RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 23. 3 DOI: https://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20130060

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Educação Médica

Similitudes em angiologia

Similarities in angiology

Francisco Reis Bastos1; Mariane Gandra2

1. Médico. Angiologista e Cirurgião Vascular. Belo Horizonte, MG - Brasil
2. Enfermeira. Belo Horizonte, MG - Brasil

Endereço para correspondência

Francisco Reis Bastos
E-mail: drfrbastos@hotmail.com

Recebido em: 10/11/2011
Aprovado em: 08/02/2012

Resumo

São descritos verbetes ou expressões populares usados para melhor explicar os fenômenos e as estruturas encontradas em Angiologia, de forma a trazer para a Medicina o usual da vida humana, para tornar fácil e prática a sua compreensão.

Palavras-chave: Angiologia; Educação Médica; Terminologia como Assunto.

 

INTRODUÇÃO

Faz parte da natureza humana comparar tudo o que vê. Comparando, entende-se e memoriza-se a vida. Desta forma, é mais fácil interagir com o mundo em que se vive. As comparações servem para explicar e são usadas desde Jesus Cristo, com suas parábolas famosas. Encontram-se semelhanças em Angiologia e também em outras especialidades da Medicina, como muito bem relata Andrade.1

 

A IMAGEM DO RATO

A indústria cinematográfica criou vários personagens de animais que se comportam como seres humanos. A imagem do famoso camundongo Mickey Mouse, criado por Walt Disney (Figura 1), é encontrada na virilha humana quando examinada ao ecodoppler venoso, composta de veia e artéria femorais e veia safena magna. A cabeça do rato é representada pela veia femoral de maior calibre e as orelhas do rato são representadas pela artéria femoral posicionada ao lado e pela safena magna colocada um pouco acima. É uma das primeiras imagens memorizadas pelo aprendiz de ultrassonografia.

 


Figura 1 - Imagem dos vasos inguinais ao ecodoppler.
Fonte: cedida pelo Dr. Adriano de Souza

 

Serve para localizar na região da junção safenofemoral ponto importante para conferir o fluxo e eventuais refluxos do sangue na rede venosa.

 

OLHO DE HORUS - O OLHO EGÍPCIO

Hórus era o deus egípcio do céu, filho de Osíris e Ísis. Tinha cabeça de falcão e os olhos representavam o sol e a lua. Olho de Hórus é um símbolo proveniente do Egito Antigo, que significa proteção e poder.

É curiosa a semelhança encontrada entre as várias fáscias que envolvem as veias safena magna ou safena parva no membro inferior (Figuras 2 e 3). A fáscia safena, anterior ao canal da safena, e a fáscia lata, posteriormente, fazem o contorno do olho de Hórus. A pupila é a veia safena. Tal semelhança gerou a imagem de capa do mais famoso livro de ecoescleroterapia com espuma, La Sclerotherapie2 de Gobin JP e Benigni JP.

 


Figura 2 - Veia safena entre aponeuroses.

 

 


Figura 3 - Desenho da capa do livro La Sclerotherapie: O olho de Hórus.2

 

PÉROLA NEGRA

As pérolas em geral são de cor branca. São geradas por moluscos, ostras, a partir de um grão de areia. As pérolas negras são as mais raras encontradas na natureza. Podem ser cultivadas, chamada Pinctada Margaritifera, também conhecida como ostra-dos-lábios-negros. Para que uma pérola negra seja gerada, é necessário inserir na ostra um núcleo de outro molusco. O molusco vai irritar-se e cobrir o núcleo com o nácar da cor negra.

No corpo humano, quando uma veia dérmica dilata-se, ela se torna aneurismática e toma a forma da pérola negra, ou seja, arredondada. Tais pequenos aneurismas constituem ponto de grande fragilidade que podem se romper e gerar importantes hemorragias. Imagine-se tal sangramento dentro de um banheiro quando a pessoa está tomando banho. O sangue fluirá e não será percebido, pois tem a mesma temperatura da água do banho. Pode levar a tanta perda de sangue que causará queda da pressão sanguínea e desmaios e suas consequências desagradaveis.(Figura 4).

 


Figura 4 - Pequeno aneurisma representado pela pérola negra.

 

Hoje, tais pérolas podem ser tratadas com ecoescleroterapia com espuma e compressão.

 

FERRUGEM

As manchas hipercrômicas são características próprias de quem tem insuficiência venosa crônica. As manchas escuras surgem em quem se submete a tratamento cirúrgico ou à ecoescleroterapia com líquidos ou espumas. As manchas hipercrômicas, chamadas de ferrugem, surgem também em pessoas que ainda não se submeteram a algum tratamento (Figura 5). Decorrem de insuficiência venosa crônica em que há facilidade da hemácia (hemoglobina) intravenosa migrar de dentro para fora da veia. Nesse caso, a parede venosa é mais frágil e fina. A hemoglobina se transformará em hemossiderina, que tem tropismo pela camada mais profunda da pele, onde se fixa como tatuagem da cor da ferrugem, o óxido de ferro. Os casos mais graves são representados pela dermite ocre de Fabre e Chaix.

 


Figura 5 - Manchas hipercrômicas com varizes.

 

Essas manchas tendem a desaparecer quando a insuficiência venosa crônica for bem controlada e com tratamentos dermatológicos. Ao venoscópio podem ser vistas pequenas varizes que devem ser tratadas com ecoescleroterapia com venoscópio de luz LED.

 

TÁBUA DE TIRO AO ALVO

A reação de uma veia quando é submetida ao tratamento escleroterápico é muito interessante. A espuma destrói o epitélio e adere à camada média da veia que responde prontamente com um edema visível ao ecodoppler. Esse edema em anel gera uma imagem similar a uma tábua de tiro ao alvo. As camadas mais centrais permanecem com alguma bolhas e as camadas mais externas demonstram o edema causado pelo inicio da reação cicatricial. Em francês, fala-se em "cocarde". 3 (Figura 6).

 


Figura 6 - Veia tratada com espuma mostrando camada média edemaciada.

 

HEMANGIOMA EM RUBI

Rubi é uma pedra preciosa vermelha, variedade do mineral corindon (óxido de alumínio) cuja cor é causada principalmente pela presença de crômio, originado da África, Ásia e na Austrália. A aparência cutânea de lesões angiomatoides é designada de hemangioma em rubi, por sua similaridade extraordinária com essa pedra (Figura 7).

 


Figura 7 - Hemangioma em rubi.

 

CONCLUSÃO

Esse relato foge da sistemática científica, mas pretende servir ao ensino da Angiologia e mesmo da Medicina, tornando mais fácil as explicações dos fenômenos fisiopatológicos em Angiologia, o que facilita sua memoriazação. São relatadas imagens de ratos, olhos, pérolas e ferrugens relacionadas ao corpo humano.

 

REFERÊNCIAS

1. Andrade Filho JS. Analogias em Medicina - parte I. Rev Med Minas Gerais. 2008 jul/set;18(3):220-4.

2. Gobin JP, Benigni JP. La sclérothérapie. Paris: Editions ESKA; 2007.

3. Bastos FR. Escleroterapia com espuma Belo Horizonte: Folium; 2012.