ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Análise fisiopatológica das manifestações clínicas respiratórias em pessoas infectadas pelo vírus SARS-CoV-2
Pathophysiological analysis of respiratory clinical manifestations in people infected with SARS-CoV-2 virus
Sidney Souza Rodrigues1; Rachel Andrade Galli2
1. Faculdade Uninassau Manaus
2. Universidade Nilton Lins
Sidney Souza Rodrigues
E-mail: sidney.fisioterapia@gmail.com
Recebido em: 14 Setembro 2020
Aprovado em: 14 Dezembro 2021
Data de Publicação: 31 Março 2022
Conflito de Interesse: Não há
Editor Associado Responsável: Enio Roberto Pietra Pedroso
Resumo
Na atualidade, a população mundial vive um dos momentos mais críticos e assustadores relacionados à área da saúde, onde a mutação viral da família do "coronavírus" trouxe o SARS-CoV-2, um agente patogênico que deriva da linhagem do SARS-CoV e MERS-CoV, e que ataca e debilita o funcionamento fisiológico, principalmente, do sistema respiratório. Vários países vivenciam a pandemia denominada "novo coronavírus", vale resaltar que a escolha do nome vem das várias formas já vivenciadas desse vírus, iniciando em 1937, com os primeiros isolamentos por manifestação dessa família viral. Assim, após a descoberta dessa nova mutação dos ancestrais virais, no final do ano de 2019, acontece seu primeiro surto na China. O objetivo desse artigo é analisar a fisiopatologia do "novo coronavírus" em busca das respostas orgânicas a esse ataque. Foi utilizada a metodologia em caráter de revisão integrativa descritiva e qualitativa de artigos indexados na plataforma PubMed, SciELO e por informações disponíveis no portal Manual MSD, Ministério da Saúde do Brasil e Organização Mundial de Saúde. Os resultados encontrados indicam que as alterações fisiopatológicas manifestadas na infecção por SARS-CoV-2, possuem as características estreitamente semelhantes às encontradas na síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV) e na síndrome respiratória do oriente médio (MERS-CoV), que são desencadeadas por outros patógenos da família coronavírus. Conclui-se que estamos lidando com um tipo específico de pneumonia e que possui um acometimento progressivo e fatal, levando a destruição de estruturas pulmonares indispensáveis para a difusão de gases (hematose).
Palavras-chave: COVID-19; Novo Coronavírus; Fisiopatologia.
INTRODUÇÃO
Em 2020, a população, mundialmente, sofre os impactos e repercussões negativas de uma pandemia caracterizada por uma infecção que acomete o sistema respiratório, resultando em milhares de óbitos em vários países no mundo. Tudo o que se sabe nos dias atuais, é que esse patógeno causa uma série de complicações, e que, assemelha-se à sintomatologia da pneumonia. Essa nova variação de pneumonia, chamada de COVID-19 é causada por uma nova mutação viral da família do coronavírus humano, denominado "SARS-CoV-2" ou "2019-nCoV", até então, pouco compreendido, por se tratar de algo muito recente, porém, já existem registros na literatura sobre o sequenciamento do genoma por cientistas chineses, e mais recentemente por cientistas brasileiras.
O coronavírus pertence a uma linha de vírus que desencadeiam vários sintomas, porém com uma facilidade receptiva ao sistema respiratório. Este novo patógeno foi descoberto em 31 de dezembro de 2019, posteriormente a casos notados na China. Em consequência ao perfil microscópico (semelhante a uma coroa) de alguns vírus pertencentes a esta família, os mesmos foram descritos como "coronavírus" em 1965, apesar de isolados pela primeira vez em 19371.
A pandemia oriunda da infecção por coronavírus (SARS-CoV-2), inicialmente com seu epicentro na China, foi definido como uma "pneumonia de etiologia desconhecida", onde os principais aspectos clínicos para o diagnóstico dessa patologia foram: febre (=38ºC), características radiográficas de pneumonia, leucopenia ou linfopenia e ausência de melhora após tratamento com antibiótico no período de 3 a 5 dias, de acordo com as diretrizes padrões para o tratamento de pneumonia. Os sintomas precoces foram apresentados por homens jovens, que relataram mais propensão a exposição ao mercado atacadista de frutos do mar de Huanan/Huanan seafood wholesale market2.
A origem do SARS-CoV-2 ainda permanece desconhecida, sendo que os primeiros casos expostos possuem correlação com o mercado atacadista de frutos do mar em Huanan, na China, o qual comercializava ilegalmente animais silvestres, tal como, morcego. Os autores relatam também que a contaminação pode acontecer de humano para humano por meio de gotículas respiratórias, contato e por contaminação fecal3.
Até dezembro do ano de 2019, existiam somente 6 tipos de vírus da família coronavírus: HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63, HKU, SARS-CoV e MERS-CoV. Os quatros primeiros causam infecções respiratórias leves, apesar de alguns deles, raramente causarem infecções complexas em bebês e idosos. Os tipos SARS-CoV e MERS-CoV são os mais agressivos, os mesmos afetam o trato respiratório inferior, desenvolvendo, respectivamente, síndrome respiratória aguda grave e síndrome respiratória do oriente médio4.
Um estudo realizado na China sugere que a infecção pelo "novo coronavírus" ocorre prevalentemente em pessoas do sexo masculino, indicando que provavelmente o cromossomo X e os hormônios sexuais femininos desempenham um papel importante na imunidade inata e adaptativa, porém os pesquisadores não apresentaram uma explicação genética e/ou bioquímica para tal sugestão5.
Até o presente momento, ainda não existe medicamento antiviral com efeitos definidos exclusivamente para o tratamento desta infecção, as abordagens clínicas são baseadas na sintomatologia desta doença. No estudo de Mo et al. (2020)6, os pacientes hospitalizados desenvolveram pneumonia grave, edema pulmonar e síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) ou falência múltipla dos órgãos, no entanto, os aspectos e manifestações clínicas ainda são poucos conhecidos.
MÉTODOS
O trabalho proposto possui características de uma pesquisa bibliográfica qualitativa descritiva (revisão integrativa) dos livros de fisiologia e fisiopatologia, respectivamente, de 2009 e 2012, artigos indexados na plataforma PubMed e SciELO e informações disponíveis no site Manual MSD, portal do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde, no período de março de 2020 a abril de 2020. Para localizar artigos científicos, os termos: "COVID-19" AND "clinical manifestations", "COVID-19" AND "clinical aspects", "COVID-19" AND "clinical respiratory aspects", "SARS-CoV" AND "symptoms", "coronavirus human types", "human coronavirus". Este estudo incluiu artigos que abordam a etiologia, fisiopatologia, perfil epidemiológico e aspectos clínicos respiratórios de pessoas infectadas pelo vírus COVID-19. Artigos incompletos, cartas editoriais e artigos que abordam qualquer tipo de infecção que não seja pelo "novo coronavírus" humano foram excluídos. Para catalogar, analisar e gerenciar os artigos selecionados, foi utilizado o software Mendeley Desktop.
Coronavírus
Atualmente, existem 7 tipos de vírus (conforme a Tabela 1), pertencentes a família coronavírus humano, apenas três deles (SARS-CoV, MERS-CoV e SARS-CoV-2) se manifestam de forma mais agressiva no organismo humano, raramente os demais (HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63 e HKU) causam infecções graves em bebês e idosos4.
Em alguns estudos (Tabela 2), os principais sintomas apresentados por pacientes infectados por SARS-CoV-2, e que foram admitidos e monitorados por profissionais de saúde, são: febre, tosse, dor de cabeça, mialgia e, em casos graves, os pacientes apresentaram dispneia.
Alterações fisiopatológicas no sistema respiratório na COVID-19 (infecção pelo vírus SARS-CoV-2)
Os inúmeros casos do novo coronavírus (SARS-CoV-2) que iniciaram em Huanan (sul da China), se proliferaram velozmente ao redor do mundo, logo, trouxeram mundialmente, uma repercussão negativa e perigosa devido à sua potencial capacidade de se transformar em uma pandemia, deixando em alerta diversos países em diferentes continentes.
Tudo que se sabe até o momento é que esta infecção acomete primariamente o sistema respiratório, até mesmo pela facilidade em transporte por essa via, assim demonstrando alterações fisiopatológicas que identificam a presença desse agente patogênico. Apresenta-se inicialmente com sintomatologia leve de afecção respiratória até, em casos mais graves, evoluindo com características de pneumonia, síndrome do desconforto respiratório (SDRA) e insuficiência respiratória levando a falência múltipla dos orgãos3.
Partindo desta linha de pensamento, em relação a fisiopatologia, pesquisas realizadas na China, demostraram que as manifestações apresentadas pelo novo coronavírus são semelhantes a MERS-CoV e SARS-CoV, apontando uma possível correlação fisiopatológica entre ambas6.
Na China, durante o início do surto, 13,8% das manifestações iniciais foram de casos severos, onde os receptores do vírus SARS-CoV-2 se encontravam presentes nos pulmões. Entretanto, a literatura aponta a forte necessidade de pesquisas que objetivem a investigação acerca da replicação, imunidade e infectividade específica deste vírus em diversas partes do corpo humano, para que auxilie a interpretações das manifestações clínicas que são expressas também, além do sistema respiratório14.
Para o entendimento fisiopatológico, é necessário o conhecimento do padrão de funcionalidade do corpo humano. Tendo em vista, o enfoque do SARS-CoV-2 sobre o sistema respiratório, o processo de hematose é uma sequência contínua e sistemática realizada através da estrutura morfofuncional respiratória (zona de transporte e zona de transição respiratória), este processo (Organograma 1) é extremamente importante para suprir a necessidade de oxigênio (O²) no organismo dos mamíferos15.
As trocas gasosas são realizadas na "unidade alveolocapilar", onde estas estruturas são recobertas por três tipos celulares (conforme Tabela 3), sendo responsáveis pelo armazenamento, secreção de surfactante e pela fagocitação de corpos estranhos no sistema respiratório, assim garantindo a funcionalidade e proteção deste sistema15.
Porém, uma das principais características dos vírus é a capacidade de mutação, gerando cada vez novas formas para despistar o sistema imunológico do seu futuro hospedeiro, então a diversidade de coronavírus já classificam eles como uma disponibilidade de genoma RNA de fita simples positiva (RNA+), ou seja, são RNA mensageiros (RNAm), os quais serão traduzidos pelos ribossomos das células hospedeiras. A atual e possível hipótese sustentada para explicar a fisiopatologia do SARS-CoV-2, é que ao ser infectado, o hospedeiro apresentará uma resposta imune, entretanto, esta reação pode ser importante para patogênese das manifestações clínicas. Nos seres humanos, identificou-se que o receptor celular do novo coronavírus é a enzima conversora de angiotensina II (ECA2), a qual é encontrada consideravelmente nas células do epitélio alveolar pulmonar, porém são encontradas também em células renais, cardíacas, gastrointestinais e dos vasos sanguíneos. Em decorrência desta infecção, é desencadeada a regulação negativa da expressão da ECA2, o que estimula a produção demasiada de angiotensina II, aumentando a permeabilidade vascular do pulmão, vulnerabilizando e danificando potencialmente os tecidos pulmonares16.
Vale destacar que alterações fisiopatológicas relacionadas à coagulação sanguínea em pacientes em Wuhan na China, foram descritas em uma correspondência de série de relatos de casos. O paciente em questão, do sexo masculino, 69 anos, diagnosticado através do teste RT-PCR com o novo coronavírus, possuía comorbidades pré-existentes (hipertensão, diabetes e acidente vascular encefálico), o mesmo, apresentou tosse, febre, dor de cabeça, dispneia e diarreia. Posteriormente, recebeu como tratamento para insuficiência respiratória hipoxêmica, a ventilação mecânica invasiva. Dentre os achados em resultados de exames laboratoriais pertencentes ao protocolo de admissão do paciente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), destacaram-se: leucocitose, trombocitopenia, aumento de tempo de protrombina, tromboplastina e elevação de fibrinogênio e D-dímero, marcadores que apontam o surgimento de trombose venosa profunda (TVP) e tromboembolismo pulmonar (TEP). Em exames sorológicos, assim como o paciente supracitado, outros dois infectados pelo vírus SARS-CoV-2, manifestaram a presença de anticorpos anticardiolipina IgA, anti-ß2, glicoproteína I IgA e IgG17.
Um estudo realizado com 499 pacientes graves, no Hospital Tongji da Universidade de Ciência e Tecnologia Huazhong em Wuhan, entre os dias 01 de janeiro a 13 de fevereiro de 2020, demostrou que a produção exacerbada de trombina e o desligamento da fibrinólise são os produtos da disfunção das células do endotélio, fenômeno desencadeado pelo processo infeccioso, o que resulta no aumento na coagulação dos pacientes com SARS-CoV-2. Outro fenômeno descrito pelos pesquisadores após uma dissecção pulmonar recente, foi a oclusão e microtrombose em pequenos vasos pulmonares, fenômeno que é justificado pela hipóxia no paciente grave, a qual estimula a formação de trombose e aumento da viscosidade sanguínea18.
Além disso, evidências clínicas atuais indicam que os casos mais graves, são singularizadas por hiperinflamação, desequilíbrio no sistema angiotensina-aldosterona, um peculiar tipo de vasculopatia, microangiopatia trombótica e coagulopatia intravascular. Por meio dessas evidências clínicas alguns pesquisadores defendem a hipótese de que a coagulopatia induzida na doença COVID-19 está estreitamente ligada ao aumento do processo inflamatório, alterações das células endoteliais e desequilíbrio do sistema renina-angiotensina19.
Pneumonia, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e insuficiência respiratória (IR)
A pneumonia é definida como um processo infeccioso que dificulta a ventilação e difusão pulmonar. Microrganismos, tais como: fungos, bactérias e vírus são os agentes que deflagram esta infecção. Essa patologia é classificada em adquirida na comunidade e hospitalar (quando o contágio ocorre em ambiente hospitalar ou até 48 horas após a alta do paciente)20.
Ainda, de forma incomum, existe uma outra variação de sintomas e características que não se relacionam ao diagnóstico de pneumonia diretamente, porém, trata-se de uma forma diferenciada desse diagnóstico que, comumente é infectada pelo Mycoplasma Pneumoniae, onde apresenta como sintomas dores na base pulmonar, relatada pelo paciente como dores nas costas, e ausência de secreção. Na maioria dos casos apresentam sequelas neurais e limitantes como, por exemplo, a síndrome de Guillan-Barré e complicações do próprio sistema respiratório, como o derrame pleural, diminuindo a amplitude de movimento (ADM) da região torácica dificultando a captação de O2. Sua maior incidência acontece nas regiões que possuem clima tropical pelo aumento da umidade e, consequentemente, facilidade dos mesmo em proliferação de microrganismos.
Conforme a fisiopatologia da pneumonia descrita acima, o patógeno, na tentativa de invasão ao organismo sadio, estimula o corpo a produzir reflexos que objetivam o expelir através da tosse e da mucosa mucociliar que se localiza a "zona de transporte", porém quando o mesmo não consegue expelir o agente infeccioso, reações inflamatórias e imunes são iniciadas, principalmente no tecido intersticial do pulmão e dos alvéolos. Quando esse processo de defesa é ativado, os alvéolos inflamados são inundados por exsudato e, posteriormente, outras células e proteínas (hemácias, leucócitos e fibrinas) se unem formando consolidações nos tecidos do pulmão, que se tornam visíveis em imagens radiográficas. Os danos e destruição dos pneumócitos tipo II são ocasionados pela junção de receptores presentes no epitélio respiratório aos patógenos, tal fenômeno acontece e se expande nos pulmões quando uma infecção viral se associa à infecção bacteriana (comumente na pneumonia adquirida na comunidade). Em virtude de lesões situadas no epitélio alveolar (composta por pneumócitos I e II) e no endotélio vascular (que possuem a enzima conversora de angiotensina), uma cascata inflamatória grave é deflagrada, o que por volta de 24 a 48 horas, torna-se na síndrome do desconforto respiratório agudo. Neste caso, os mediadores químicos da inflamação excitam a vasodilatação alveolar, o que aumenta da permeabilidade histológica pulmonar do espaço alveolar, provocando o edema pulmonar, destruindo acentuadamente os pneumócitos II, acumulando secreção e inibindo a produção de sufactante, chegando ao seu produto final, que é caracterizado pelo colabamento alveolar (atelectasia). A SDRA pode ser revertida por um diagnóstico precoce, e em alguns casos acontecem a perda de volume e função pulmonar, que é atribuída ao processo deliberado no Organograma 220.
Na pneumonia, a difusão dos gases é dificultada, causando a hipóxia e acidose metabólica. Uma vez o tratamento adequado aplicado no paciente diagnosticado, a cura é atingida, porém deixando sequelas significativas que podem ser fatores de risco para outras doenças do trato respiratório. Ainda, interfere em todo equilíbrio do corpo, atingindo, principalmente, a homeostase dos níveis de ácido no sangue que acomete todo ciclo de energia celular para suprir a funcionalidade dos sistemas. Assim, fortalece a preocupação em pacientes com históricos de acometimentos respiratórios em adquirir o SARS-CoV-2, por se tratar de um vírus que tem mais intimidade com o sistema respiratório e, nesse caso, terá uma facilidade de adentrar no mesmo, podendo agravar ainda mais sua funcionalidade20.
Manifestações do SARS-CoV-2 em outros órgãos e sistemas
Ainda que alguns estudos enfatizem, principalmente, o ataque ao sistema respiratório, de acordo com pesquisas publicadas em bases de dados científicas, identificam-se possíveis correlação de manifestações clínicas em outros sistemas do corpo humano associado ao SARS-CoV-2, tais como: cardiovascular, digestório e sistema nervoso central.
Entretanto, deve-se manter a cautela no diagnóstico destes eventos em outros sistemas relacionado ao "novo coronavírus" humano, especialmente no que se refere a alterações neurológicas, pois as evidências das manifestações neurológicas ainda são escassas e possuem qualidade baixa21.
Evidências mostram que comorbidades cardiovasculares pré-existentes (hipertensão, doença coronariana e cardiomiopatias) e a idade avançada, são potenciais riscos para o comprometimento cardíaco e óbito de pacientes infectados pelo "novel coronavírus". As alterações cardíacas são marcadas pelo aumento de troponina, que pode apontar lesão do músculo miocárdio, incluindo a miocardite e disfunção na diástole do ventrículo esquerdo22-24.
Reforçando a ligação do vírus SARS-CoV-2 ao receptor presente na enzima conversora de angiotensina II, sabemos da existência da mesma no sistema gastrointestinal e vale ressaltar que a enzima é presente de forma abundante nesse sistema, especificamente no intestino delgado. Ainda, a etiopatogenia da diarreia não está completamente compreendida, porém, existe a hipótese de que a infecção por este vírus desencadeie mudanças na permeabilidade do intestino, o que provavelmente causa a má absorção de moléculas pelos enterócitos25,26.
CONCLUSÃO
Portanto, conclui-se que apesar da escassez de estudos que expliquem a fisiopatologia da COVID-19 (infecção por SARS-CoV-2), as pesquisas descrevem que estamos lidando com um tipo específico de pneumonia, que possui relação direta com a SDRA e IR, devido ao acometimento progressivo, veloz e fatal que é desencadeado. Neste caso, a homeostasia respiratória é acometida, consequentemente se tornando responsável por promover e destruir as estruturas pulmonares indispensáveis para a difusão de gases (hematose), em alguns casos, levando a sua vítima ao óbito. Assim, sugerimos que as pesquisas continuem buscando possibilidades de prevenção, tratamento e cura para esta patologia, afim de diminuir os riscos, complicações e mortes.
COPYRIGHT
Copyright© 2020 Rodrigues et al. Este é um artigo em acesso aberto distribuído nos termos da Licença Creative Commons. Atribuição 4.0 Licença Internacional que permite o uso irrestrito, a distribuição e reprodução em qualquer meio desde que o artigo original seja devidamente citado.
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Coronavírus [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020; [acesso em 20202 Mar 23]. Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#casossuspeito
2. Li Q, Guan X, Wu P, Wang X, Zhou L, Tong Y, et al. Early transmission dynamics in Wuhan, China, of novel coronavirus-infected pneumonia. N Engl J Med. 2020 Mar;382(13): 1199-207.
3. Yang W, Cao Q, Qin L, Wang X, Cheng Z, Pan A, et al. Clinical characteristics and imaging manifestations of the 2019 novel coronavirus disease (COVID-19): a multi-center study in Wenzhou city, Zhejiang, China. J Infect. 2020 Abr;80(4): 388-93.
4. Chen Y, Liu Q, Guo D. Emerging coronaviruses: genome structure, replication, and pathogenesis. J Med Virol. 2020 Abr;92(4):418-23.
5. Cheng Z, Lu Y, Cao Q, Qin L, Pan Z, Yan F, et al. Clinical features and chest CT manifestations of coronavirus disease 2019 (COVID-19) in a single-center study in Shanghai, China. AJR Am J Roentgenol. 2020 Jul;215(1):121-6.
6. Mo P, Xing Y, Xiao Y, Deng L, Zhao Q, Wang H, et al. Clinical characteristics of refractory COVID-19 pneumonia in Wuhan, China. Clin Infect Dis. 2020 Mar;ciaa270. DOI: https://doi.org/10.1093/cid/ciaa270
7. Vabret A, Dina J, Brison E, Brouard J, Freymuth F. Human coronaviruses (HCoV). Pathol Biol. 2009 Mar;57(2):149-60.
8. Bradley B, Bryan A. Emerging respiratory infections: the infectious disease pathology of SARS, MERS, pandemic influenza, and legionella. Sem Diagn Pathol. 2019 May;36(3):152-9.
9. Rodriguez-Morales A, Cardona-Ospina J, Gutiérrez-Ocampo E, Villamizar-Peña R, Holguin-Rivera Y, Escalera-Antezana J, et al. Clinical, laboratory and imaging features of COVID-19: a systematic review and meta-analysis. Travel Med Infect Dis. 2020 Mar/Apr;34(2020):101623.
10. Manual MSD. Versão para profissionais de saúde - coronavírus [Internet]. Brasil: Manual MSD; 2020; [acesso em 2020 Mar 23]. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional
11. Lupia T, Scabini S, Pinna SM, Di Perri G, Rosa F, Corcione S. 2019 novel coronavirus (2019-nCoV) outbreak: a new challenge. J Glob Antimicrob Resist. 2020 Jun;21:22-7.
12. Chen N, Zhou M, Dong X, Qu J, Gong F, Han Y, et al. Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study. Lancet. 2020;395(10223):507-13.
13. Adhikari SP, Meng S, Wu Y, Mao Y, Ye R, Wang Q, et al. Epidemiology, causes, clinical manifestation and diagnosis, prevention and control of coronavirus disease (COVID-19) during the early outbreak period: a scoping review. Infect Dis Poverty. 2020 Mar;9(1):29.
14. Wölfel R, Corman VM, Guggemos W, Seilmaier M, Zange S, Müller MA, et al. Virological assessment of hospitalized patients with COVID-2019. Nature. 2020 Abr;581(7809):465-9.
15. Aires MM. Fisiologia. 4th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012.
16. Favalli E, Ingegnoli F, Lucia O, Cincinelli G, Cimaz R, Caporali R. COVID-19 infection and rheumatoid arthritis: Faraway, so close!. Autoimmun Rev. 2020 Mai;19(5):1-7.
17. Zhang Y, Xiao M, Zhang S, Xia P, Cao W, Jiang W, et al. Coagulopathy and antiphospholipid antibodies in patients with Covid-19. N Engl J Med. 2020 Abr;382(17):e38.
18. Tang N, Bai H, Chen X, Gong J, Li D, Sun Z. Anticoagulant treatment is associated with decreased mortality in severe coronavirus disease 2019 patients with coagulopathy. J Thromb Haemost. 2020 Mai;18(5):1094-9.
19. Henry B, Vikse J, Benoit S, Favaloro E, Lippi G. Hyperinflammation and derangement of renin-angiotensin-aldosterone system in COVID-19: a novel hypothesis for clinically suspected hypercoagulopathy and microvascular immunothrombosis. Clin Chim Acta. 2020 Ago;507(2020):167-73.
20. Braun CA, Cindy MA. Fisiopatologia: alterações funcionais na saúde humana. Porto Alegre: Artmed; 2009.
21. Asadi-Pooya A, Simani L. Central nervous system manifestations of COVID-19: a systematic review. J Neurol Sci. 2020 Jun;413:11632.
22. Xiong T, Redwood S, Prendergast B, Chen M. Coronaviruses and the cardiovascular system: acute and long-term implications. Eur Heart J. 2020 May;41(19):1798-800.
23. Guo T, Fan Y, Chen M, Wu X, Zhang L, He T, et al. Cardiovascular implications of fatal outcomes of patients with coronavirus disease 2019 (COVID-19). JAMA Cardiol. 2020 Jul;5(7):811-8.
24. Clerkin K, Fried J, Raikhelkar J, Sayer G, Griffin J, Masoumi A, et al. COVID-19 and Cardiovascular Disease. Circulation. 2020 Mar;141(20):1648-55.
25. D'Amico F, Baumgart D, Danese S, Peyrin-Biroulet L. Diarrhea during COVID-19 infection: pathogenesis, epidemiology, prevention, and management. Clin Gastroenterol Hepatol. 2020 Jul;18(8):1663-72.
26. Burgueño J, Reich A, Hazime H, Quintero M, Fernandez I, Fritsch J, et al. Expression of SARS-CoV-2 entry molecules ACE2 and TMPRSS2 in the gut of patients with IBD. Inflamm Bowel Dis. 2020 May;26(6):797-808.
Copyright 2024 Revista Médica de Minas Gerais
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License