ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Efeito do treinamento de habilidades no aprendizado dos estudantes de medicina: estudo experimental
Effect of skills training on medicine students learning: experimental study
Claudia Teixeira da Costa Lodi; Gabriel Haddad Diniz Ribeiro; Izabella da Silva Mendes
Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais
Endereço para correspondênciaIzabella da Silva Mendes
E-mail: E-mail: izabellamendes26@gmail.com
Recebido em: 29/06/2020
Aprovado em: 05/11/2020
Instituição: Faculdade Ciências Medicas de Minas Gerais. Alameda Ezequiel Dias, 275, Belo Horizonte, MG. Brasil. CEP: 30130-110
Resumo
INTRODUÇÃO: O treinamento de habilidades consiste em uma metodologia ativa de ensino que tem demonstrado eficácia no processo de ensino-aprendizagem. Ao permitir a possibilidade do erro, em um ambiente seguro e passível de intervenção do docente, favorece aspectos técnicos, como conhecimento e habilidades, e o desenvolvimento de análise, síntese e tomada de decisão, comunicação, atitude e trabalho em equipe, cruciais na prática profissional.
OBJETIVOS: Comparar o nível de aprendizado obtido em aula teórica com o obtido em treinamento de habilidades.
MÉTODOS: Estudo experimental e analítico realizado com os estudantes de Medicina do sexto período de uma instituição privada de ensino superior brasileira. Os estudantes foram divididos aleatoriamente em grupo controle com aula teórica e experimental com aula teórico-prática, sendo os grupos semelhantes entre si, no que diz respeito a características pessoais, haja visa serem todos do mesmo período da mesma instituição de ensino. Ambos tiveram os conhecimentos testados em provas de múltipla escolha logo após as respectivas aulas. Os dados coletados foram analisados no software R versão 3.4.3 e o nível de confiança estabelecido foi de 95%.
RESULTADOS: Foram avaliados 112 alunos, sendo 47 (42%) alocados no grupo controle e 65 (58%) no grupo experimental. Não houve diferença estatisticamente significativa da nota na prova entre os grupos.
CONCLUSÕES: O trabalho não verificou diferença estatisticamente significativa de aprendizado entre os grupos. Sugere-se que futuras pesquisas sejam realizadas, com amostras maiores e mais heterogêneas, a fim de fornecer evidências e mensurações mais concretas sobre essa ferramenta educacional.
Palavras-chave: Educação Superior. Ensino. Treinamento por Simulação. Exercício de Simulação.
INTRODUÇÃO E LITERATURA
Historicamente, a formação dos profissionais de saúde baseia-se no uso de metodologias tradicionais, em que o docente assume a postura de transmissor do conhecimento e ao discente é atribuído o papel de mero espectador. Somada a essa técnica passiva, com aulas teóricas e provas, a fragmentação do conhecimento em especialidades contribui para uma defasagem no aprendizado propriamente dito em vista da dificuldade de retenção e associação do conhecimento e da aplicabilidade na prática1.
As limitações do ensino convencional refletem na assistência prestada. No Brasil, em 2016, uma pesquisa realizada com base no volume de internações do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Associação Nacional dos Hospitais Privados, concluiu que ocorreram mais de 302 mil mortes por ano por eventos adversos evitáveis2.
A segurança do paciente está entre os principais temas discutidos pelos profissionais da área de saúde em todo o mundo. Da mesma forma, no Brasil existe uma crescente preocupação com o tema, conforme comprovado pela criação do Programa Nacional de Segurança do Paciente pelo Ministério da Saúde em 20133,4.
Dessa forma, as limitações do ensino convencional e a busca pela eficiência técnica e a potencialização do cuidado com a saúde contribuíram para o surgimento de diversas mudanças nas propostas de formação. Isso destaca a necessidade de reformular os currículos de graduação em saúde a fim de promover uma organização do conteúdo e inserção de metodologias inovadoras capazes de contemplar estratégias que considerem os aspectos éticos, as exigências de formação no contexto atual, a segurança dos pacientes e também as tecnologias disponíveis nos diversos cenários de assistência à saúde5,6.
No Brasil, percebe-se essa mudança principalmente a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Federal nº 9.394/1996, pelo processo de elaboração e implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais7. Nesse sentido, há uma orientação aos alunos em direção a um aprendizado mais autônomo com a garantia de uma formação mais sólida2.
A partir dessa necessidade de inversão do modelo de assistência à saúde, fica evidente a importância da busca por materiais e métodos que permitam uma formação mais ampla, substituindo os processos de memorização de informações e de transferência fragmentada do saber de forma vertical por uma prática que reúna saberes por meio de uma postura interdisciplinar. Valoriza-se, assim, a adoção de métodos que estimulem a participação efetiva do aluno, as metodologias ativas, em todas as etapas do processo, entre os quais está o método da simulação e o treinamento de habilidades8,9.
A simulação é uma técnica que se fundamenta em princípios do ensino baseado em tarefas e se utiliza da reprodução parcial ou total dessas tarefas em um modelo artificial, conceituado como simulador. Isso permite que os alunos experimentem a representação de um evento real com o propósito de praticar, aprender, avaliar ou entender essas situações, com um papel ativo na aquisição dos conceitos necessários para a compreensão e resolução do problema, enquanto que o professor adota uma postura de condutor ou facilitador 5,10,11.
O uso da metodologia de simulação realística desponta como um fator importante para a melhoria do ensino na área da saúde ao reduzir erros e melhorar o desempenho associado à assimilação prática dos conteúdos propostos1,2,12. As situações simuladas exigem do estudante raciocínio clínico direcionado à solução imediata, porém, permitindo a possibilidade do erro, em um ambiente seguro e passível de intervenção do docente. Assim, a simulação favorece desde os aspectos técnicos e tecnológicos, com conhecimento e habilidades, até o desenvolvimento de análise, síntese e tomada de decisão, comunicação, atitude e trabalho em equipe, cruciais aos processos clínicos da prática profissional13,14.
De acordo com Kaneko et al4, existem vários modelos de simulador, desde manequins anatômicos simples até altamente avançados, guiados por computador. A simulação clínica de alta fidelidade pode ser feita mediante a utilização de manequins com respostas fisiológicas e realidade virtual. Há ainda outras estratégias, como a utilização de simuladores de baixa e média fidelidade, programas específicos de computadores e jogos virtuais6. Todos são capazes de simular uma situação específica, contemplando diversas áreas de estudos na saúde, como emergências cardiológicas, trauma, pediatria, ginecologia e obstetrícia, cuidados intensivos, anestesia, habilidades atitudinais para a relação com o paciente, entre várias outras1,12. A escolha da estratégia adequada deverá ser pautada pelo objetivo de aprendizagem, conteúdo prévio dos participantes, custos e capacitação docente adequada.
Em países como Estados Unidos, Canadá e na Europa, em geral, tais metodologia ativas vem ganhando espaço, sendo estudadas e difundidas em diversas Instituições de Ensino Superior, que já apresentam centros de simulação ativos. No contexto brasileiro, assim como no resto do mundo, observa-se uma tendência crescente na implantação de tais estruturas, entretanto há, ainda, alguns entraves no tocante aos custos elevados com a construção, aquisição de simuladores e contratação de pessoal qualificado. Dessa maneira, observa-se uma maior adesão de Instituições privadas a públicas 1,2.
Frente a todos os benefícios destacados na literatura e à possibilidade de observar a influência no aprendizado em saúde, surge, então, este trabalho, que pretende comparar o desempenho acadêmico e o aprendizado em aula teórica com o desempenho e o aprendizado em treinamento de habilidades.
MATERIAL E MÉTODOS
Delineamento do estudo
Trata-se de um estudo experimental e analítico, que compara a utilização de método tradicional de ensino de aula expositiva com método alternativo de treinamento de habilidades.
Amostra
Foram avaliados estudantes do sexto período de uma instituição privada de ensino superior brasileira, na disciplina Saúde da Mulher I.
Foram incluídos no estudo todos os estudantes do sexto período, 120 alunos, o que dispensa a necessidade de cálculo amostral.
Os critérios de inclusão da amostra foram: estar efetivamente matriculado no sexto período do curso de medicina da instituição e estar regularmente matriculado na disciplina de Saúde da Mulher I, matéria obrigatória do currículo da instituição para estudantes do sexto período e a partir da qual procedeu-se a intervenção.
Foram excluídos aqueles estudantes que, por quaisquer motivos, estiveram ausentes no momento da coleta de dados, em qualquer dos grupos, e aqueles que não cumpriram todos os passos dos procedimentos.
Os grupos foram formados a partir de disposição aleatória dos estudantes, seguindo a conveniência da divisão de subgrupos já realizada pela disciplina no início do semestre. Esta trata-se de uma divisão em seis subgrupos por ordem alfabética. Os pesquisadores deste trabalho, então, juntamente com a professora responsável pela disciplina, sortearam três desses subgrupos para participarem da aula teórica - e, assim, comporem o grupo controle - e outros três para participarem da aula teórico-prática - e, assim, comporem o grupo experimental. Dessa forma, os dois grupos tiveram tamanhos semelhantes e disposição aleatória de estudantes, sem viés de qualquer característica pessoal ou acadêmica.
INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS
A coleta de dados foi realizada no segundo semestre de 2019, na disciplina de Saúde da Mulher I, utilizando as dependências físicas da instituição de ensino, notadamente uma sala de aula tradicional e o Laboratório de Habilidades e Simulação Realística da instituição.
Os estudantes convidados a participar do trabalho compreendem toda a população de estudo. Os procedimentos foram amplamente explicados e os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), formalizando o aceite em participar da pesquisa.
De acordo com o calendário oficial da matéria, metade da turma, com indivíduos aleatoriamente selecionados por sorteio, teve aula teórica em sala de aula tradicional, de cinquenta minutos de duração, sobre o tema "Exame Físico Ginecológico e Colpocitologia Oncótica", constituindo esses estudantes o grupo controle. O material básico disponível para a aula foi lousa branca, canetas de lousa, computador e retroprojetor, de modo que o método empregado foi a exposição de slides e palestra da docente, com livre interação entre palestrante e público. Logo em seguida à aula, foi aplicada uma avaliação escrita individual e sem consulta. Para essa avaliação, o instrumento utilizado foi uma prova constituída de questões de concursos revisadas e adequadas pela professora responsável pela disciplina, médica ginecologista, acerca do tema ministrado na aula. A prova continha dez questões com peso um cada questão e nota máxima de dez pontos, com tempo estimado de trinta minutos para a sua realização.
Na mesma semana, a mesma docente ministrou aula teórico-prática sobre o mesmo tema, rigorosamente com a mesma duração, no Laboratório de Habilidades e Simulação Realística, para a outra metade da amostra, selecionada aleatoriamente por sorteio. Os estudantes alocados nessa aula constituíram o grupo experimental. O material básico disponível foi material de exame ginecológico, pelves ginecológicas, lousa branca e canetas para lousa e o método de aula consistiu basicamente em exposição e palestra da docente, com livre interação entre palestrante e público, e experiência prática dos estudantes, com utilização dos materiais disponíveis. Em seguida, foi aplicada exatamente a mesma prova realizada pelo grupo controle, individual e sem consulta.
Foram coletados também, juntamente com as provas, em ambos os grupos, um questionário de elaboração dos próprios autores acerca dos dados sociodemográficos: sexo, idade, raça, renda familiar, prática regular de atividade física, tempo médio de estudo por semana e tempo médio de sono por noite. Essas variáveis foram escolhidas em função de serem descritas na literatura como cofatores determinantes para a capacidade de apreensão e aprendizado dos estudantes.
Os princípios éticos foram respeitados e estão de acordo com a Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados foi iniciada após aprovação pelo Comitê de Ética, conforme CAAE: 04498818.9.0000.5134.
A realização desta pesquisa contou com o apoio financeiro institucional do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.
Análise estatística
Os dados foram analisados utilizando software R versão 3.4.3 por meio de uma comparação de médias de cada variável entre os grupos. Nessa comparação, a hipótese nula para cada variável é a igualdade estaticamente significativa entre as médias, enquanto a hipótese alternativa é a não igualdade entre as médias.
As variáveis categóricas foram apresentadas nas tabelas como frequências absolutas e relativas e as variáveis numéricas foram apresentadas como média ± desvio-padrão. Os testes Qui-quadrado e Exato de Fisher foram utilizados para avaliar associações entre as variáveis categóricas. Para comparar medias entre os grupos foi utilizado o teste de Mann-Whitney, após o teste de normalidade de Shapiro-Wilk. A análise foi desenvolvida no software R versão 3.4.3, e foi considerado significativo p<0,05.
RESULTADOS
Foram avaliados 112 alunos, sendo 47 (42%) alocados no grupo controle e 65 (58%) no grupo experimental. A maioria era do sexo feminino (74,1%), da raça branca (78,6%) e declararam renda familiar mensal superior a quinze salários mínimos (77,7%). A idade média encontrada foi de 21,6 anos (± 1,9).
A caracterização da amostra e os resultados obtidos com a comparação dos grupos estão apresentados na Tabela 1.
Não houve diferença significativa entre os grupos quanto ao sexo (p=0,145), a idade (p=0,105) e a raça (p =0,318). A renda familiar mensal também não foi demonstrada como uma variável para o desfecho, com p=0,129 (Tabela 1).
A média encontrada de prática de exercício físico por semana compreendeu 4,1 horas (± 3,2 horas), não sendo encontrada diferença significativa entre os grupos (p=0,748). O tempo de sono por noite, por sua vez, foi de 6,5 horas (± 1,1 horas), também sem significância estatística (p=0,433) (Tabela 1).
Houve significância estatística na Tabela1 entre o tempo de estudo extraclasse (p<0,001), sendo que os alunos que participaram da aula teórica, em média, estudam mais horas. O tempo semanal de estudo extraclasse foi de 13,7 horas (±8,3), sendo encontrada média de 16,6 horas (± 8,6) no grupo controle e de 11,6 horas (± 7,5) no grupo experimental. Essa variável consiste basicamente nas horas de estudo teórico fora da sala de aula, seja em casa, em bibliotecas, na faculdade, com livros, vídeos ou qualquer material, individual ou em grupo. No questionário respondido pelos participantes da pesquisa, a investigação dessa variável consistia na pergunta "quantas horas por semana você estuda fora da sala de aula?".
Por fim, a média da nota na prova encontrada nos dois grupos foi de 8,1 pontos (± 1,0), com a média de 7,9 pontos (± 1,0) no grupo controle e de 8,2 pontos (±0,9) no grupo experimental. Não houve diferença significativa entre os grupos (p=0,051), embora os alunos que participaram da aula prática tenham tido melhores notas (Tabela 1). Entretanto, vale ressaltar que o p-valor encontrado foi muito próximo de 0,05, o que, a rigor, não é considerado significativo para o nível de confiança adotado por este trabalho, porém está muito próximo da faixa de confiança. Isso nos permite inferir que, com um nível de significância marginalmente maior, a nota mais alta no grupo experimental poderia ser estatisticamente válida.
DISCUSSÃO
A simulação realística e o treinamento prático de habilidades têm sido cada vez mais incorporados à estrutura de formação profissional nas diversas áreas do conhecimento, notadamente na área da saúde. Esse movimento faz parte de um contexto maior de limitações do ensino convencional e de busca por eficiência técnica a potencialização do cuidado com a saúde.
Os resultados mostram, a princípio, uma grande homogeneidade no que diz respeito à maioria das variáveis pesquisadas. Isto é, nos principais quesitos considerados pela literatura como determinantes para o desempenho acadêmico, os grupos apresentaram médias estatisticamente semelhantes. Essa homogeneidade pode ser explicada, a princípio, pelo recorte populacional, que se trata de um nicho específico com muitos fatores de semelhança.
Possivelmente em função disso, a média das notas nas provas também não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos, de modo que a hipótese alternativa que se esperava confirmar - de não igualdade entre as médias - não foi confirmada. Entretanto, como ressaltado, o p-valor encontrado foi marginalmente maior que 0,05, muito próximo do nível de significância adotado por este trabalho. Isso traz um valor adicional à diferença encontrada, que, com um nível de significância ligeiramente maior, poderia ser considerada. É possível que, com uma população maior, essa diferença se confirme estatisticamente significativa. Vale ressaltar também que, nesta pesquisa, o aprendizado foi mensurado apenas por uma avaliação teórica, de modo que os alunos não foram avaliados em cenários de prática, onde possivelmente se observaria um desempenho melhor dos estudantes do grupo experimental. O fato de a avaliação ter sido aplicada imediatamente após as aulas também pode ter contribuído.
É possível observar, ainda, que a média do tempo de estudo extraclasse por semana foi maior - com significância estatística - no grupo controle. Por essa ser naturalmente uma das variáveis mais importantes na determinação das notas em uma prova, pode-se afirmar que, apesar de o grupo experimental estudar habitualmente menos tempo fora de sala de aula, seu desempenho na prova - ou seja, seu aprendizado sobre o tema - não foi inferior ao do grupo controle. Esse fato, combinado com a semelhança nos demais fatores determinantes do desempenho acadêmico, nos permite avultar uma hipótese de que o laboratório de simulação por si possa ter tido efeito positivo no aprendizado, apesar de isso não ser confirmado a rigor neste trabalho.
A homogeneidade dos outros fatores, nesse caso, serve como subsídio a essa hipótese avultada. Aleatoriamente, em todos os fatores, os grupos são muito semelhantes (composição de gênero e raça, tempo de atividade física regular, tempo de sono por noite e renda familiar), exceto no tempo médio de estudo extraclasse. Ainda assim, as notas foram, em média, iguais entre os grupos. Isto é, há, nos dados, uma sugestão de efeito positivo da aula no laboratório de simulações, em comparação com a aula na sala tradicional.
Essa hipótese é corroborada também pelas evidências encontradas na literatura e apresentadas neste trabalho. Estudos recentes têm apontado o potencial dos laboratórios de simulação e das aulas teórico-práticas, como visto em um ensaio clinico randomizado de 2016 conduzido em um Hospital Universitário Francês. Nele foi demonstrado que os estudantes submetidos ao treinamento de habilidades do exame ginecológico tiveram melhoras consistentes em performance nos procedimentos em pacientes reais em comparação com grupos de controle sem intervenção, indicando com segurança a inclusão desse item no currículo acadêmico13. Lima et al14 demonstrou, ainda, que o treinamento simulado permite a consolidação e o aperfeiçoamento de competências e habilidades profissionais, e estimula o raciocínio clínico, a integração e a comunicação, aspectos essenciais para o atendimento em equipe.
Por fim, outra explicação possível para a igualdade de médias de notas entre os grupos, para além da homogeneidade dos fatores determinantes do desempenho acadêmico e o potencial efeito positivo do laboratório, é a própria limitação da pesquisa, que avaliou comparativamente a partir de um assunto específico de uma única disciplina. Avaliações complementares, com a expansão da metodologia para uma diversidade maior de assuntos, disciplinas e simulações, são importantes, de modo a aprofundar na investigação dessa hipótese.
CONCLUSÕES
Os participantes da aula no laboratório obtiveram notas com média estatisticamente semelhante à média das notas dos outros estudantes, porém com um tempo médio de estudo extraclasse inferior, o que sugere benefícios no uso do treinamento de habilidades como metodologia ativa de ensino.
Ressalta-se, assim, a importância da realização de futuras pesquisas, a fim de fornecer evidências e mensurações concretas dessa ferramenta educacional e aprofundar o debate sobre o assunto.
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