RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 26. (Suppl.5)

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Artigo Original

Avaliação da implantação do serviço de farmácia clínica na Unidade de Terapia Intensiva para contribuir na segurança do paciente

Evaluation of the implementation of clinical pharmacy service in the Intensive Care Unit to contribute to patient safety

Ana Carolina Alves Fabrini Magalhaes1; Anna Márcia Ferreira Campos Cantanhede2; Bárbara Marinho Drummond1; Yara Alvarenga Drumond3; Valéria Furtado de Miranda4

1. Farmacêutica Hospitalar. Especialista em Farmacologia. Fundaçao Hospitalar do Estado de Minas Gerais - FHEMIG, Hospital Joao XXIII. Belo Horizonte, MG - Brasil
2. Acadêmica do curso de Farmácia. Centro Universitário Newton Paiva. Belo Horizonte, MG - Brasil
3. Farmacêutica. Doutora em Farmacologia. Professora. Centro Universitário Newton Paiva. Belo Horizonte, MG - Brasil
4. Farmacêutica Hospitalar. Mestre em Ciências Farmacêuticas. FHEMIG, Hospital Joao XXIII. Belo Horizonte, MG - Brasil

Endereço para correspondência

Ana Carolina Alves Fabrini Magalhaes
E-mail: farmafabrini@yahoo.com.br

Instituiçao: Hospital Joao XXIII - Fundaçao Hospitalar do Estado de Minas Gerais - FHEMIG Belo Horizonte, MG - Brasil

Resumo

INTRODUÇÃO: Os sistemas de saúde vêm se centrando em um modelo de cuidado voltado ao paciente, com atuações cooperativas e interdisciplinares. A atuação do farmacêutico na farmácia clínica se institui como um serviço que contribui para a otimização dos cuidados hospitalares melhorando a qualidade da farmacoterapia.
OBJETIVO: Avaliar os resultados obtidos no início da implantação do serviço de farmácia clínica na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Joao XXIII (HJXXIII) para identificação, avaliação e prevenção de problemas relacionados a medicamentos (PRMs).
MÉTODOS: Foi realizado um estudo observacional descritivo na UTI do HJXXIII, durante o mês de julho de 2016, no qual foi descrito e analisado os resultados obtidos após a implantação do serviço de farmácia clínica na UTI nos meses de março à maio de 2013.
RESULTADOS: Durante o estudo 80 pacientes foram acompanhados no período de março à maio de 2013. Analisou-se durante este período 447 prescrições médicas, sendo 100 em março,175 em abril e 172 em maio. O total de prescrição que gerou intervenção foi 257, sendo 82, 98 e 77 prescrições nos meses de março, abril e maio, respectivamente. Os PRMs encontrados totalizaram-se 282, sendo 102, 91 e 89 nos meses de março, abril e maio, respectivamente.
CONCLUSÕES: O serviço de farmácia clínica detectou vários problemas relacionados ao uso de medicamento, que levou a oportunidades de melhoria na farmacoterapia, contribuindo para a segurança do paciente.

Palavras-chave: Assistência Farmacêutica; Serviço de Farmácia Hospitalar; Uso de Medicamentos; Segurança do Paciente.

 

INTRODUÇÃO

Atualmente os sistemas de saúde vêm se centrando em um modelo de cuidado voltado ao paciente, com atuações cooperativas e interdisciplinares nas quais as ações se voltam para as necessidades diretas do paciente. No serviço de farmácia clínica, o farmacêutico pode realizar o acompanhamento farmacoterapêutico: uma prática de atenção ao paciente que utiliza uma sequência racional de ações para monitorar a terapia medicamentosa e avaliar o cumprimento dos objetivos terapêuticos a que ela se propoe com efetividade e segurança. Estas ações objetivam alcançar os melhores resultados terapêuticos para o paciente através do uso racional de medicamentos, reduzir seu tempo de internação e melhorar sua qualidade de vida, com consequente minimização de custos, uma vez que os gastos com medicamentos têm uma grande participação orçamentária nas unidades hospitalares.1

Em meados de 2006, profissionais de saúde, iniciaram uma atividade de farmácia clínica piloto na UTI Geral do Hospital UNIMED de Joao Pessoa - PB. Em menos de três meses de atividades, gerou-se uma economia de mais de R$ 50.000,00 para o hospital,2 comprovando o impacto e a importância do farmacêutico clínico no âmbito hospitalar.

De acordo com estudos do Institute of Medicine (IOM), dos Estados Unidos, é comprovado que cerca de 100 mil mortes ocorrem anualmente por erros na assistência ao paciente, sendo 7.000 delas relacionadas aos medicamentos. Os custos associados a estes números são da ordem de U$ 77 bilhoes/ano.3

Muitas internações, atendimentos de urgência e agravos desenvolvidos durante a permanência do paciente no hospital guardam alguma relação com o uso de medicamentos, denominando esses desfechos negativos como Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRMs). Os PRMs são entendidos como eventos indesejáveis experimentados pelos pacientes que envolve ou suspeita-se que envolva sua farmacoterapia atual, interferindo nos resultados de saúde almejados pelo tratamento. Por este motivo, se fez necessária uma intervenção da farmácia clínica nos resultados do uso de medicamentos para os pacientes, com uma mudança de enfoque do medicamento para o indivíduo.

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), por meio da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 7, de 24 de fevereiro de 2010, regulamenta a presença e participação de farmacêuticos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), assim como está descrito em seu artigo 18: "Devem ser garantidos, por meios próprios ou terceirizados, os seguintes serviços à beira do leito: [...] III - assistência farmacêutica [...].4

Considerando a atual estrutura dos serviços de saúde e a situação econômica do país, a atuação do farmacêutico nas instituições hospitalares é de suma importância para garantir uma assistência farmacêutica adequada dentro de critérios técnico-científicos e utilizando mecanismos gerenciais para uma administração eficaz e racional.5,6

 

CASUISTICA

A UTI é um excelente local para atuação do farmacêutico clínico, já que traduz em uma unidade de corpo clínico fechado, o que favorece a intervenção da farmácia junto à equipe multidisciplinar. O farmacêutico intensivista representa segurança para os pacientes usuários de medicamentos, referências para as equipes multiprofissionais e economia para os hospitais.7

Por se tratar de um ambiente crítico, os pacientes comumente precisam de cuidados e acompanhamento intensivos, com necessidade de uso de muitos medicamentos, o que aumenta o risco de interações medicamentosas, sendo alguns de alto custo. Além disso, como a maioria dos medicamentos é administrada pela via endovenosa, considerada a menos segura, o risco de infecções e de incompatibilidades na administração concomitante a outros fármacos aumenta, evidenciando a necessidade de um acompanhamento minucioso da farmacoterapia do paciente.

O Hospital Joao XXIII é credenciado ao Sistema Unico de Saúde (SUS) atua como centro de referência e excelência no atendimento a pacientes de todo o estado de Minas Gerais vítimas de politraumatismos, grandes queimaduras, intoxicações e situações clínicas ou cirúrgicas de risco de morte. A unidade de terapia intensiva do HJXXIII possui 48 leitos referentes à internação de adultos que exigem monitorização contínua por estarem em estado grave. A equipe multiprofissional é formada por médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, farmacêuticos, nutricionistas e assistente social, proporcionando um ambiente favorável para a atividade clínica.

A implantação do serviço de farmácia clínica estava prevista no planejamento estratégico da Assistência Farmacêutica. Em janeiro de 2013, foi implantada a farmácia clínica na UTI, um novo serviço, antes inexistente na UTI do Hospital Joao XXIII. Esta atividade foi viabilizada após a disponibilização de um farmacêutico com dedicação exclusiva para a farmácia clínica, motivo pelo qual este serviço contempla, hoje, o acompanhamento de 10 leitos.

O objetivo deste trabalho é acompanhar a implantação do serviço de farmácia clínica na UTI deste hospital, avaliando, através de dados coletados, a contribuição do farmacêutico clínico nos serviços de saúde prestados.

 

MÉTODOS

Foi realizado um estudo observacional descritivo na UTI do Hospital e Pronto Socorro Joao XXIII, durante o mês de julho de 2016, no qual foi descrito e analisado os resultados obtidos após a implantação do serviço de farmácia clínica entre os meses de março à maio de 2013.

Os pacientes contemplados pelo acompanhamento deste estudo foram referentes à internação nos boxes 1 ao 10. As atividades desempenhadas diariamente pelo farmacêutico no serviço de farmácia clínica, foram: análise técnica diária das prescrições; coleta de informações no SIGH e em prontuários médicos, como dados de exames laboratoriais e clínicos, anamnese clínica, evoluções dos profissionais de saúde; busca ativa de reações adversas (RAMs); participação das corridas de leito junto à equipe multidisciplinar; acompanhamento clínico dos pacientes e realização de intervenções farmacêuticas referentes aos PRMs identificados pela análise de prescrição. As intervenções que não puderam ser feitas durante as corridas de leito, foram comunicadas diretamente ao médico responsável ou anexadas no prontuário do paciente.

A análise técnica das prescrições médicas foi realizada baseada em busca de informações disponíveis nos bancos de dados Micromedex® e Uptodate®. Foram avaliadas as doses dos medicamentos prescritos, a via de administração, a velocidade de infusão e avaliados os diluentes. Além disso, foi feita a avaliação de possíveis interações medicamentosas. Para o controle do tempo de uso de antimicrobianos, utilizou-se informações do sistema informatizado do hospital.

Os PRMs encontrados durante as análises de prescrições e corridas de leito foram classificados utilizando a metodologia PW (Pharmacist's Workup), desenvolvida no ano de 1988 por Strand, Morley e Cipolle na Universidade de Minnesota, EUA.8 Este método permite avaliar se na prescrição médica há algum PRM relacionado com indicação, efetividade e segurança e, caso exista, classificá-lo de acordo com a técnica definida e, posteriormente, promover a intervenção farmacêutica.

As ocorrências não relacionadas aos medicamentos e sim com a falta de informação na prescrição médica, como ausência de especificação de diluente ou velocidade de infusão, foram classificadas como problemas de redação da prescrição médica.

Para a consolidação dos problemas encontrados nas análises de prescrições e no acompanhamento dos pacientes, foi criada uma planilha de Excel denominada "Acompanhamento Farmacêutico quanto Avaliação das Prescrições Médicas", que permite avaliar o número total e porcentagem de intervenções aceitas e não aceitas relacionadas aos PRMs; número total e porcentagem de intervenções aceitas e não aceitas, relacionadas à redação de prescrição; número total e porcentagem de prescrições avaliadas com problemas relacionados à escolha de diluente e velocidade de infusão inadequada, mas que não farao parte da comunicação para a equipe médica; número total e porcentagem de intervenções relacionadas aos PRMs não realizadas devido ao óbito ou transferência de paciente; número total e porcentagem de intervenções relacionadas à inadequação de prescrição não realizada devido ao óbito ou transferência de paciente; número total de intervenções relacionadas à PRMs; número total de intervenções relacionadas à redação da prescrição; número de intervenções por cada problema de redação da prescrição (prescrição sem especificação de via de administração, frequência de administração, diluente e respectivo volume, volume e velocidade de infusão, e outros) e total de prescrições por cada PRM encontrado.

As ocorrências relacionadas à escolha de diluentes e velocidade de infusão inadequada fizeram parte das intervenções comunicadas diretamente à equipe médica, até o dia vinte de março de 2013 e, após esta data, fez parte apenas da análise das prescrições e não da intervenção farmacêutica. Isto se deve a um acordo realizado junto à coordenação da UTI do hospital que decidiu que este tipo de problema deveria ser abordado apenas através da divulgação de boletins informativos e cartazes distribuídos na UTI e nas farmácias satélites, sem necessidade de notificação da equipe.

O controle da aceitação ou não das intervenções pela equipe médica foi feito através da avaliação da prescrição do dia seguinte. Caso não fosse aceita, era identificado o motivo e registrado na planilha de "Acompanhamento Farmacêutico quanto Avaliação das Prescrições Médicas", em campo específico.

 

RESULTADOS

Durante o estudo 80 pacientes foram acompanhados no período de março à maio de 2013. Foram analisadas durante este período 447 prescrições médicas, sendo 100 em março, 175 em abril e 172 em maio. O total de prescrição que gerou intervenção foi 257, sendo 82% (n=82), 56% (n=98) e 45% (n=77) prescrições nos meses de março, abril e maio, respectivamente.

Os PRMs identificados totalizaram-se em 278, sendo 102, 91 e 85 nos meses de março, abril e maio respectivamente.

O total por tipos de PRMs encontrados nos meses de março, abril e maio de 2013 foi respectivamente: PRM-indicação 11, 7 e 5; PRM-efetividade 51, 40 e 52 e PRM-segurança 40, 44 e 28 (Tabela 1).

 

 

Os tipos de PRMs encontrados e suas frequências estao apresentados na tabela 2. Sendo eles: diluição e ou taxa de infusão 64% (n=178), dose 12% (n=32), medicamento inapropriado/desnecessário 11% (30), apresentação e/ou forma farmacêutica 6% (n=16), necessidade de medicamento adicional 3% (n=9), intervalo de administração 3% (n=7), interação medicamentosa 1% (n=3), outros <1% (n=3).

 

 

Foram realizadas 371 intervenções farmacêuticas, sendo 124 no mês de março, 124 em abril e 123 em maio. No total foram realizadas 202 intervenções comunicadas diretamente à equipe médica, sendo que 106 foram aceitas e 96 foram não aceitas (Tabela 3). As intervenções aceitas foram distribuídas em 41 no mês de março, 20 no mês de abril e 45 no mês de maio. As intervenções não aceitas foram 51 para o mês de março, 24 para o mês de abril e 25 para o mês de maio.

 

 

As intervenções farmacêuticas também foram realizadas de forma indireta, correspondendo a 154 intervenções, que não puderam ser mensurável a sua aceitabilidade, por tratar de ação educativa. Deste total, 58 intervenções foram relacionadas à diluição e 96 à velocidade de infusão inadequada. Observou-se que do total dos problemas não comunicados à equipe, 10 ocorreu em março, 37 em abril e 11 em maio. Vale ressaltar que somente até o dia 20 de março, estas comunicações eram realizadas de forma direta à equipe médica e, após esta data, passaram a ser feitas de forma indireta. Foram elaborados informativos sobre diluição e velocidade de infusão, recomendadas pela literatura, daqueles medicamentos que apresentaram maior frequência de erros nas prescrições avaliadas.

Por fim, do total das 371 intervenções encontradas, 12 não foram comunicadas à equipe devido à transferência do paciente de setor/hospital ou a óbito, sendo estas, respectivamente, 10 no mês de março, 1 no mês de abril e 1 no mês de maio.

 

DISCUSSÃO

Com o desenvolvimento deste estudo, observou-se que as prescrições da ala C da UTI do HPS Joao XXIII apresentaram, rotineiramente, diversos problemas relacionados aos medicamentos. As intervenções farmacêuticas realizadas mostraram-se importantes para a redução do número de prescrições identificadas com problemas de indicação, efetividade e segurança dos medicamentos, contribuindo para redução dos erros de medicação. Os erros de medicação são a principal causa de eventos adversos no ambiente hospitalar podendo estes ser prevenidos. Além disso, as intervenções com objetivo de prevenir tais erros apresentam probabilidade de gerar redução de custo.9

Através do estudo desenvolvido por Winterstein et al.10, foi indicado que 72% dos erros de medicação foram iniciados durante a prescrição, seguidos pela administração (15%), pela dispensação (7%) e pela transcrição (6%), demonstrando que esses incidentes podem estar relacionados à prática profissional, aos produtos, aos procedimentos ou aos sistemas. Estes dados comprovam, mais uma vez, a importância do profissional farmacêutico na conduta de estabelecimento do elo entre o paciente e o medicamento, responsabilizando-se pela racionalidade e segurança terapêutica.11

Identificamos que os problemas relacionados com a diluição e velocidade de infusão dos medicamentos foram a maioria dos problemas identificados, correspondendo a 64% dos PRMs. Este dado chamou atenção, pois difere dos resultados encontrados em estudo semelhante realizado por Reis et al.9, em um hospital universitário terciário do Brasil, no qual os problemas relacionados com a diluição/velocidade de infusão correspondeu a <que 1% dos problemas identificados. Verificamos que este problema se deve, em grande parte, pela não parametrização do sistema informatizado no que diz respeito a informar os diluentes/velocidade de infusão recomendados para os medicamentos prescritos, e pela falta de domínio dos prescritores referente às informações corretas de diluição e velocidade de infusão recomendados pelas referências. Em grande parte das prescrições avaliadas, por exemplo, foi encontrada a indicação de água bidestilada como diluente e velocidade de infusão como "bolus", sendo que para a grande maioria dos medicamentos prescritos, a água bidestilada não era o diluente mais recomendado e muito menos deveriam ser administrados em "bolus" e sim, de forma mais lenta.

Os PRMs relacionados com dose foram o segundo problema mais frequente. Um estudo realizado por Franklin et al. 12, o farmacêutico realizava a individualização da farmacoterapia por meio da identificação de PRMs, e os mais prevalentes identificados respectivamente foram dose e posologia. Outros estudos também identificaram a necessidade de ajuste de dose como erro de medicação mais frequente.13,14

A população estudada trata-se de pacientes críticos, e nessa população é alta a incidência de ajuste de dose devido ao fato dos pacientes apresentarem insuficiência renal aguda, atingindo 23% dos pacientes, justificando, assim, a necessidade do ajuste de dose.15

Observou-se prevalência elevada com os medicamentos inapropriados/desnecessários. Vale ressaltar que os pacientes críticos fazem uso de polifarmácia o que pode levar a uma maior prevalência de medicamentos desnecessários ou inapropriados. Uma revisão feita por LaPointe e Jollis,16 apresentou medicamento incorreto (36%) e dose incorreta (35,3%), como erros de medicação mais frequente, semelhante aos resultados encontrados no HJXXIII, no que diz respeito aos problemas mais prevalentes identificados.

Nas intervenções farmacêuticas realizadas (n=371) pelo farmacêutico observou-se o aumento significativo da aceitação pela equipe médica, comparando os três meses de estudo. No mês de maio a aceitação das intervenções atingiu o valor de 68%. Verificamos que parte da não aceitação se deve ao fato do médico "se esquecer" de modificar a prescrição ou modificá-la somente manualmente na via da enfermagem, permanecendo o problema no dia seguinte ao fazer a cópia da prescrição no sistema informatizado. Os dados encontrados, em relação à aceitabilidade, estao dentro da faixa demostrada por estudos semelhantes. Estudo realizado por Charpiat et al.17, a taxa de aceitação foi de 47%; outro estudo realizado por Neri, em um hospital universitário do Ceará, demonstrou aceitabilidade de 88,66% das intervenções farmacêuticas realizadas durante 1 mês.18

Identificou-se que, com a implantação do serviço e integração do farmacêutico clínico junto à equipe multiprofissional, houve um aumento gradativo na aceitação das intervenções por parte da equipe médica, o que contribuiu, de forma significativa, para a melhoria dos resultados clínicos.

A atuação da farmácia clínica e os problemas identificados foram discutidos junto com a equipe médica, e através destas discussões, foram levantadas várias oportunidades de melhoria do serviço, no qual foi elaborado e disponibilizado para a equipe médica um manual com informações sobre diluição/estabilidade/velocidade de infusão dos medicamentos utilizados na Unidade de Terapia Intensiva; foram elaborados modelos de soluções padroes das aminas vasoativas e dos medicamentos utilizados em sedação, para servir de parâmetro no momento da prescrição. Também foi identificada a necessidade de levantar as incompatibilidades de medicamentos injetáveis e, com isto, gerou um treinamento e disponibilização de tabela com as incompatibilidades identificadas nas prescrições para a equipe de enfermagem.

Este estudo apresenta limitações, portanto, a prevalência de PRMs e as intervenções farmacêuticas realizadas podem não refletir a realidade da Unidade de Terapia Intensiva, pois a média mensal de prescrições atendidas por este setor é de 2902, já a média de prescrições analisadas, por mês, foi 149, que correspondeu a 5% do total de prescrições geradas nesta unidade.

O impacto da presença do farmacêutico clínico já é comprovado, também, na economia financeira de instituições. Um estudo demonstrou que o custo para a instituição em um período de 4 a 5 meses, sem a presença do farmacêutico clínico na UTI, teria um acréscimo de 209.000 a 280.000 dólares. A maior parte dos custos evitados foi gerada a partir das intervenções feitas em participação em rounds e em revisão de prontuários.19,20

O serviço de farmácia clínica encontra-se em processo de avanço no Brasil. A análise da farmacoterapia, o acompanhamento do paciente pelo farmacêutico clínico e sua interação junto à equipe multidisciplinar, demonstrou ser importante para detecção e prevenção de problemas relacionados ao uso de medicamentos.

 

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que o serviço de farmácia clínica detectou vários problemas relacionados ao uso de medicamento, levando a oportunidades de melhoria na farmacoterapia do paciente, no que diz respeito à necessidade, efetividade e segurança dos medicamentos.

A interação multidisciplinar se torna muito importante no ambiente de Unidade de Terapia Intensiva, pois se trata de uma unidade no qual os pacientes são críticos, submetidos a vários procedimentos, e que necessitam de polifarmácia. Neste sentido, a atuação do serviço de farmácia clínica na detecção dos problemas relacionados ao uso de medicamentos e intervenção junto a equipe multidisciplinar, contribui para a garantia do acompanhamento da sua terapia medicamentosa, a fim de promover o uso seguro e racional dos medicamentos, contribuindo para a segurança do paciente.

 

AGRADECIMENTOS

Nossos sinceros agradecimentos à Dra. Daniela Pagliari Oliveira, e ao Dr. Andre Luis Lacerda Gomes, que tornaram o nosso trabalho mais suave.

 

REFERENCIAS

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