 2014 nov 21]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/overview-of-candida-infections?source=preview&search=moniliase&selectedTitle=1~150&language=en-US&anchor=H3#H3.