RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 20. 4

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Artigo Original

Incidência e etiologia das fraturas de face na região de Venda Nova - Belo Horizonte, MG - Brasil

Incidence and etiology of face fractures in the Venda Nova region - Belo Horizonte, MG - Brazil

Aluisio Cardoso Marques1; Lucas José Guedes2; Rodrigo Pimenta Sizenando2

1. Cirurgião-plástico, Coordenador da cirurgia plástica e linha de cuidados cirúrgicos do Hospital "Risoleta Tolentino Neves". Belo Horizonte, MG - Brasil
2. Cirurgião-plástico do Hospital "Risoleta Tolentino Neves". Belo Horizonte, MG - Brasil

Endereço para correspondência

Aluisio Cardoso Marques
Rua: Prof. Pedro Alvarenga, 46, Bairro: Palmares
Belo Horizonte, MG - Brasil
E-mail: aluisiocmg@ig.com.br

Recebido em: 09/12/2009
Aprovado em: 24/03/2010

Instituição: Hospital "Risoleta Tolentino Neves" Belo Horizonte, MG - Brasil

Resumo

O propósito deste trabalho é analisar a frequência, incidências e etiologia das fraturas de face, na região de abrangência do Hospital Risoleta Tolentino Neves, em Belo Horizonte - MG entre janeiro de 2007 e dezembro de 2009. O osso nasal foi o mais comumente fraturado, seguido da mandíbula, malar, arco zigomático e maxila.

Palavras-chave: Traumatismos Faciais; Ossos Faciais/lesões; Face; Fraturas Ósseas; Mandíbula.

 

INTRODUÇÃO

O trauma de face é observado diariamente em hospitais de urgência e acomete a camada jovem da população, em fase laborativa, e tem como causas importantes acidentes de trânsito e agressão física. A epidemiologia do trauma de face é importante para seu adequado conhecimento e tratamento. Dessa forma, faz-se necessário estabelecer a incidência e etiologia das fraturas de face, de modo a melhor compreendê-las e, consequentemente, possibilitar um atendimento mais preciso e apropriado.

O Hospital Risoleta Tolentino Neves é referência para uma população de aproximadamente 1,5 milhão de habitantes e o estudo foi realizado avaliando-se o período de 01 de janeiro de 2007 a 31 de dezembro de 2009, quando foram atendidos 740 pacientes com fraturas de face, sendo que alguns deles apresentavam mais de uma fratura.

 

CASUÍSTICA

Foram atendidos 740 pacientes com fraturas de face, sendo que alguns apresentavam mais de uma, totalizando 923 fraturas na face. A mais alta incidência foi de fratura de nariz, com 37% dos casos, seguido pelas fraturas de mandíbula, 29%; malar, 22%; arco zigomático, 10%; e maxila, 2% (Tabela 1, Figura 1).

 

 

 


Figura 1 - Local de fratura.

 

Todos os casos estudados foram tratados cirurgicamente, com vários tipos de fixação, preferencialmente placas e parafusos de titânio. A média de idade foi de 31 anos (Tabela 2, Figura 2) e a maioria dos pacientes era do gênero masculino, 79% dos casos (Tabela 3, Figura 3).

 

 

 


Figura 2 - Idade.

 

 

 

 


Figura 3 - Gênero.

 

Entre as causas de fratura de face, o mais alto índice foi de agressão física (27%), seguido de queda (23%), acidente com motocicleta (13%), acidente de bicicleta (11%), lesão por arma de fogo (9%), acidente de automóvel (9%), futebol (6%) e atropelamento (2%) (Tabela 4 e Figura 4).

 

 

 


Figura 4 - Mecanismo do trauma.

 

CONCLUSÃO

Os resultados estatísticos confirmam que são os ossos do nariz os mais lesados, embora alguns autores3 afirmem ser a mandíbula a mais comumente fraturada. Apesar da literatura concluir que os acidentes automobilísticos constituem a maior fonte etiológica das fraturas de face, no Hospital Risoleta Tolentino Neves o mecanismo do trauma mais comum foram as agressões físicas.

O tratamento deve ser realizado o mais breve possível e de forma eficaz para que haja reabilitação breve, com retorno às atividades normais e com minimização das sequelas estéticas e funcionais. Todos os pacientes foram acompanhados em ambulatório por período que variou de um mês a seis meses, de acordo com a necessidade de cada caso.

 

COMENTÁRIOS

Os resultados mostram que na região em que se insere o Hospital Risoleta Tolentino Neves prevalecem as fraturas de nariz, seguidas pelas fraturas de mandíbula e malar.

Como o hospital não recebe casos de neurotrauma, os acidentes automobilísticos não constituem a principal causa de fratura da face no estudo realizado e a incidência de fraturas de maxila, que exigem energia cinética mais intensa para que ocorram, nesse serviço fica diminuída.

Na amostragem objeto deste estudo, foram consideradas apenas as fraturas cirúrgicas e observa-se a alta prevalência em pacientes do gênero masculino, com idade média de 31 anos.

Trata-se da camada jovem da população, em fase laborativa, o que ocasiona grande prejuízo econômico, direta e indiretamente. Faz-se necessária a reabilitação o mais precocemente possível.

A violência urbana, traduzida em agressões físicas e por arma de fogo, foram identificadas como significativas causas de fratura de face.

Deve-se destacar, ainda, o alto índice de acidentes com motocicletas e suas repercussões em nosso meio (lesões associadas de partes moles e fraturas de membros inferiores, que levam a significativo afastamento do indivíduo e longo tempo para sua recuperação).

 

REFERÊNCIAS

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3. Gabrielli MAC, Gabrielli MFR, Barbeiro RH. Incidência e etiologia das fraturas faciais na região de Araraquara. São Paulo: Cidade Editora Científica; 1997.

4. Greene D, Raven R, Carvalho G. Epidemiology of facial injury in blunt assault. Determinants of incidence and outcome in 802 patients. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1997 Sep;123(9):923-8.

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7. Passeri LA, Brasileiro BF. Epidemiological analysis of maxillofacial fractures in Brazil: A 5-year prospective study. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 2005.

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