RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 25. 3 DOI: https://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20150089

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Carta ao Editor

Endemia do tabagismo no Brasil

The smoking endemy in Brazil

Vitorino Modesto dos Santos

Médico. Universidade Católica de Brasília e Hospital das Forças Armadas Hospital das Forças Armadas. Departamento de Medicina Interna. Brasília, DF - Brasil

Endereço para correspondência

Vitorino Modesto dos Santos
E-mail: vitorinomodesto@gmail.com

Recebido em: 12/08/2015
Aprovado em: 25/08/2015

Instituição: Hospital das Forças Armadas Departamento de Medicina Interna Brasília, DF - Brasil

Resumo

Comentários sobre o artigo de Rabahi e Alcântara, sob o título "Tendência temporal da endemia do tabagismo no Brasil", no qual os autores analisaram o papel desse grave problema de saúde pública na morbimortalidade por doenças respiratórias, cardiovasculares e neoplásicas.

Palavras-chave: Tabaco; Hábito de Fumar; Controle.

 

Senhor Editor,

Li com grande interesse o artigo de Rabahi e Alcântara, sob o título "Tendência temporal da endemia do tabagismo no Brasil", no qual os autores analisaram o papel desse grave problema de saúde pública na morbimortalidade por doenças respiratórias, cardiovasculares e neoplásicas.1 Embora tenha ocorrido redução na prevalência do tabagismo em 2013 comparando-se com 2012, os comentários enfatizaram a alta prevalência de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) em nosso país, além do elevado custo que essa condição tem representado para os cofres públicos.1 Considerando que apenas 3% dos tabagistas que tentaram livrar-se desse hábito obtiveram sucesso, os autores concluíram que é necessário aprimorar as estratégias visando a esse objetivo.1 Além disso, chamaram a atenção para a importância de se realizar maior número de estudos comparando-se tendências temporais da endemia do tabagismo em países em desenvolvimento.1

Nesse ponto de vista, a leitura do conteúdo completo do manuscrito aqui comentado fornece valiosa informação para profissionais de diversas especialidades, além de pneumologistas. De fato, tabagismo é um tema sempre atual, muito importante e complexo, envolvendo fatores socioeconômicos, políticos e de saúde pública que dificultam o sucesso de medidas de controle.2 Alguns aspectos da indústria do tabaco no Brasil foram divulgados em 19792 e a variação temporal de alguns dos antigos parâmetros poderia ter significativo reflexo no atual contexto. Em nossa balança comercial, o tabaco representava um componente de primeira grandeza, além de proporcionar empregos em plantações e cultivo, transporte, indústria, distribuição e comércio.2 Os produtores nacionais realizavam incessantes esforços com o objetivo de aumentar a produção de fumo em folha e de cigarros, além de incrementar sua participação no mercado internacional. Em 1978 houve aumento de 10% na venda de cigarros e de 14% na produção de fumo em folha.2 Na época, a carga tributária era muito elevada. Impostos envolviam cerca de 70% do preço de venda dos produtos comercializados, 11% era o lucro do varejista e 19% o do produtor.2 O preço dos cigarros e a margem de lucro do varejista eram estabelecidos em Portaria Ministerial. Entre os 23 subsetores industriais de arrecadação de IPI, o item "produtos do fumo" representava 36,33%, constituindo a mais importante parcela dessa fonte de receita tributária para o governo.2 Em conjunturas econômicas adversas, pode faltar "vontade política" na sustentação de programas oficiais efetivos e eficazes para combater os desafios relacionados ao tabagismo em nosso país. Revendo o conjunto de obstáculos para o controle da endemia,2 acredito que a DPOC associada ao tabagismo representará, de fato, a terceira causa geral de mortalidade nos próximos 15 anos.1

 

REFERÊNCIAS

1. Rabahi MF, Alcântara EC. Tendência temporal da endemia do tabagismo no Brasil. Rev Med Minas Gerais. 2015;25(1):140-2.

2. Santos VM. Aspectos da indústria do tabaco no Brasil. J Bras Pneumol. 1979;5(4):149-52.