RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 21. 1

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Relato de Caso

Hibernoma do couro cabeludo

Hibernoma of the hairy scalp

Roberto Junqueira de Alvarenga1; Rafael Alvarenga Brandão2; Natália Coelho Corrêa2; Luiz Fernando Truzzi Alves3

1. Médico - Patologista e Citopatologista. Sócio Emérito da Sociedade Brasileira de Patologia, Professor Catedrático aposentado da Faculdade de Medicina da UFMG, Diretor do Instituto Roberto Alvarenga. Belo Horizonte, MG - Brasil
2. Acadêmicos do 5º ano do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Barbacena, Fundação José Bonifácio (FUNJOB). Barbacena, MG - Brasil
3. Médico - Cirurgião-Plástico do Hospital Belo Horizonte. Belo Horizonte, MG - Brasil

Endereço para correspondência

Roberto Junqueira de Alvarenga
Rua: Espírito Santo, 2.568/ 501, Bairro: Lourdes
Belo Horizonte, MG - Brasil, CEP: 30160-032
Email: rja.bhz@terra.com.br

Recebido em: 14/09/2009
Aprovado em: 28/07/2010

Instituição: Instituto Roberto Alvarenga. Belo Horizonte, MG - Brasil

Resumo

O hibernoma constitui-se em tumor benigno raro, derivado de gordura marrom que usualmente se manifesta como massa de crescimento lento e indolor. Este relato descreve a presença de hibernoma localizado no couro cabeludo em paciente adulta, feminino.

Palavras-chave: Lipoma; Couro Cabeludo; Neoplasias Cutâneas; Adipócitos Marrons.

 

INTRODUÇÃO

O hibernoma é tumor benigno raro, de crescimento lento, derivado de gordura marrom.1-7 O primeiro relato desse tumor foi feito em 1906, por Merkel3-5,8,9, e o nome "hibernoma" foi proposto por Gery, em 1914, devido à semelhança morfológica com o tecido adiposo marrom encontrado em animais que hibernam.3-7,9-12 São descritos, até o momento, menos de 200 casos na literatura7, sendo os locais mais frequentemente acometidos o dorso, principalmente na região interescapular, pescoço, ombros, axilas, tórax, coxas e retroperitônio.5,7,13 É extremamente raro o acometimento do couro cabeludo.14

O presente estudo descreve um hibernoma localizado no couro cabeludo em adulto feminino.

 

RELATO DO CASO

HRB, feminino, 38 anos de idade, natural e procedente de Belo Horizonte, apresentando nódulo subcutâneo no couro cabeludo na região têmporo-parietal de aproximadamente 2 cm em seu maior diâmetro, com crescimento lento, indolor e pele superposta não aderida. Foi completamente extirpado e media 2,0 x 1,5 x 0,5 cm. Macroscopicamente, apresentava cápsula, superfície de corte amarelo-amarronzada e consistência gordurosa. O exame microscópico mostrou formação nodular capsulada e constituída por células redondas ou poligonais e dispostas em lóbulos, entre os quais se verificava pequenos vasos. Os núcleos das células tumorais eram centrais, ovoides ou redondos e o citoplasma da maioria das células apresentava-se multivacuolado. Verificou-se, ainda, discreta hiperemia (Figura 1).

 


Figura 1 - Células multivacuoladas com citoplasma granular.

 

DISCUSSÃO

O tecido adiposo marrom é responsável por auxiliar a termorregulação em recém-nascidos e é assim chamado devido à sua cor característica proveniente de sua abundante vascularização e grande quantidade de mitocôndrias presentes em seu citoplasma.15 É encontrado durante a vida fetal e após o nascimento é gradualmente reposto por tecido adiposo branco, restando no adulto o equivalente a 1% de sua massa corporal total.11,13

O hibernoma é tumor benigno raro, de crescimento lento, derivado de gordura marrom, que ocorre predominantemente entre a terceira e a quarta décadas de vida.1 Era mais descrito em mulheres, mas atualmente tem sido observada leve predominância em homens.1,11

Os locais mais frequentes de acometimento são o dorso, principalmente na região interescapular, pescoço, ombros, axilas, tórax, coxas e retroperitônio.5,7,13 A maioria dos hibernomas é encontrada em locais remanescentes de tecido adiposo marrom, como, por exemplo, na região interescapular e coxas, podendo também ser encontrados em locais onde a gordura marrom inexiste4, como excepcionalmente no couro cabeludo.

Sua apresentação clínica típica caracteriza-se pelo aumento progressivo, lento e indolor. A sintomatologia, quando presente, relaciona-se, em geral, à compressão de estruturas adjacentes.3,6,7,11

Os hibernomas são macroscopicamente tumores lobulados, bem-delimitados e com coloração que varia do marrom-amarelado ao marrom-avermelhado, com superfície de corte esponjosa, aspecto gorduroso e, em média, 9,3 centímetros de diâmetro.1,11 Sua visão microscópica é lobular, com pequenos vasos sanguíneos entre os lóbulos.7 As células do tumor podem ser classificadas como grandes e multivacuoladas, com citoplasma granular eosinofílico e núcleo excêntrico; e, univacuoladas, pequenas, com núcleo periférico e citoplasma granular.2 As mitoses e atipias celulares são pouco comuns, o que confere caráter benigno ao tumor, entretanto, células adiposas marrons podem ser encontradas em algumas variantes de lipossarcomas.1,3

Apesar de não terem sido utilizados no caso descrito, existem métodos de imagem que podem auxiliar no diagnóstico do hibernoma, como: tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RNM) e angiografia.4,7,10 Os achados radiológicos são inespecíficos e não podem ser utilizados como critério diagnóstico, o que só é possível pela análise histológica, o que justifica a biópsia pré-operatória.7

A TC sem utilização de contraste evidencia massa de baixa atenuação com densidade maior que a de gordura subcutânea.10 Podem se tornar evidentes ligeiro aumento difuso desse tumor e septos altamente realçados, após a injeção intravenosa de contraste.4,10

A RNM pode revelar o tamanho exato, o local e a extensão desse tumor.7 O hibernoma é descrito como massa de alta densidade e bem-definida. Relata-se, na maioria dos casos, que a densidade é menor do que a gordura subcutânea. Assim, ele pode ser distinguido do lipoma simples.10

A angiografia, apesar de raramente realizada, representa método útil para o diagnóstico,4 ressaltando uma massa hipervascular, o que permite diferenciar os hibernomas das lesões hipovasculares como lipoma, fibroma, e neurofibroma.7

O hibernoma é tumor de caráter benigno, sem evidência convincente de apresentar potencial de malignidade.7,13 Seu tratamento de eleição é feito pela ressecção total do tumor e hemostasia, sem recorrência se completamente ressecado.7,12 A biópsia pré-operatória é altamente recomendada, uma vez que o tumor é clinicamente indistinguível de lesões malignas e devido ao seu diagnóstico ser exclusivamente histopatológico.7

 

REFERÊNCIAS

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15. Junqueira LC, Carneiro J. Tecido adiposo. In: Junqueira LC, Carneiro J. Histologia básica. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. cap.6, p.125-9.