RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 28. (Suppl.5) DOI: https://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20180117

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Artigo Original

O impacto da Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa) no aleitamento materno exclusivo na Maternidade Odete Valadares (referência Estadual da metodologia Canguru)

The impact of the Kangaroo Neonatal Intermediate Care Unit (UCINCa) on exclusive breastfeeding at the Odete Valadares Maternity (state reference of the Kangaroo methodology)

Gláucia Maria Moreira Galvao1; Rebeca Pagliaminuta Viana2; Lívia de Lima Bastos2; Roberta Maia de Castro Romanelli3; Maria Cândida Ferrarez Bouzada4

1. Médica Neonatologista. Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente. Fundaçao Hospitalar do Estado de Minas Gerais - FHEMIG. Tutora Estadual do Método Canguru do Ministério da Saúde. Belo Horizonte, MG - Brasil
2. Acadêmicas do curso de Medicina do Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH. Belo Horizonte, MG - Brasil
3. Médica Pediatra e Infectologista. Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente. Profa. Adjunta. UFMG, Faculdade de Medicina, Departamento de Pediatria. Hospital das Clínicas. Belo Horizonte, MG - Brasil
4. Médica Neonatologista. Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente. Profa. Associada. UFMG, Faculdade de Medicina, Departamento de Pediatria. Hospital das Clínicas. Consultora do Método Canguru do Ministério da Saúde. Belo Horizonte, MG - Brasil

Endereço para correspondência

Gláucia Maria Moreira Galvao
Maternidade Odete Valadares da Fundaçao Hospitalar do Estado de Minas Gerais - FHEMIG
Belo Horizonte, MG - Brasil
E-mail: gmmgbh@gmail.com

Resumo

INTRODUÇÃO: O Método Canguru, idealizado em 1979, na Colômbia, e introduzido no Brasil em 2000, é um modelo de assistência humanizada aos recém-nascidos de baixo peso que propicia a formação de maior vínculo com a família.
OBJETIVOS: avaliar o perfil de recémnascidos admitidos na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa) e a prevalência do aleitamento materno exclusivo (AME) à alta hospitalar em Maternidade de referência para o Método Canguru no Estado de Minas Gerais.
MÉTODOS: estudo retrospectivo, transversal, no qual se avaliou os prontuários médicos de 332 recém-nascidos que estiveram internados na UCINCa da Maternidade Odete Valadares (MOV) no período de abril de 2012 a novembro de 2017.
RESULTADOS: Foram avaliadas as taxas de AME em RN admitidos na UCINCa da MOV. A alta hospitalar, 271 (82,6%) dos bebês admitidos estavam em AME.
CONCLUSÕES: De acordo com o estudo, a Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa) demonstrou sua efetividade no estabelecimento do aleitamento materno exclusivo.

Palavras-chave: Aleitamento Materno; Método Canguru; Recém-Nascido de Baixo Peso.

 

INTRODUÇÃO

O Método Canguru originou-se em Bogotá, na Colômbia, no ano de 1979, como um modelo de assistência e humanização no atendimento aos recémnascidos de baixo peso e como uma estratégia de maior aproximação entre o recém-nascido e sua mae. O contato pele a pele do bebê (posição canguru) com a mae é um dos pilares do método e que favorece o estabelecimento de um maior vínculo afetivo entre ambos. Além disso, auxilia na regulação da temperatura corporal do bebê, no estímulo ao aleitamento materno e na redução da incidência de infecção.1,2 De acordo com o recomendado à época da idealização do método, o pré-termo receberia alta hospitalar precoce e o acompanhamento ambulatorial seria uma das recomendações essenciais no atendimento dos recém-nascidos, que em seus domicílios deveriam continuar realizando o contato pele a pele com a mae.2

No Brasil, o Ministério da Saúde, com o objetivo de reduzir a morbimortalidade neonatal, publicou a Norma de Atenção Humanizada ao Recém-nascido de Baixo Peso - Método Canguru, através da Portaria nº 693, de 5 de julho de 2000. Ela foi posteriormente atualizada pela Portaria nº 1.683, de 12 de julho de 2007. A partir desta publicação foram definidas as três etapas do Método Canguru no Brasil, sendo elas: 1ª etapa: quando há necessidade do recém-nascido (RN) permanecer na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e/ou Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal (UCINCo) há um estímulo para a presença constante dos pais no local e a realização do contato pele a pele com o bebê; 2ª etapa: o RN permanece com sua mae em Unidade de Cuidado Intermediário Canguru (UCINCa), realizando sempre que possível a posição canguru; 3ª etapa: inicia no momento da alta hospitalar até que o RN atinja o peso de 2500g e requer um cauteloso acompanhamento ambulatorial do RN e de sua família.2

O objetivo deste estudo é avaliar o perfil de recém-nascidos admitidos na UCINCa e a prevalência do aleitamento materno exclusivo (AME) à alta hospitalar em Maternidade de referência para o estado de Minas Gerais.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizado um estudo retrospectivo, transversal, no qual se avaliou os prontuários médicos de 332 recém-nascidos que estiveram internados na UCINCa da Maternidade Odete Valadares da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (MOV/FHEMIG) no período de abril de 2012 a novembro de 2017.

Foram incluídos todos os recém-nascidos de baixo peso nascidos que permaneceram internados na UCINCa no período.

Durante o período em que os recém-nascidos permaneceram na UCINCa, as maes e também os pais, quando presentes, eram estimulados a realizarem pelo maior tempo possível a posição Canguru. As informações demográficas, sobre pré-natal e periparto da mae, sobre o recém-nascido, aleitamento materno à alta hospitalar e realização da posição Canguru foram registrados em protocolo próprio pelo profissional de saúde ao receber o RN na UCINCa e no momento da alta hospitalar.

O desfecho considerado foi o aleitamento materno exclusivo à alta da UCINCa. Foram realizadas análises descritivas com frequência para variáveis categóricas e medidas de tendência central (média, mediana, desvio padrao-±DP, amplitude) para variáveis quantitativas. Para análise comparativa foi utilizado qui-quadrado para comparação de variáveis categóricas e test-t e Mann-Whitney respectivamente, para comparação de variáveis quantitativas com distribuição normal e anormal. A significância estatística foi considerada quando p≤0,05. A base de dados foi construída em Excel (versão 2007) e análise estatística realizada pelo Statistical Package for Social Sciences (SPSS v.22.0).

O projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da FHEMIG em 30 de julho de 2014, parecer nº. 732.585 e Gerência de Ensino e Pesquisa parecer técnico nº 077/2014. Solicitado Emenda em junho de 2018, com aprovação do CEP no dia 28 de junho de 2018, nº do parecer 2.742.128.

 

RESULTADOS

Na MOV/FHEMIG nasceram no período do estudo 22.443 RN, com 2.814 RN menores que 2.500 g (12,54%); desses, 332 (11,7%) foram para UCINCa.

Dos 332 RN que permaneceram na UCINCa, 115 vieram encaminhados da UTIN. Os demais RN recebidos na UCINCa foram provenientes da UCINCo e, em menor proporção, do Alojamento Conjunto, quando apresentavam perda ponderal progressiva.

Neste estudo, os RN permaneceram internados na UCINCa em média 9,5 dias, com mediana de 8,0 dias. A média de ganho de peso foi de 17,45 g/dia, com mediana de 15,83 g/dia (Tabela 3). As maes que apresentavam escolaridade acima de 8 anos correspondiam a 61,5% e 95,8% realizaram pré-natal (Tabela 1). Quanto à procedência, 74,4 % das maes eram provenientes de Belo Horizonte e Regiao Metropolitana e 25,6% de outras localidades (interior do Estado e outros Estados) (Tabela 1). A média de idade das maes foi de 26,86 anos, com mediana de 26,00 anos e idade mínima de 14 anos e máxima de 46 anos (Tabela 2). Outras características do perfil materno e dos RN admitidos na UCINCa encontram-se presentes nas Tabelas 1, 2 e 3.

 

 

 

 

 

 

A alta hospitalar, a maioria dos bebês admitidos estava em AME (Tabela 4).

 

 

DISCUSSÃO

O Método Canguru foi implantado no Brasil com o intuito de reduzir os impactos dos efeitos negativos da internação neonatal sobre os RN de baixo peso e suas famílias. É um método que inclui desde o controle ambiental (como os cuidados com ruídos, luminosidade), como o controle da dor, manuseio do bebê e com as suas demandas individuais, a acolhida da família, o estímulo ao desenvolvimento do vínculo mae/bebê e ao aleitamento materno, até o acompanhamento ambulatorial do RN e sua família após a alta hospitalar.3 Assim, podemos inferir que o método possui um papel essencial na humanização da assistência aos RN de baixo peso, além de ser apontado como um recurso que rompeu barreiras na formação do vínculo entre os pais e os filhos nascidos prematuramente e na promoção do aleitamento materno.

O Método apresentou-se como uma ferramenta eficaz no aumento das taxas de aleitamento materno em recémnascidos de baixo peso.4 Isso foi constatado pelo resultado obtido no presente estudo, em que 271 (82,6%) dos recémnascidos avaliados apresentaram alta hospitalar em AME após a permanência na UCINCa. O modelo assistencial humanizado do método, que recomenda o contato íntimo pele a pele entre a mae e o bebê, a presença constante da mae junto ao seu filho e que valoriza o cuidado materno, é um grande incentivo ao aleitamento materno.4

De acordo com Colameo e outros autores (2007) e Casati e colaboradores (2010), o estabelecimento precoce do aleitamento materno possui uma função benéfica significativa em relação ao futuro dos recém-nascidos de baixo peso, uma vez que auxilia na redução da perda de peso. Além disso, ajuda também na redução da bilirrubina não conjugada, na elevação do nível de glicose no sangue e contribui para o desenvolvimento neurológico e intelectual. 5,6

A amamentação dos RN pré-termos é uma questao que merece atenção especial por parte dos profissionais de saúde. O nascimento de bebês pré-termo, ou seja, com idade gestacional menor que 37 semanas, associase muitas vezes à necessidade de permanência do RN na UTIN, principalmente se menor que 34 semanas e com peso menor que 1500g, e também gera angústia e ansiedade nos pais. Com isso, pode ocorrer uma interferência na formação do vínculo mae/bebê, e consequentemente, na promoção do aleitamento materno.7

 

CONCLUSÃO

A permanência do recém-nascido na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa) colabora para o estabelecimento do aleitamento materno exclusivo à alta hospitalar e deve ser incentivado.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à FAPEMIG, pelo incentivo à produção científica e pela viabilização de bolsas de iniciação científica aos acadêmicos participantes dos projetos de iniciação científica em desenvolvimento nas instituições da Rede FHEMIG.

 

REFERENCIAS

1. Javorski M, Caetano LC, Vasconcelos MGL de, Leite AM, Scochi CGS. As representações sociais do aleitamento materno para maes de prematuros em Unidade de Cuidado Canguru. Rev Latinoam Enferm. 2004; 12(6):890-8.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso: Método Canguru: manual técnico. 3 ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde. 2017; 340 p.: iL.

3. Lamy ZC, Gomes MASM, Gianini NOM, Hennig MAS. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso. Método Canguru: a proposta brasileira. Ciênc Saúde Colet. 2005; 10(3):659-68.

4. Almeida H, Venancio SI, Sanches MTC, Onuki D. Impacto do Método Canguru nas taxas de aleitamento materno exclusivo em recém-nascidos de baixo peso. Rio de Janeiro: J Pediatr. 2010; 86(3):250-3.

5. Marques CRG, Neris ILF, Carvalho MVA, Menezes MO, Ferrari YAC. Metodologia Canguru: benefícios para o recém-nascido pré-termo. Caderno de Graduação - Ciências Biológicas e da Saúde - UNIT. 2016; 3(3):65-78.

6. Santos MH, Filho FMA. Benefícios do Método Mae Canguru em recém-nascidos pré-termo ou baixo peso: uma revisão da literatura. Universitas: Ciências da Saúde. 2016; 14(1):67-76.

7. Cruz MR, Sebastiao LT. Amamentação em prematuros: conhecimentos, sentimentos e vivências das maes. Disturb Comun. 2015; 27(1).

8. Lamy ZC, Gomes MASM, Gianini NOM, Hennig MAS. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso. Método Canguru: a proposta brasileira. Ciênc Saúde Colet. 2005; 10(3):659-68.