ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Identificação de fontes de informação em assistência nutricional às pessoas que vivem com HIV/AIDS e a importância para a atuação do profissional de saúde
Identification of sources of information on nutrition assistance to people living with HIV/AIDS and the importance to the role of health professionals
Lorena Damasceno Oliveira Amorim1; Sônia Maria de Figueiredo2; Thelma de Filippis3; Irene Kay Adams Bruinsma4
1. Bibliotecária. Bacharel em Nutrição
2. Professora da Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto, MG - Brasil
3. Professora do Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH. Belo Horizonte, MG - Brasil
4. Médica imonulogista e oncologista da Clínica AMMOR. Belo Horizonte, MG - Brasil.
Lorena Damasceno Oliveira Amorim
Rua: Esmeraldo Botelho, 122/301 Bairro: Buritis
Belo Horizonte, MG - Brasil
E-mail: loredamasceno@yahoo.com.br
Recebido em: 05/04/2010
Aprovado em: 19/08/2010
Instituição: Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH. Belo Horizonte, MG - Brasil.
Resumo
INTRODUÇÃO: a boa nutrição representa apoio fundamental às medidas farmacológicas que propiciam melhor qualidade de vida aos portadores de HIV/AIDS. A busca de informações atualizadas e adequadas constitui objeto de grande interesse de nutricionistas envolvidos com a prática de oferecer boa nutrição aos pacientes com HIVAIDS e representa papel essencial das ONGs/AIDS que atuam nessa área.
OBJETIVOS: apresentar e discutir os resultados de trabalho de organização e identificação de fontes de informação em DST/AIDS realizado em uma ONG/AIDS.
MÉTODOS: foram catalogados e classificados 255 itens bibliográficos constituídos, em sua maioria, de livros, catálogos, cartilhas, guias e manuais especializados em DST/AIDS.
RESULTADOS: os materiais relacionados especificamente às DST/AIDS e doenças sexualmente transmissíveis perfizeram 100 itens bibliográficos. O tema alimentação e nutrição em HIV/AIDS não estava contemplado em materiais específicos no acervo.
CONCLUSÕES: o conteúdo das fontes de informação catalogadas não contribui de forma a suprir as necessidades de informação específicas dos profissionais de Nutrição. A integração mais eficaz entre o Ministério da Saúde e as ONGs/AIDS pode contribuir para a promoção de verdadeiros centros de informação em referência e pesquisa para os profissionais de saúde que lidam com o HIV/AIDS.
Palavras-chave: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida; Nutrição de Grupos de Risco; Organizações Não Governamentais; Acesso à Informação.
INTRODUÇÃO
O tema segurança alimentar e nutricional possui grande relevância no contexto da epidemia de HIV/AIDS. É um dos aspectos que devem ser considerados pelos profissionais que prestam atendimento às pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA), na perspectiva de ampliar a percepção do conjunto de vulnerabilidades a que possam estar expostas e, assim, aprimorar a qualidade da atenção à saúde.1
Muitos nutricionistas que atuam em projetos ou serviços especializados em DST/AIDS precisam de conhecimentos específicos nessa área, demandando material técnico que satisfaça suas necessidades de informação acerca do tratamento das PVHAs.2
A importância da alimentação e nutrição é tão relevante, que muitos autores defendem que estas deveriam ser tratadas com a mesma atenção que as análises laboratoriais e carga viral, tanto pelas características da infecção pelo HIV quanto pelos possíveis efeitos adversos das medicações antirretrovirais.3
Fontes de informação sobre a ingestão alimentar, riscos antropométricos e necessidade de nutrientes específicos são imprescindíveis para ajudar os programas e serviços de saúde a identificar os adultos e as crianças vivendo com DST/AIDS que são vulneráveis do ponto de vista nutricional.4 As informações para adequação da alimentação da PVHA são essenciais para o trabalho de manutenção e/ou recuperação do bom estado nutricional, para a diminuição dos efeitos colaterais da terapia antirretroviral e, consequentemente, para a melhora da qualidade de vida desses pacientes.2
A produção e a disponibilidade de informações técnicas e científicas sobre o vírus e a doença são essenciais, entretanto, é fundamental que o conhecimento disponível aos profissionais da saúde e as PVHAs sejam adequados para proporcionar a recuperação e manutenção da qualidade de vida desses pacientes, ultrapassando o acesso aos cuidados básicos da saúde ou a terapêutica farmacológica.5
O desenvolvimento de conhecimentos sobre o HIV/AIDS e a Nutrição apresenta rápida evolução, surgem regularmente e novas recomendações são constantemente apresentadas e revistas à medida que são divulgadas.6 Governos e instituições de saúde provêm informação e material destinado aos profissionais, pacientes e suas famílias sobre a atenção e o apoio nutricional. Instrumentos como manuais, guias, cartilhas, livros e outros materiais, governamentais ou não, são muito úteis para fornecer ao profissional de Nutrição subsídios para seu trabalho.5
O governo brasileiro, via Ministério da Saúde, produz e disponibiliza esse tipo de material no portal do Departamento de DST, AIDS e hepatites virais. São constituídos por cartilhas práticas que oferecem informação especializada sobre alimentação e nutrição na assistência à PVHA.5 O mesmo não ocorre em outros países latino-americanos como a Argentina, Nicarágua, Honduras e México, que divulgam as políticas nacionais e planos estratégicos em HIV/AIDS em portais na internet, sem disponibilizar quaisquer produções sobre alimentação e nutrição na assistência ao tratamento de PVHA.7-10
Organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Food and Nutrition Technical Assistance(FANTA) publicaram vários guias e manuais sobre o cuidado e terapia nutricional para as PVHAs.6
Uma iniciativa brasileira de destaque é do Grupo de Estudos de Nutrição em AIDS - GENA -, que desenvolve e aprofunda temas de nutrição/HIV/AIDS, produzindo material técnico para uso do profissional, bem como de outros destinados aos usuários da rede municipal especializada de São Paulo.2
As organizações não governamentais envolvidas na luta contra a AIDS (ONGs/AIDS) também se destacam como instituições que atuam como importantes fontes de informação e pesquisa nesse campo para a comunidade de profissionais e PVHA, para satisfazer as necessidades, tendo em vista a avidez das pessoas soropositivas por informações sobre a doença e sobre o que está se passando consigo mesmas.11
A Clínica AMMOR, fundada em Belo Horizonte (Minas Gerais) no ano de 1988, é uma ONG especializada na prevenção, detecção precoce e acompanhamento da infecção pelo HIV entre meninos e meninas em risco social. Trabalhando como clínica ambulatorial, a Clínica AMMOR é hoje referência entre a população em risco social e baseia o seu atendimento em atividades de atendimento médico educativo, intervenções educativas entre os jovens e capacitação dos educadores. Para desenvolvimento de seu trabalho, conta com médicos, psicólogos, pedagogos, nutricionistas e profissionais de diversas áreas, além de parcerias com entidades governamentais e não governamentais, que encaminham crianças e adolescentes para as consultas médicas educativas.12
Este artigo pretende apresentar e discutir os resultados de trabalho realizado na Clínica AMMOR com o objetivo de identificar em seu acervo de referência as fontes de informação em nutrição/DST/AIDS que podem ser utilizadas pelos profissionais de Nutrição em sua atuação com as PVHAs.
MÉTODO
O acervo da Clínica AMMOR é constituído por livros e periódicos de assuntos diversos, catálogos, cartilhas, guias e manuais especializados em DST/AIDS. O trabalho consistiu na catalogação e classificação de 255 desses itens bibliográficos, excluindo-se apenas os periódicos. Foram definidas 10 classes de assuntos gerais a fim de permitir a reunião e organização física do acervo de forma simplificada.
Os materiais foram cadastrados em planilha que permite a identificação e a recuperação por campos de autor, título, paginação e cabeçalhos de assunto indexados a partir de leitura técnica e de acordo com os descritores autorizados pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e pelo DECS - Descritores em Ciências da Saúde do Centro Latino-Americano e do Caribe em Ciências da Saúde (BIREME) -, a fim de identificar com a máxima precisão possível o conteúdo das fontes de informação.
Foi realizada análise exploratória de fontes de informação e pesquisa acerca das publicações brasileiras específicas sobre o cuidado e a terapia nutricional de PVHA.
RESULTADOS
Entre as classes que abrangem especificamente os materiais relacionados ao DST/AIDS e às DSTs, que perfazem um total de 90 itens bibliográficos, verificaram-se conteúdos que compreendem diversidade de assuntos como prevenção e educação sanitária, terapêutica, sexualidade, epidemiologia, uso de drogas, ética médica, política governamental, projetos sociais, direitos humanos e biografias de PVHA, entre outros.
Todavia, o tema alimentação e nutrição na assistência ao tratamento de PVHA não está representado nesses materiais ou consta apenas de forma incipiente em algumas cartilhas e manuais. A maior parte do acervo é nacional e a autoria mais representativa das obras arroladas é atribuída à Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS (CN-DST/AIDS) do Ministério da Saúde.
As demais obras cobrem temas diversos nos campos das ciências sociais, medicina, educação, religião e até mesmo literatura infanto-juvenil, com o objetivo de subsidiar as diferentes demandas da comunidade atendida pela Clínica. (Tabelas 1 a 4)
DISCUSSÃO
Ainda são inexistentes no Brasil publicações bibliográficas especializadas sobre as fontes de informação em Nutrição. Sendo assim, para tornar possível a discussão dos resultados, foi necessária análise exploratória dessas fontes.
A Clínica AMMOR reuniu o acervo e o disponibiliza com o objetivo de que este sirva como material de consulta e referência para os profissionais de diversas áreas que participam do desenvolvimento de seus trabalhos, bem como para a comunidade em geral. A diversidade de informações identificada nas fontes catalogadas, de fato, vai ao encontro dos profissionais e potenciais pesquisadores que precisam de dados relevantes em suas áreas de atuação. Isto se confirma pelo conteúdo mais consistente e confiável verificado, principalmente nas fontes formais produzidas pela CN-DST/AIDS.
Embora as publicações em HIV/AIDS do Ministério da Saúde estejam presentes de forma representativa no acervo da Clinica AMMOR, a produção sobre alimentação e nutrição na assistência ao tratamento de PVHA - três obras identificadas e acessíveis livremente no portal do Departamento de DST, AIDS e hepatites virais na Internet - não se encontra disponibilizada em formato impresso entre as obras reunidas na Clínica (Tabela 5).
Outros materiais foram identificados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) - base de dados de conhecimento científico e técnico em saúde da BIREME - e que também não fazem parte do acervo organizado na Clínica AMMOR (Tabela 6).
As alterações nos modos de produção, transmissão e uso da informação decorrentes das novas tecnolo-pressos. As publicações eletrônicas oferecem, de fato, mais possibilidades de acesso.13 Todavia, a realidade de diversas ONGs pode ser o enfrentamento de barreiras econômicas e sociais que dificultam esse alcance. Sendo assim, a relevância da informação em alimentação e nutrição na assistência contra o HIV/AIDS e a consequente necessidade de que esta se aproxime das comunidades devem ser consideradas para que a produção nessa área seja distribuída e disponibilizada visando a um acesso realmente eficaz.
CONCLUSÃO
A diversidade de conteúdo identificada nas fontes de informação catalogadas na Clínica AMMOR é relevante como subsídio de pesquisa especializada em HIV/AIDS para diversos profissionais de saúde. Contudo, não contribui de forma a suprir as necessidades de informação específicas dos profissionais de Nutrição para a realização de seu trabalho na Clínica ou mesmo de estudantes e pesquisadores que poderiam buscar esse acervo como referência em seu campo de conhecimento.
Tendo em vista a meta de promover agilidade no fluxo de informações atualizadas entre aqueles que lidam direta e indiretamente com a AIDS, a CN-DST/AIDS defendeu a informação como uma importante aliada no controle da epidemia, visando garantir a veiculação tanto para os profissionais de saúde quanto para a população em geral ao promover atividades de integração com segmentos da sociedade civil como as ONGs, que lutam contra a AIDS.14
Conclui-se que à medida que essa integração ocorrer de forma ideal e mais eficaz, fornecendo às ONGs/AIDS subsídios e informações essenciais a todas as áreas do conhecimento ligadas à assistência e ao tratamento da PVHA, estas poderão ser consideradas verdadeiros centros de informação em referência e pesquisa para todos os profissionais de saúde que lidam com o HIV/AIDS.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Sônia Maria de Figueiredo, pela proposta de trabalho que veio ao encontro dos meus interesses e formação profissional, pela orientação e por confiar em minhas ideias. Sinceros agradecimentos à Dra. Irene K. Adams, por ceder seu acervo a este estudo, pelo interesse e incentivo. À professora Thelma, pelas contribuições e por permitir-me finalizar este trabalho, muito obrigada!
REFERÊNCIAS
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Manual clínico de alimentação e nutrição na assistência a adultos infectados pelo HIV. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 88 p. il.
2. Grupo de Estudos de Nutrição em AIDS, DST/AIDS-GENA. Manual de orientação nutricional. São Paulo: Secretaria Municipal de Saúde; 2003.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS.Alimentação e nutrição para pessoas que vivem com HIV e AIDS. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.73 p.
4. Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación, Organización Mundial de la Salud. Aprender a vivir con el VIH/SIDA:manual sobre cuidados y apoyo nutricionales a los enfermos de VIH/SIDA. 2003. [Citado em 2009 jul. 25]. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/006/Y4168S/y4168s00.htm.
5. Brasil.Ministério daSaúde.Departamento de DST,AIDS e Hepatites Virais.[Citado em 2009 jul.29].Disponível em: http://www.AIDS.gov.br.
6. Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento. HIV/SIDA, Nutrição e segurança alimentar: o que podemos fazer: uma síntese de princípios de orientação internacionais. Washington: The World Bank; 2008. 89 p.
7. Argentina.Ministerio de Salud.[Citado em 2009 jul.25].Disponível em: http://www.msal.gov.ar.
8. Nicaragua.Ministerio de Salud.[Citado em 2009 jul.25].Disponível em: http://www.minsa.gob.ni.
9. Honduras. Secretaria de Estado en el Despacho de Salud. [Citado em 2009 jul. 25]. Disponível em: http://www.salud.gob.hn
10. Mexico.Secretaría de Salud.[Citado em 2009 jul.25].Disponível em: http://portal.salud.gob.mx/.
11. Silva CLC.ONGs/AIDS,intervenções sociais e novos laços de solidariedade social. Cad Saúde Pública, 1998; 14 (Sup. 2):129-39..
12. Clínica AMMOR. [Citado em 2009 jul. 25]. Disponível em: http://www.ammor.org.br/.
13. Rosetto M. Os novos materiais bibliográficos e a gestão da informação: livro eletrônico e biblioteca eletrônica na América Latina e Caribe.Ci.Inf. 1997;26,(1):[Citado em 2009 jul.25]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19651997000100008&lng=en&nrm=iso.
14. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS.[Citado em 2009 jul.29].Disponível em: http://www.AIDS.gov.br/c-geral/.
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