RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 30 e-30102 DOI: https://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20200028

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Artigo Original

Perfil sociodemográfico e educacional do estudante ingressante no curso de graduação em medicina de 2004 a 2013: analise documental

Socio-demographic profile and educational student newcomer course of graduation in medicine 2004 to 2013: documentary review

Suzana Maria Menezes Guariente1; Maria Helena Dantas de Menezes Guariente2; Aluana Moraes3

1. Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR - Brasil (bolsista PROIC/UEL)
2. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Universidade Estadual de Londrina, PR- Brasil (docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
3. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Estadual de Londrina.Londrina, PR - Brasil (Enfermeira).

Endereço para correspondência

Aluana Moraes
E-mail: aluanamoraes@hotmail.com

Recebido em: 25/05/2016
Aprovado em: 05/06/2017

Instituição: Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR - Brasil

Resumo

INTRODUÇÃO: O curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina no ano de 2013 completou 15 anos da implantação do ensino por problemática, uma metodologia de ensino ativa. A cada ano, 80 estudantes ingressam no curso, por meio do vestibular, sistema de seleção que tem sofrido alterações em seu formato como a implementação e ampliação da política de cotas raciais e sociais.
OBJETIVO: analisar o perfil socioeconômico e educacional dos estudantes ingressantes no curso de Medicina da UEL entre os anos de 2004 e 2013.
METODOLOGIA: Pesquisa descritiva do tipo documental, com abordagem quantitativa, pela análise das informações do questionário respondido pelos estudantes ingressantes no curso de medicina.
RESULTADOS E DISCUSSÕES: Verificou-se taxas crescentes do ingresso de estudantes do sexo feminino, em especial no ano de 2006 com predomínio de 59,3% de mulheres, confirmando o fenômeno da "feminilização da profissão médica". A renda familiar até 2012, na média, girava em torno de 7 a 10 salários mínimos, situação que se modificou em 2013, ano do acréscimo na porcentagem das cotas para estudantes de escola pública e racial, apresentando a renda de 1 a 3 salários mínimos. O acesso à internet pelos ingressantes é um instrumento de comunicação corriqueiro, o que vem potencializar o método de ensino preconizado.
CONCLUSÃO: Reconhecer o perfil do estudante ingressante pode contribuir na formação qualificada, por meio de estratégias, que visem ao melhor aproveitamento e adaptação do discente durante o curso de graduação e consequentemente no alcance do profissional delineado e necessário ao mundo da saúde da atualidade.

Palavras-chave: Medicina; Estudantes de Medicina; Educação; Características da População

 

INTRODUÇÃO

A graduação de Medicina trata-se, no Brasil, de um curso integral, em regime de seis anos, que objetiva a formação do profissional médico que atue no processo saúde-doença e em todos os contextos que perpassam por ele. Atualmente, existe mais de 180 escolas médicas regulamentadas no Brasil, e na cidade de Londrina/Paraná a primeira escola médica foi a da Universidade Estadual de Londrina (UEL), fundada no ano de 1967. O curso de Medicina da UEL passou por diversas reformas curriculares até chegar a mais recente que ocorreu no fim da década de 1990 com a implementação do Aprendizado Baseado em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning (PBL).1

Tal estratégia adotada preanunciou as exigências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (Lei nº 9.394/1996) e das Leis de Diretrizes Curriculares publicadas em novembro de 2001 que regulamentavam as graduações de Medicina no Brasil na década de 90. A estruturação do PBL, método adotado de forma pioneira pelas Universidades de Maastricht (Holanda) e MacMaster (Canadá), baseia-se na formação integral do aluno de medicina por meio de metodologias ativas em que o discente é sujeito ativo na busca do conhecimento e na resolução dos objetivos estabelecidos. Nas metodologias ativas, o estudante é o ator principal do processo de educação, que é dinâmico e estimula a construção do conhecimento por meio de uma aprendizagem crítica e autônoma.2

Valoriza-se toda a vivência adquirida pelo acadêmico e compreende-se que ele é mais predisposto a aprender quando passa por uma necessidade de identificar algo para si próprio e para sua prática.2 Para que o aluno estude no curso de Medicina da UEL, assim como nas outras escolas médicas, deve passar por um processo seletivo como o vestibular. Por se tratar de um curso universitário de elevado prestígio social e estar situado em uma instituição de ensino pública reconhecida, a concorrência é significativa, o que o tornou o curso mais procurado da UEL nos últimos anos. Em virtude deste contexto, pode-se afirmar que o acadêmico de Medicina chega à Universidade após um período estressante, representado pelo concurso vestibular, no entanto sentindo-se vitorioso pelo sucesso alcançado.3

Diante de um curso de graduação que no ano de 2013, completou 15 anos da implementação do método de educação, o PBL, tornando o curso de Medicina da UEL referência no ensino médico no país nos últimos anos e no qual o aluno tornou-se figura central do processo educacional, reconhece-se a importância de se conhecer o perfil do aluno ingressante, a fim de proporcionar condições pertinentes à realização integral da graduação pelo discente. Ademais reforça a relevância de que para qualquer atuação por parte das instituições formadoras ou mesmo dos docentes, na formação de um profissional apto ao mercado de trabalho, torna-se necessário identificar ou caracterizar o seu perfil no momento do ingresso no curso de graduação, pois assim possibilitará o aprimoramento dos projetos pedagógicos tendo em vista atender às necessidades sociais.4

Diante disto buscou-se responder a seguinte pergunta: Quais as características dos estudantes ingressantes do curso de Medicina da UEL segundo as condições sócio demográficas, econômicas e as características educacionais? Teve-se, portanto, como objetivo descrever o perfil dos ingressantes no período de 2004 a 2013.

 

METODOLOGIA

Trata-se de pesquisa descritiva do tipo documental, com abordagem quantitativa, realizado com alunos ingressantes no Curso de Medicina da UEL. O Curso de graduação em Medicina da UEL tem o Colegiado do Curso como instância para o suporte acadêmico e pedagógico. Sendo que propõe instrumentalizar o aluno à prática pedagógica e de investigação oferecendo disciplinas básicas e clínicas.5 Os dados foram coletados a partir do questionário respondido pelos alunos ingressantes em Medicina, junto a Pró Reitoria de Planejamento (PROPLAN/UEL) responsável pela organização e disseminação das informações. Este instrumento consta de questões fechadas sobre as variáveis sociais, demográficas, econômicas, familiares e educacionais do aluno.

Os dados foram coletados por uma única pesquisadora, entre o período de setembro a dezembro de 2013. Para a coleta dos dados foram incluídos todos os questionários respondidos pelos ingressantes no curso de medicina do período de 2004 a 2013. Não houve exclusão de questionários. A análise dos dados foi realizada por meio do programa Epi Info 2003. Os dados foram apresentados nesta pesquisa e organizados, ao longo dos anos investigados, possibilitando a demonstração por meio de tabelas. Este estudo faz parte de pesquisa com apoio financeiro da Fundação Araucária e do Governo do Estado do Paraná/SETI, contemplado na Chamada Projetos 05/2011, convênio 279/2012, submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da UEL com parecer favorável nº 339/2011. A pesquisa respeitou todos os preceitos éticos e atendendo a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados todos (100%) os questionários respondidos pelos acadêmicos, totalizando 814, entre os anos de 2004 a 2013. A tabela 1 apresenta os dados socioeconômicos dos estudantes de Medicina, os quais possuem as variáveis, sexo, idade, naturalidade, cor e raça, e estado civil. A tabela 2 demonstra os dados educacionais dos acadêmicos de Medicina, com as variáveis: motivo que escolheu o curso; expectativa em relação ao curso universitário; nível de instrução do pai; nível de instrução da mãe;

 

 

Com relação ao sexo dos ingressantes do curso de Medicina da UEL, durante os anos de 2004 a 2013, ficou evidenciado que a distribuição de vagas entre mulheres e homens é praticamente igual, o que pode ser exemplificado com os seguintes valores, respectivamente para o sexo feminino e masculino, nos anos de 2004 com 51,2% e 48,7% e de 2013 com 47,5% e 52,5%. Constata-se que no ano de 2006, o sexo feminino predominou com 59,3%.

Estes resultados corroboram a ocorrência do fenômeno conhecido por "feminilização da profissão médica" apontado com frequência pela literatura acerca deste tema.6 Na virada para o século XXI, é voltada a atenção para o fato de praticamente 50% do quadro estudantil estar constituído por mulheres.6,7 Outro estudo mais recente, confirma o aumento da demanda feminina nos cursos da saúde em especial a Medicina devido a uma tendência crescente da participação feminina na medicina vem há algumas décadas ocorrendo em diversos países.8

Acerca às etnias dos estudantes ingressantes de Medicina na UEL no período de 2004 a 2012, percebe-se uma constante, sendo interessante ressaltar o número expressivo da etnia amarela, que apresentou valores oscilados entre 11,2% (2004) e 17,5% (2005). Este fenômeno pode ser explicado pelo fato de a colonização do norte do Paraná, localidade da Universidade Estadual de Londrina (UEL), possuir fortes influências orientais e também por ser histórica a presença de nipônicos em cursos de graduação como Medicina e Odontologia.

Estes dados vêm de encontro ao último censo demográfico realizado no Brasil pelo IBGE em que foram encontrados os seguintes valores referentes à população residente da etnia amarela: 1,1% no Brasil e dos dez municípios brasileiros com maior população autodeclarada amarela, quatro estavam no estado do Paraná: Assaí (PR) - 15,0%; Uraí (PR) - 6,8%; São Sebastião da Amoreira (PR) - 5,7% e Sertaneja (PR) - 5,1%. Ao interpretar tais resultados é pertinente o esclarecimento de que segundo o IBGE se declaram pertencentes à cor amarela as etnias orientais como japonesa, chinesa, coreana.9

Outra questão foi a inexistência de indígenas entre os ingressantes no curso de Medicina, porque os dados apresentados são baseados naqueles fornecidos por aqueles que fizeram o vestibular "tradicional" da UEL. Enquanto a partir do ano de 2002 foi adotado o vestibular indígena, sistema de seleção diferenciado, que permite a inclusão dos indígenas na graduação, uma proposta vinculada a uma política pública de educação superior indígena coordenada pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (SETI), em conjunto com as Instituições de Ensino Superior (IES) públicas do Paraná, sendo esta política pautada pela Lei Estadual no 13.134/2001 e pela Resolução Conjunta SETI/Universidades Estaduais do Paraná no 35/2001. Neste período, houve o ingresso, pelo vestibular indígena, de nove indígenas entre os anos de 2002 a 2013 no curso de Medicina da UEL. Até o momento, apenas um indígena concluiu o curso de Medicina em 2008, outros ainda estão matriculados neste curso e outros fizeram transferências para outros cursos de graduação da UEL como Educação Artística e Fisioterapia.

A presença de estudantes indígenas nas Universidades Públicas do país tem sido um acontecimento constante como a trajetória do primeiro índio formado em medicina pela Universidade Nacional de Brasília (UNB) divulgado em publicação online apresentaum dos cinco indígenas formados na UnB pela parceria firmada em 2004 com a Funai. Hoje, há 63 alunos indígenas na Universidade. São estudantes de 31 etnias diferentes, distribuídos em cursos como administração, sociologia e agronomia. O convênio não é exatamente uma cota, como no caso dos alunos negros. Desde 2006, a UnB cria dez vagas por semestre exclusivamente para os índios. Os alunos que entram pela cota de negros ocupam 20% das vagas já existentes nos cursos. No quinto semestre, a solidão dos tempos de calouro deu lugar ao reconhecimento orgulhoso da identidade.10

Sobre a etnia negra, no período elencado, não houve aumento expressivo de seus integrantes, este fato permaneceu mesmo após a implantação da política de cotas raciais na UEL, desde o ano de 2005, por intermédio da Resolução CEPE Nº 78/2004. Ao longo dos anos, esta política foi modificada e a partir do ano de 2013 houve uma ampliação para 20% do número de vagas do Vestibular da UEL destinado a esta etnia o que poderá ser comprovado quando houver dados dos ingressantes deste último ano.11

Ao longo dos últimos anos, aumentou o número de alunos ingressantes que são naturais do estado do Paraná como se observa em: 47,5% (2004) e 74,6% (2012), e uma ascendência principalmente a partir de 2010 (73,4%) a 2012 (74,6%). Os motivos para este crescimento podem ser explicados porque o vestibular da UEL coincide com outros vestibulares de Universidades renomadas de outros estados como São Paulo e também pela prova do vestibular da UEL ter como característica privilegiar matérias humanas como Artes, Sociologia e Filosofia, conteúdos inéditos no ensino médio em muitos estados brasileiros.

Com relação à quantidade de vagas destinadas ao curso de Medicina, de acordo com a Resolução CEPE No 062/2012 o número é 80, porém se percebe aumentos em alguns anos, sendo mais nítido no ano de 2004, com 93 alunos, o que pode ser explicado pela transferência de 13 alunos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) que naquele ano teve o seu curso de Medicina suspenso por meiodo Decreto nº 1.247, de 12 de maio de 2003.

Um estudo transversal realizado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) em 2007 descreveu o perfil socioeconômico do aluno do curso de Medicina e os resultados relacionados aos dados demográficos foram: predomínio de mulheres (50,2%), brancos (68,6%) e solteiros (98,7%)3. Esta pesquisa demonstra valores similares aos dados apresentados pelo presente trabalho, o que ratifica ser o perfil do estudante de medicina semelhante com participação significativa do sexo feminino e da cor branca.

Entre os dados educacionais, uma questão é a motivação da escolha do curso de Medicina pelos ingressantes. Ao longo dos anos, a resposta com maior acreditação que se encontra é o interesse pessoal pela profissão com valores oscilantes entre 76,2% em 2004 e 84,8% em 2012. A segunda resposta, tendo a motivação da contribuição com a sociedade, também se manteve no período apresentado com os seguintes resultados: 17,5% em 2004 e 11,3% em 2012, sendo que a menor citação foi 8,7% em 2009 e a maior 19,3% em 2007. Com relação aos dados relativos a 2013, a motivação do interesse pessoal continuou sendo a mais referida pelos alunos. A única observação dos resultados do ano citado é o fato de os ingressantes tinham a opção de múltipla escolha nestas questões, o que totaliza um número de alunos maior que 80.

Estudo que analisou a opção pelo curso de Medicina em uma Universidade de Angola, apresenta que os motivos predominantes entre os ingressantes são altruísmo - que inclui desejos como "ajudar o outro, lidar com a morte e salvar vidas, trabalho médico tem o fim de benefício ao outro, etc" - e vocação - que abrange "identificação com o curso, sonho desde a infância, entre outros motivos". Há fortes evidências de que este trabalho corrobora os dados obtidos na presente pesquisa em que o interesse pessoal pela profissão e contribuição com a sociedade estão relacionados diretamente aos itens vocação e altruísmo.12

A interpretação desse fator é ressalta pela motivação para o altruísmo e razões sociais ser significativa entre os estudantes de medicina pode ser influenciada, em grande parte, pela expressiva porcentagem de mulheres no curso de Medicina, sendo que o sexo feminino determina a escolha da vocação que priorize valores mais sociais e altruístas.13

Outro questionamento relevante trata-se da expectativa com relação ao curso universitário escolhido. Entre os alunos ingressantes da Medicina da UEL, desde 2004, o quesito mais citado é a formação para o trabalho sendo o maior valor em 2008 com 92,5% das respostas e o menor valor em 73,7% em 2004, o que afirma ser a maior expectativa dos ingressantes. Entre as outras respostas, mostraram-se citadas também as expectativas de contribuição com a formação teórica para a pesquisa e conhecimentos para maior compreensão do mundo.

O nível de instrução dos pais dos ingressantes do curso de Medicina é outro item presente no questionário e de extrema importância para a análise dos dados educacionais dos alunos do curso. Com relação aos resultados deste item, encontra-se um maior nível educacional entre as mães do que os pais como pode ser comprovado pelos seguintes resultados, respectivamente, entre mulheres e homens: em 2004, 70% e 58,7% e em 2012, 68,3% e 45,5%.

Os dados apresentados anteriormente são confirmados por dois estudos em diferentes regiões do Brasil. Em um estudo demonstrou predomínio de 65% de pais com ensino superior completo e em outro apresentou 55,6% dos pais dos ingressantes do curso de Medicina da UNB possuem esse nível de ensino3,14. Ao longo dos anos de 2004 a 2012, o perfil econômico do ingressante no curso de Medicina na UEL pôde ser estimado pela informação da renda familiar mensal. Em 2004, a renda familiar mensal mais citada foi a do valor de 7 a 10 salários mínimos (SM) - baseados no valor da época - com 23,75% dos alunos. Já em 2012, a renda mais citada também foi a de 7 a 10 salários mínimos com 26,5%. Ao longo destes anos, os valores de renda familiar mensal variaram entre 5 a 7, e 15 a 20 salários mínimos.

No ano de 2013, pela primeira vez desde 2004, a maior porcentagem dos ingressantes possui uma renda familiar mais baixa, de 1 a 3 salários, contrastando com os valores apresentados e esperados dos anos anteriores.

Os dados correspondentes até o ano de 2012 apresentados por esta pesquisa podem ser comparados e confirmados por outros estudos como outros em que a renda familiar está acima de R$ 3.000,00 (77,7%). Outro estudo demonstra que os estudantes de medicina estavam concentrados, em quase sua totalidade (96,4%), nas classes A (50%) e B (46,4%), o que corresponde a renda mensal familiar acima de 16 salários mínimos.3,8

É frequente a citação de que o curso de Medicina possui alunos mais elitizados economicamente, recebem um alunado que pode ser classificado como de classe média alta, com famílias cuja renda média é próxima de 20 Salários Mínimos.15

O motivo principal elencado para o curso de Medicina, de forma geral, possuir alunos com padrão socioeconômico elevado se deve à alta procura e consequente concorrência para o ingresso nas universidades públicas, o que exige melhor preparo sócio educacional.7

O resultado de 2013 é relativo à renda familiar mensal do estudo em questão exibiu-se de maneira diferenciada dos outros anos conforme apresentado acima. Este dado infere que o aumento da porcentagem da política de cotas interfira no perfil socioeconômico do estudante do curso de Medicina. A queda na renda familiar do discente universitário após implementação da política de afirmação social/racial também foi notada a partir de 2009 (ano da implementação das cotas na UFMG - universidade da pesquisa) como renda familiar mensal mais comum a de 2 a 5 salário mínimos, valor inédito abaixo dos outros anos.

Há ainda poucos estudos que analisem o perfil do discente universitário, em especial do curso de Medicina, após a criação das cotas, o que dificulta a confrontação de dados. Porém, na pesquisa realizada na UnB, há a revelação da disparidade relacionada à renda familiar entre o cotista e o não cotista em que apresentam como renda familiar mais comum, respectivamente, 1 a 5 salários mínimos (72% dos cotistas) e mais de 10 salários mínimos (50% dos não cotistas).16

Também no estudo supracitado, há ressalva de que o sistema de cotas, em razão de sua vinculação a estudantes procedentes de escolas públicas e sem conjunção econômica para permanecer na universidade, requer ações que garantam a sua estabilidade nos centros auniversitários.16 A universidade UnB tem adotado para viabilizar a permanência do estudante cotista na universidade como: bolsa alimentação, bolsa permanência, bolsa livro; Serviço de Orientação ao Universitário (SOU).16

Diante destes resultados e análises, percebe-se a relevância da Universidade Estadual de Londrina e também do colegiado do Curso de Medicina da UEL acompanhar de perto a evolução do desempenho dos estudantes cotistas a fim de apoiá-los e assegurar que os meios básicos socioeconômicos sejam pertinentes para a realização do curso de graduação.

Desde 2004 e ao longo dos anos, a maioria dos ingressantes do curso de Medicina da UEL afirmou morar em casa própria, variando este dado entre em 2011 (68,29%) e o ano de 2004 (92,5%). Este dado é importante de ser considerado pelo fato de fazer parte dos itens avaliados na classificação socioeconômica no Brasil.

Com relação à propriedade de computadores e internet, em 2004, apenas 12,50% não possuíam computador e 8,75% possuíam mais de um computador com internet e já em 2012 os valores encontrados foram, respectivamente, para os itens mencionados: 1,27% e 54,43%. Esta progressão da propriedade de computador e internet devem-se principalmente à popularização dos meios digitais e à revolução tecnológica vivenciada nos últimos anos.

A constatação de que o ingressante do curso de Medicina da UEL possui mais acesso à mídia digital, mostra que este fato é um facilitador necessário para que a metodologia ativa PBL aplicada na graduação encontra meios para o seu desenvolvimento mais pleno, já que este contexto promove o contato rápido com conteúdos pertinentes à formação acadêmica. Ademais, a internet passa a ser um meio de pesquisa prático, um item avaliado a cada sessão tutorial como fonte de conteúdo.

Estas conclusões mostram que o acesso ao material didático é quase imediata, e assim a sala de aula passa gradativamente suas fronteiras de tempo e lugar. Nesse novo ambiente de aprendizagem, é promovida a reflexão e à reformulação das metodologias de ensino praticadas no meio acadêmico. O ambiente torna-se bastante propício ao resgate de uma postura mais ativa dos acadêmicos. Nesse cenário o professor deixa de ser o centro do processo, o único titular de todo o conhecimento, e passa a ocupar o espaço de mediador entre o ensino e o acadêmico.17

 

CONCLUSÃO

O perfil dos estudantes ingressantes do curso de Medicina da UEL evidenciou que a distribuição de vagas entre mulheres e homens é praticamente igual, sendo exemplificado com os seguintes valores, respectivamente para o sexo feminino e masculino, nos anos de 2004 com 51,25% e 48,75% e de 2013 com 47,5% e 52,5%. Constata-se que no ano de 2006, o sexo feminino predominou com 59,3%, corroborando a ocorrência do fenômeno "feminilização da profissão médica".

Em 2004, a renda familiar mensal mais citada foi a do valor de 7 a 10 salários mínimos. Já em 2012, a renda mais citada também foi a de 7 a 10 salários mínimos com 26,58%. Ao longo destes anos, os valores de renda familiar mensal variaram entre 5 a 7, e 15 a 20 salários mínimos. Em 2013, pela primeira vez desde 2004, mostrou que a maior porcentagem dos ingressantes possuía uma renda familiar mais baixa, de 1 a 3 salários mínimos, contrastando com os valores apresentados dos anos anteriores. Entre os eventos associados a essa mudança, encontra-se a inclusão das cotas nas universidades, tanto raciais quanto econômicas.

Com relação à posse de computadores e internet, em 2004, apenas 12,50% não possuíam computador e 8,75% tinham mais de um computador com internet e já em 2012 os valores encontrados foram, respectivamente, para os itens mencionados: 1,27% e 54,43%. A constatação de que o ingressante do curso de Medicina da UEL possui mais acesso à mídia digital, mostra que este fato é um facilitador necessário para que a metodologia ativa PBL aplicada na graduação encontra meios para o seu desenvolvimento mais pleno, já que este contexto promove o contato imediato com conteúdos pertinentes à formação acadêmica.

Conhecer o perfil do estudante ingressante no curso de Medicina pode contribuir na formação qualificada por meio de estratégias que visem ao melhor aproveitamento e adaptação do discente durante o curso de graduação e consequentemente no alcance do profissional delineado e necessário no mundo da saúde da atualidade.

 

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