ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Psoríase artropática eritrodérmica: rápida remissão com secuquinumabe
Erythrodermic psoriatic arthritis: quick remission with secukinumab
Hudson Dutra Rezende1; Ana Carolina Xavier Milagre2; Ana Paula Moura de Almeida3; Luiz Clovis Bittencourt Guimaraes4
1. Médico Residente da Dermatologia no Hospital Escola Alvaro Alvim, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil
2. Médica Residente da Dermatologia no Hospital Escola Alvaro Alvim, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil
3. Dermatologista, Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Preceptora do Programa de Residência Médica de Dermatologia do Hospital Escola Alvaro Alvim, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil
4. Reumatologista, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Hospital Escola Alvaro Alvim. Professor Titular da Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina de Campos, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil
Hudson Dutra Rezende
E-mail: hudsondutra@live.com
Recebido em: 22/06/2017.
Aprovado em: 05/07/2017.
Instituiçao: Hospital Escola Álvaro Alvim. Campos dos Goytacazes, RJ - Brasil.
Resumo
Entre 20% e 30% dos pacientes com psoríase vulgar têm formas exuberantes que requerem terapia sistêmica. A imunobiologia representa um ramo promissor da farmacologia moderna e configura um dos grandes avanços da medicina atual. O secuquinumabe é um anticorpo monoclonal de imunoglobulina humana totalmente recombinante, recentemente introduzido no mercado, que atua neutralizando seletivamente a interleucina17-A e promove excelentes resultados no tratamento de casos moderados a graves de psoríase. Apresentamos uma paciente de 66 anos internada por psoríase artropática eritrodérmica e tratada com secuquinumabe sob regime de monoterapia. Houve melhora importante das lesões cutâneas após 6 semanas e resolução completa do quadro, inclusive da artrite, após 10 semanas de tratamento.
Palavras-chave: Artrite Psoriásica; Psoríase; Dermatite Esfoliativa.
INTRODUÇÃO
A psoríase vulgar, doença inflamatória crônica, afeta 1% a 3% da população geral e está frequentemente associada a comorbidades1 (artrite psoriática, doença inflamatória intestinal e distúrbios cardiometabólicos), causando grande impacto na qualidade de vida dos acometidos. Entre 20% e 30% dos pacientes com psoríase vulgar têm formas moderadas a graves que requerem terapia sistêmica2.
Níveis elevados de células que produzem interleucina-17A são encontrados na circulação, nas articulações e nas lesões cutâneas de pacientes com psoríase3 e seu papel na patogênese da doença é comprovado, sendo atualmente alvo de terapias moleculares aplicadas especialmente no manejo das formas graves. O secuquinumabe é um anticorpo monoclonal G1κ de imunoglobulina humana totalmente recombinante, de alta afinidade, que liga e neutraliza seletivamente a interleucina-17A4, promovendo excelente resposta terapêutica em curto prazo.
Os resultados alcançados com o secuquinumabe traduzem os benefícios da terapia anti-interleucina, os quais prometem modificar o cenário de condutas para os pacientes com psoríase cutânea moderada-grave. Apesar da pouca experiência dermatológica com o fármaco, ilustrada pela relativa escassez literária a seu respeito, grandes expectativas permeiam os estudos e relatos que o envolvem. Este trabalho visa demonstrar o sucesso terapêutico obtido com o secuquinumabe pelo relato de um caso.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, 66 anos, referia dor e edema do joelho direito há 9 meses, com prejuízo da marcha a despeito de tratamento ortopédico regular. Há 2 meses foi diagnosticada com pneumonia bacteriana e houve piora do quadro articular, tendo sido medicada com levofloxacino venoso (750 mg/dia) por 10 dias sob regime hospitalar. Duas semanas após a alta médica, apresentou febre, prostração e maculo-placas eritematosas e descamativas, não pruriginosas, inicialmente dispostas nos joelhos e posteriormente no tronco e nos membros superiores, quando foi novamente admitida para investigação apropriada (Figuras 1 e 2).
Na história pregressa relatou lesão única em cotovelo direito com os mesmos aspectos das lesões atuais, tratada com creme de betametasona, sem recidivas. Diabética e hipertensa, em uso de metformina, atenolol e losartana. Dos familiares, irmão com psoríase sob acompanhamento.
Dentre os exames realizados, foram dignos de nota: leucometria: 12.500 cel/mm3, VHS: 80 mm/h, pesquisa de células de Sézary no sangue periférico e teste tuberculínico negativos. A análise histopatológica de três fusos cutâneos revelou alterações típicas de psoríase eritrodérmica (Figura 3).
O cálculo do Indice da Area e Severidade da Psoríase (PASI) comprovou doença cutânea eritrodérmica e o secuquinumabe foi eleito para a indução da remissão, na dose subcutânea de 300 mg semanais (semanas 0, 1, 2, 3 e 4) e a manutenção realizada com 150 mg a cada 30 dias.
Houve melhora importante das lesões cutâneas após 6 semanas de terapia biológica e resolução completa do quadro, inclusive da artrite, após 10 semanas (Figuras 4 e 5). A paciente segue sob acompanhamento ambulatorial há 6 meses sem sinais de recidiva ou intercorrências.
DISCUSSÃO
Em 2015, o secuquinumabe foi aprovado para o tratamento de pacientes adultos com psoríase em placas moderada a grave nos Estados Unidos como agente de primeira linha2. Posteriormente, mais de 30 países, incluindo o Brasil, aprovaram essa estratégia de tratamento e vários resultados favoráveis foram publicados desde entao.
A maioria das publicações indicou a 12ª semana para avaliar a remissão cutânea pelo secuquinumabe. Os resultados de um ensaio de Fase III com secuquinumabe em doentes com psoríase, FIXTURE (Full Year Investigative Examination of Secukinumab versus Etanercept Using Two Dosing Regimens to Defect Effectiveness in Psoriasis), mostraram que secuquinumabe 300 mg e secuquinumabe 150 mg foram superiores ao placebo e ao etanercept4 e solidificam os excelentes resultados do caso relatado: remissão completa de lesões cutâneas e da artrite logo na décima semana de tratamento.
Em comparação a outros agentes imunossupressores, as terapias biológicas específicas são geralmente melhor toleradas5. O mesmo estudo FIXTURE anteriormente citado aponta nasofaringite, cefaleia e diarreia como eventos adversos comuns durante a terapia com secuquinumabe, no entanto, a paciente relatada neste caso permaneceu assintomática durante todo o seguimento.
A satisfação do paciente em relação ao tratamento é tipicamente baixa6, porém, o secuquinumabe promove um efeito positivo na qualidade de vida relacionada à saúde7. O estudo ERASURE (Efficacy of Response and Safety of Two Fixed Secukinumabe Regimens in Psoriasis) comparou secuquinumabe ao placebo e concluiu que a proporção de pacientes com o índice DLQI (Dermatology Life Quality Index) de 0 ou 1, indicando nenhum prejuízo na qualidade de vida relacionada à saúde, foi significativamente maior na 12ª semana1. A paciente deste artigo relatou ser muito mais capaz de executar suas atividades diárias após 10 semanas de tratamento.
REFERENCIAS
1. Garnock-Jones KP. Secukinumab: a review in moderate to severe plaque psoriasis. Am J Clin Dermatol. 2015;16(4):323-30.
2. Blauvelt A. Safety of secukinumab in the treatment of psoriasis. Expert Opin Drug Saf. 2016;15(10):1413-20.
3. Mease PJ, McInnes IB, Kirkham B, Kavanaugh A, Rahman P, van der Heijde D, et al.; FUTURE 1 Study Group. Secukinumab Inhibition of Interleukin-17A in Patients with Psoriatic Arthritis. N Engl J Med. 2015;373(14):1329-39.
4. Langley RG, Elewski BE, Lebwohl M, Reich K, Griffiths CE, Papp K, et al.; ERASURE Study Group; FIXTURE Study Group. Secukinumab in plaque psoriasis--results of two phase 3 trials. N Engl J Med. 2014;371(4):326-38.
5. Adami S, Cavani A, Rossi F, Girolomoni G. The role of interleukin-17A in psoriatic disease. BioDrugs. 2014;28(6):487-97.
6. Pathirana D, Ormerod AD, Saiag P, Smith C, Spuls PI, Nast A, et al. European S3-guidelines on the systemic treatment of psoriasis vulgaris. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2009;23 Suppl 2:1-70.
7. Blauvelt A, Prinz JC, Gottlieb AB, Kingo K, Sofen H, Ruer-Mulard M, et al.; FEATURE Study Group. Secukinumab administration by pre-filled syringe: efficacy, safety and usability results from a randomized controlled trial in psoriasis (FEATURE). Br J Dermatol. 2015;172(2):484-93.
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