ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Avaliação das barreiras à prática de atividade física em pacientes com diferentes doenças crônicas não transmissíveis
Evaluation of barriers to physical activity in patients with different non-communicable chronic diseases
Caio Cangussu Fonseca1; Igor Cardoso Barreto1; Luciano Francisco Ferreira Silva1,; Matheus Santana Luz1; Pedro Assis Mourão1; Leda Marília Fonseca Lucinda1,2
1. Faculdade de Medicina de Barbacena - FAME/FUNJOBE
2. Universidade Federal de Juiz de Fora
Leda Marília Fonseca Lucinda
Praça Presidente Antônio Carlos, 8
São Sebastião Barbacena, MG; 36202-336
Telefone: (32) 3339-2950
Email: ledamarilia@yahoo.com.br
Instituição de realização do trabalho: Centro Ambulatorial Dr. Agostinho Paolucci (CAP); Unidades Básicas de Saúde (Carmo, Santa Cecília, Santa Efigênia, Nova Suíça e Vilela)
Resumo
INTRODUÇÃO: O sedentarismo é prevalente em pacientes com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e está associado com a alta morbimortalidade nesta população. Nesse sentido, devem ser rastreadas as possíveis barreiras à prática de atividade física nestes indivíduos.
OBJETIVO: Identificar as barreiras para atividade física em pacientes com DCNT. MÉTODOS: O presente estudo incluiu pacientes adultos com DCNT que foram submetidos ao questionário IPAQ para avaliação do nível de atividade física, posteriormente os pacientes sedentários e insuficientemente ativos responderam ao questionário de barreiras à prática de atividade física. RESULTADOS: 259 indivíduos foram entrevistados e a mediana de barreiras à prática de atividade física foi de 7,0 (5,0), sendo que dos pacientes três (1,2%) relataram nenhuma barreira, 16 (6,2%) uma única barreira, 92 (35,6%) de 2-5 barreiras, 117 (45,2%) de 6-10 barreiras, sendo as mais prevalentes dor em membros inferiores, cansaço e câimbras; alterações ósseas, coluna, amputação e ferida; sintomas como dispneia, dor precordial e taquicardia; medo de queda e presença de estresse, nervosismo e problemas pessoais. CONCLUSÃO: Pacientes com DCNT apresentam como principais barreiras à prática de atividade física dores em membros inferiores, alterações ósseas, dor na coluna, amputação e ferida e sintomas como dispneia, dor precordial e taquicardia. Maior prevalência de tabagismo, menor renda, maior índice de massa corpórea e doenças cardiovasculares foram as variáveis que se correlacionaram com o maior número de barreiras à atividade física. A partir disso, estratégias para programas de atividade física podem ser desenvolvidas para melhorar a qualidade de vida destes indivíduos.
Palavras-chave: Doença crônica. Exercício físico. Barreira. Sedentarismo
1. INTRODUÇÃO
Evidências da organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que as quatro doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (doenças cardiovasculares (DCV), câncer, o diabetes mellitus (DM) e doenças respiratórias crônicas) e os seus seis fatores de risco associados (hipertensão arterial sistêmica (HAS), tabagismo, hiperglicemia, sedentarismo, sobrepeso ou obesidade e hipercolesterolemia) são as principais condições clínicas globais para mortalidade.1 Estas doenças foram as responsáveis por cerca de 41 milhões de mortes no mundo em 2016, o equivalente a 71% do total de mortes. Globalmente, em 2016, o risco de indivíduos de 30 anos que têm pelo menos uma das principais DCNT, morrerem antes dos 70 anos foi de 21,6% para os homens e 15,0% para as mulheres.2
No Brasil, de acordo com dados do Sistema de informações sobre Mortalidade, disponibilizados eletronicamente pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, de um total de 1.312.663 óbitos registrados em 2017, as causas mais frequentes foram as doenças do aparelho circulatório (27,3%), as neoplasias (16,8%), as doenças do aparelho respiratório (11%) e o diabetes mellitus (4,8%). No conjunto, essas quatro doenças representam 59,9% dos óbitos no país. A prevalência e o impacto das DCNT devem se elevar ainda mais, uma vez que existe uma tendência de crescimento dos fatores de risco para as DCNT (hipertensão arterial sistêmica, hiperglicemia, obesidade e sedentarismo), especialmente nos países em desenvolvimento.3
A OMS definiu metas fundamentais para reduzir a mortalidade por DCNT em 25%, entre estas metas estariam a redução dos fatores de risco (tabaco, álcool, sal, inatividade física) e o acesso a medicamentos, o aconselhamento e a tecnologias para tratamento de DCNT.4 Em relação ao sedentarismo especificamente, estudo publicado no Lancet relatou que o sedentarismo seja por volta de 31,1% entre indivíduos adultos do mundo.5 Na avaliação de inatividade física no Brasil, dados disponíveis mostraram um aumento de 41,1% em 2002 para 52,0% de sedentarismo em 2007.6
O combate ao sedentarismo deve ser uma das metas para redução de morbimortalidade da população, pois ser considerado fisicamente ativo é uma das principais recomendações para manutenção ou melhoria da qualidade de vida, com redução do risco para várias doenças crônicas.7
Para estratégias de aumento nos níveis de atividade física na população, devem ser consideradas e rastreadas as possíveis barreiras à prática de atividade física, objetivando o estabelecimento de estratégias para a redução do sedentarismo. Estudo realizado com funcionários públicos brasileiros (35-74 anos), que envolveu portadores de dislipidemia, diabetes e hipertensão, foi mostrado que as principais barreiras à prática de atividade física são idade, excesso de peso corporal, saúde negativa percebida, tabagismo regular e falta de oportunidade de se exercitar no bairro.8 Estudo alemão demonstrou que as principais
barreiras para a prática de atividade física foram presença de diferentes doenças, falta de companhia e falta de interesse.9 Já Amorin et al1 avaliaram as barreiras em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica e observaram que as principais barreiras nestes pacientes foram falta de estrutura, influência social e falta de interesse.
A percepção de barreiras e a motivação para a atividade física podem apresentar impacto significativo na saúde de toda a população, principalmente daqueles com comorbidades crônicas. Portanto, o estudo teve como objetivo a avaliação das barreiras à prática de atividade física em pacientes com diferentes doenças crônicas não transmissíveis nos ambulatórios de cardiologia, pneumologia, endocrinologia e gastroenterologia do Centro Ambulatorial Dr. Agostinho Paolucci (CAP) e Unidades Básicas de Saúde de uma cidade do interior de Minas Gerais.
2. MÉTODOS
2.1 Desenho de estudo/ População
A presente pesquisa se trata de um estudo transversal observacional, foi realizada de agosto de 2018 a março de 2020, a amostragem foi por conveniência e composta por indivíduos adultos (> 18 anos), de ambos os sexos, que aceitaram participar do protocolo e que frequentam os seguintes serviços:
Centro Ambulatorial Dr. Agostinho Paolucci (CAP); Unidades Básicas de Saúde (Carmo, Santa Cecília, Santa Efigênia, Nova Suíça e Vilela) com diagnóstico de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma e doenças pulmonares restritivas, doença renal crônica (DRC), insuficiência cardíaca congestiva (ICC), doenças cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).
Foram excluídos pacientes com limitação física que impedia a realização de atividades físicas (distúrbios neurológicos, musculoesqueléticos e osteoarticulares incapacitantes), déficit cognitivo avaliado pelo exame do estado mental e com deficiência auditiva e de fala.
2.2 Protocolo experimental
2.2.1 Avaliação cognitiva
Para avaliação cognitiva foi aplicado o teste do mini exame do estado mental - versão curta com 6 itens, que avaliou a orientação temporal, registro de memória imediato e memória recente.11 Esta versão é constituída de seis questões, sendo que três erros ou mais sugere déficit cognitivo.
2.2.2 Nível de atividade física
Para mensurar o nível de atividade física dos pacientes foi aplicado o IPAQ (International Physical Activity Questionnaire), proposto pela Organização Mundial da Saúde e validado para o Brasil.12,13 Este instrumento consiste em perguntas relacionadas à frequência (dias por semana) e a duração (tempo por dia) de realização de atividade física moderada, vigorosa e caminhada. O paciente foi classificado como ativo, insuficientemente ativo ou sedentário.
2.2.3 Questionário de barreiras à prática de atividade física
Para avaliação das barreiras à prática de atividade física foi utilizado um questionário constituído de 19 questões, sendo o paciente solicitado a responder sim ou não a cada uma das perguntas realizadas.14 As questões foram separadas nos seguintes domínios: fatores associados à doença ou comorbidades, fatores associados aos sintomas ou complicações da doença, fatores associados à prática de atividade física, fatores sociais, econômicos e psicológicos.
2.3 Aspectos éticos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Barbacena sob o número de protocolo: 2.874.276.
2.4 Análise estatística
Para análises descritivas os dados foram expressos em mediana, intervalo interquartil, médias, desvio padrão e percentagens. Para avaliação dos fatores associados com barreiras à pratica de atividade física foram feitos testes de correlação de Spearman. A diferença foi considerada estatisticamente significante quando o valor de p foi menor do que 0,05. Todas as análises foram realizadas no programa SPSS 17.0 for Windows (SPSS Inc, Chicago, EUA).
3. RESULTADOS
O estudo consistiu em 296 pacientes entrevistados, sendo 37 (12,5%) considerados ativos e 259 (87,5%) sedentários ou insuficientemente ativo. A análise das características sociodemográficas e clínicas foram realizadas, apenas, nos pacientes sedentários ou insuficientemente ativo com doenças crônicas (Tabela 1). O grupo foi composto por pacientes com comorbidades como doenças cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doença renal crônica e entre outras.
As barreiras à prática de atividade física em pacientes com doença crônica foram analisadas (Tabela 2). A mediana de barreiras à prática de atividade física foi de 7,0 (5,0), sendo que três pacientes (1,2%) relataram nenhuma barreira, 16 pacientes (6,2%) uma única barreira, 92 pacientes (35,6%) de duas a cinco barreiras, 117 pacientes (45,2%) de seis a 10 barreiras e 31 pacientes (12%) relataram 10 ou mais barreiras. As barreiras mais comumente relatadas foram: presença de dor em membros inferiores, cansaço e câimbras (60,6%), outras comorbidades tais como alterações ósseas, coluna, amputação e ferida (51%), sintomas como dispneia, dor precordial e taquicardia (49,8%), medo de queda (48,6%), presença de estresse, nervosismo e problemas pessoais (47,10%).
A maior prevalência de tabagismo, menor renda, presença de DCV e maior IMC se correlacionaram com o maior número de barreiras à prática de exercício (Tabela 3).
As correlações estatisticamente significantes entre as perguntas do questionário de barreiras à prática de exercício e às variáveis avaliadas também foram registradas (Tabela 4). Observamos, entre outras correlações, que pacientes com DCV, ICC e DRC acreditam que sua doença seja um impedimento à realização de atividade física. A presença de DCV e maior número de comorbidades tiveram maior correlação com a orientação dos profissionais de saúde para não realizar exercícios físicos. A presença de DCV e ICC correlacionam com sintomas como dispnéia, dor precordial, taquicardia que levam estes pacientes a deixarem de realizar as atividades físicas. Já o IMC elevado, tabagismo, presença de DCV e ICC apresentam correlação com impedimento de realização do exercício devido a dor em membros inferiores, câimbras e cansaço físico. Os pacientes que apresentam maior número de comorbidades apresentaram maior medo de sentir sintomas como dispneia, dor precordial, tonteira entre outros durante as atividades físicas. E o relato de estresse e o nervosismo como barreira à atividade física se correlacionaram com pacientes mais jovens, com menor renda e tabagistas.
4. DISCUSSÃO
No presente estudo, foram avaliadas as barreiras à prática de atividade física em pacientes com DCNT, foi observada alta prevalência de determinadas doenças, como HAS, DM e DCV. Dos entrevistados, 45,2% apresentaram de 6 a 10 barreiras, sendo que as principais foram relato de dor em membros inferiores, cansaço e câimbras (60,6%). As variáveis mais relevantes que se correlacionaram com as barreiras foram maior prevalência de tabagismo, menor renda, presença de doença cardiovascular e maior IMC.
Durante a seleção dos pacientes para o presente estudo foi observado que somente 37 (12,5%) indivíduos eram ativos, portanto, um alto índice de sedentarismo foi constatado nos pacientes com DCNT abordados. Além disto, foi observado que a maioria dos pacientes sedentários apresentavam de 6-10 barreiras, outro estudo conduzido com idosos portadores de ICC mostrou que a maioria dos pesquisados foram considerados fisicamente inativos, e que quanto maior o número de barreiras apresentadas por eles, menor era o seu nível de atividade física no tempo livre.15
A importância da prática de exercício físico em pacientes com DCNT é bem estabelecida, um estudo multicêntrico realizado com indivíduos com doenças crônicas provenientes de 20 países europeus mostrou que aqueles que realizam atividade física 2-4 vezes/semana e >5 vezes/semana apresentaram melhora de função cardíaca. Além disso, os indivíduos que realizavam atividade com maior frequência comparados com aqueles que a realizavam somente uma vez ou menos por semana apresentaram menores chances de complicações cardíacas, respiratórias assim como de desenvolverem DM tipo 2 e pressão arterial elevada.16
Portanto, o conhecimento de fatores que influenciam de forma negativa na realização de atividades físicas em pacientes com doenças crônicas é de extrema importância. Estudo realizado em 2018 com uma população de 186 pacientes com DCNT demonstrou que 133 deles eram sedentários, destes 49,63% tinham de 6-10 barreiras à prática de atividades físicas, sendo que as principais encontradas por estes pacientes foram relato de dor, cansaço ou câimbras nas pernas (69,17%) e queixa de dispneia, dor precordial, palpitação ou tonteira (57,89%).14 Dados semelhantes foram encontrados no presente estudo que avaliou pacientes com DCNT na mesma cidade no ano de 2019 e foi observado que dos 259 indivíduos sedentários 45,2% apresentaram de 6 a 10 barreiras à realização de atividades físicas. As barreiras mais prevalentes foram relato de dor em membros inferiores, cansaço e câimbras (60,6%); alterações ósseas, dor na coluna, amputação e ferida (51%); sintomas como dispneia, dor precordial e taquicardia (49,8%); medo de queda (48,6%); presença de estresse, nervosismo e problemas pessoais (47,10%). Diferentes barreiras foram demonstradas em uma pesquisa realizada a partir de dados de 14.521 participantes extraídos do estudo ELSA-Brasil com DCNT, sendo elas: idade, excesso de peso, percepção negativa de seu estado saúde, tabagismo e poucas oportunidades de se exercitar na vizinhança.8
Neste contexto, podemos sugerir que apesar do conhecimento e das recomendações dos profissionais da saúde sobre a prática de atividade física, a maioria dos pacientes com DCNT permanecem sedentários devido a presença de diversas barreiras.
Das variáveis analisadas, as que se correlacionam com maior número de barreiras para prática de atividade física foram: tabagismo, menor renda, DCV e IMC elevado. No estudo de 2018, com pacientes DCNT sedentários, as variáveis que se correlacionaram foram: o nível de escolaridade, a renda e a presença de hipertensão arterial, ICC e DCV.14 As diferenças entre estes estudos podem estar associadas ao número total de pacientes abordados.
A correlação observada entre o tabagismo e o maior número de barreiras à prática de atividade física pode estar associada aos efeitos maléficos deste hábito social. Em um estudo prospectivo realizado na Inglaterra, foi observado que fumantes são indivíduos mais propensos a ter baixos níveis de atividade física, presença de doenças limitantes de longa data, doenças pulmonares crônicas diagnosticadas e sintomas depressivos clinicamente relevantes.17 Dados de uma revisão sistemática confirmaram que fumantes são menos aderentes aos programas de reabilitação física.18
Em relação a influência da renda, foi realizado um estudo que avaliou a associação das condições socioeconômicas com a prática de atividades físicas em adultos e idosos. Os resultados indicaram que a população da classe C apresentava mais chances de ser inativa quando comparada às classes A e B, provavelmente, devido à pouca disponibilidade de horário ou opções acessíveis para conseguir efetuar a prática regular de atividade física.19 Já os pacientes com doenças crônicas são os que se consideram mais inabilitados para prática de atividade física, seja por sintomas como dispneia, palpitação, edema de membros inferiores ou pelo medo que a prática de atividade física provoque estes sintomas.14 O elevado IMC em adultos está relacionado diretamente com DCV, DM, osteoartrite, dificuldades respiratórias como hipoventilação crônica (síndrome de Pickwick) e HAS, produzindo sintomas limitadores como dispneia, fadiga, dor nos membros inferiores, ansiedade e depressão.20
Neste sentido, devem ser consideradas e rastreadas as possíveis barreiras à prática de atividade física, objetivando o estabelecimento de estratégias para a redução do sedentarismo.
Nossos resultados demonstram que é fundamental a avaliação das reais barreiras que estão associadas ao sedentarismo por estes pacientes. A observação de alta prevalência de relatos de dor, cansaço ou câimbras nos membros inferiores como barreira à prática de atividade física pode ser explicada pela alta prevalência de ICC crônica. Esta alteração cardiovascular, assim como outras DCV, obesidade e tabagismo, correlacionaram-se significativamente com estes relatos. Sabe-se que na ICC existe a redução do fluxo sanguíneo muscular, o que acarreta a deterioração intrínseca da musculatura esquelética periférica ocasionando fraqueza e fadiga.21 A aterosclerose, presente na DCV, é uma anormalidade que também compromete o fluxo sanguíneo e pode ser a causa de doença arterial periférica (DAP), com sintomas de claudicação intermitente.22 Há evidências de que o tabagismo pode piorar a dor de membros inferiores ao longo do tempo por ser fator de risco, por exemplo, de osteoartrite, fibromialgia, potencializar lesões e associar-se com DAP.23,24,25 Da mesma forma, o IMC elevado está relacionado à multimorbidade e é um preditor independente de dor crônica, pois pressiona as articulações de sustentação de peso, reduz a atividade física e contribui para o descondicionamento físico.26
Outro importante obstáculo à prática de exercício, frequente neste estudo, foi a queixa de dispneia, dor precordial, palpitação ou tonteira (49,8%), os quais são sintomas esperados em pacientes com DCV e ICC. Estudo publicado em 2018, com idosos com ICC, observou uma alta prevalência de dispneia (27,4%) como barreira à prática de atividade física.15 Estes sintomas apresentam uma alta prevalência em pacientes idosos com ICC crônica, como relatado por Xavier et al., que observaram a queixa de dispneia em 85,9%, palpitação em 46,1%, precordialgia em 11,0% e tonteira em 6,8% dos idosos.27 Entretanto, respeitando as limitações e severidade da condição de cada indivíduo, a prática de atividade física pode ser tão efetiva quanto um tratamento medicamentoso, pois melhora a condição física e funcional de pacientes com ICC, DCV, IMC elevado e DPOC, apesar da sintomatologia de dor em membros inferiores, câimbras, dispneia, precordialgia.28
Nesta pesquisa, observamos correlações entre o medo de queda, como barreira à prática de atividade física e o maior número de comorbidades de pacientes com DCNT. Sugere-se que o maior número de comorbidades seja um importante limitador físico nestes pacientes. Em estudo conduzido por Lee et al, constatou-se a associação entre o número de comorbidades com menor nível de exercício físico, redução nas atividades da vida diária e o medo de cair.29
O estresse, nervosismo e problemas pessoais (47,10%) foram barreiras à prática de atividade física presentes neste estudo e apresentaram correlação com baixa renda e tabagismo. Sugere-se que esta correlação aconteça devido à população deste estudo ser, em sua maioria, composta por indivíduos hipertensos, diabéticos e com DCV, que têm o estresse e o tabagismo como importantes fatores de risco.1
Importante ressaltar que somente 12,40% dos entrevistados receberam orientações de um profissional de saúde para não realizar atividade física. Entretanto, mesmo com a recomendação dos profissionais de saúde a respeito da realização de atividade física, e de seus efeitos serem comprovadamente benéficos a saúde, no presente estudo uma grande porcentagem dos pacientes pesquisados manifestou sedentarismo por acreditarem que exercícios físicos sejam impedidos por sua doença.
Uma metanálise realizada por Panasen et al. comprovou que o exercício físico em paciente com DCNT, como ICC crônica, DCV e DRC, melhora a capacidade funcional e reduz a progressão da doença.28 Portanto, respeitando as contraindicações preconizadas, não há recomendação na literatura da não prática de atividade física, mesmo em pacientes com DCV em estado avançado. Apresenta-se apenas evidências de que o exercício físico é necessário, desde que se adeque à condição do paciente, individualizando qualidade, intensidade, duração e frequência para não agravar a doença ou aumentar mortalidade.30 Estes estudos corroboram o benefício do exercício físico e a importância do profissional de saúde para prescrever e elucidar as dúvidas sobre os exercícios físicos adequados para pacientes com DCNT. Portanto, entende-se que, possivelmente, o entrevistado deste estudo poderia apresentar outra limitação física não relatada ou houve erro de comunicação médico/ paciente que necessitam apresentar uma boa relação para esclarecimento das reais limitações da DCNT.
Do ponto de vista clínico, a identificação das barreiras à prática de atividade física, que podem ser de fácil abordagem pelos profissionais de saúde, pode contribuir para a orientação individualizada melhorando a aderência destes pacientes com DCNT aos exercícios físicos.
O presente estudo apresenta algumas limitações como número reduzido de pacientes nas diferentes DCNT, a ausência de avaliação da severidade destas doenças, o que dificultou análises de associação mais abrangentes com as barreiras à prática de atividade física. Portanto, sugerimos que novos estudos sejam conduzidos em populações estratificadas por sua doença crônica e seu nível de gravidade, para melhor auxiliar aos profissionais de saúde na prescrição individualizada da atividade física.
5. CONCLUSÃO
Concluímos que pacientes com DCNT apresentam como principais barreiras à prática de atividade física relato de dor em membros inferiores; alterações ósseas, dor na coluna, amputação e ferida e relato de sintomas como dispneia, dor precordial e taquicardia. A maior prevalência de tabagismo, menor renda, presença de DCV e maior IMC foram as variáveis que se correlacionaram com o maior número de barreiras à prática de exercício. Portanto, reconhecidas estas barreiras e suas principais correlações, elas devem ser consideradas pelos profissionais de saúde para elaboração de estratégias de promoção à saúde e melhora da qualidade de vida desses indivíduos.
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