ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Vigilância ativa do câncer de próstata - um conceito em evolução
Active surveillance of prostate cancer - an ongoing concept
Daniel Xavier Lima
Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. Belo Horizonte, MG, Brasil
Endereço para correspondênciaDaniel Xavier Lima
Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG
Belo Horizonte, MG, Brasil
E-mail: limadx@hotmail.com
Recebimento em: 04 Setembro 2022
Aprovado em: 19 Setembro 2022
Data de Publicação: 31 Janeiro 2023
Editor Associado Responsável
Agnaldo Soares Lima
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte/MG, Brasil
Diretor Científico da Associação Médica de Minas Gerais
Belo Horizonte/MG, Brasil
Fontes apoiadoras: Não houve fontes apoiadoras
Conflito de interesses: Os autores declaram não ter conflitos de interesse
Resumo
A vigilância ativa é a solução encontrada pela urologia para a condução de tumores prostáticos com características de pouca agressividade. Desenvolvida especialmente após as polêmicas que envolveram a validade do rastreamento, essa abordagem vem sendo consolidada como a melhor maneira de se evitar o tratamento desnecessário do câncer de próstata e precisa ser compreendida por todos os médicos que lidam com a saúde do homem.
Palavras-chave: Neoplasias da Próstata; Medicina Preventiva; Saúde do Homem.
O impacto do rastreamento do câncer prostático foi motivo de opiniões divergentes ao longo da última década, especialmente após o USPTF (US Preventive Task Force) divulgar, em 2012, opinião contrária ao exame de homens assintomáticos. Em 2017, após análise mais aprofundada das publicações a esse respeito, essa entidade estadunidense de recomendações sobre saúde coletiva mudou seu parecer, sugerindo então que os riscos e benefícios do rastreamento devem ser informados aos pacientes para o processo de decisão compartilhada1.
Enquanto a cirurgia robótica para o tratamento curativo do câncer de próstata com características de agressividade vem se tornando a principal ferramenta do arsenal do urologista, inclusive no Brasil, no outro espectro da doença, o acompanhamento periódico sem tratamento enquanto a doença não se desenvolve (vigilância ativa), se estabelece como a abordagem preferencial para os tumores indolentes. É importante diferenciar o acompanhamento passivo (watchful waiting), que é indicado aos pacientes mais idosos e com expectativa de vida inferior a 10 anos. Nesses casos, o tratamento é somente paliativo e é indicado apenas na presença de sintomas2.
Pode-se inferir que o tumor de próstata terá comportamento indolente quando ele é classificado como sendo de baixo risco. Nesses casos, as principais características são: PSA<10, pequeno volume tumoral na biopsia, classificação de Gleason 6 e ausência de achados anatomopatológicos de agressividade, como componente cribriforme, invasão perineural e extensão extraprostática. Os pacientes devem ser orientados sobre a opção da vigilância ativa, incluindo seus riscos e benefícios e idealmente devem assinar um termo de consentimento informado. Durante o período de acompanhamento devem ser realizados periodicamente a dosagem de PSA, o toque retal, a ressonância nuclear magnética e rebiópsias, de acordo com os achados clínicos e laboratoriais ao longo do tempo3.
Na última década, o número de pacientes encaminhados para a vigilância ativa se multiplicou em todo o mundo4-6. Os dados favoráveis sobre a evolução de longo prazo, a boa aceitação dos pacientes e o refinamento das técnicas de imagem para identificar os pacientes de risco são fatores motivadores dessa mudança. Existem atualmente vários estudos prospectivos em fase II analisando a evolução clínica desses pacientes, com resultados melhores nos protocolos com critérios de inclusão mais restritivos, com a mortalidade variando entre 0,5% e 5% em 15 anos7,8.
Se houver progressão da doença confirmada por uma nova biopsia, é oferecido ao paciente o tratamento definitivo, o que pode ser feito sem prejuízo na taxa de mortalidade pelo fato de ter sua terapia postergada. Existem ainda calculadoras de risco disponíveis na Internet, que auxiliam o médico a orientar ao paciente quanto às chances de progressão da doença durante o acompanhamento9.
Por último, é importante ressaltar que medidas de promoção de hábitos saudáveis devem ser apresentadas aos pacientes em vigilância, como prática de atividades físicas, controle de peso, interrupção do tabagismo e tratamento adequado de eventuais comorbidades, o que constitui a essência da saúde do homem. Existem evidências de que essas medidas contribuem não apenas para a melhor capacidade cardiorrespiratória, mas também para a redução do PSA e da velocidade de crescimento das células tumorais10.
Finalizando, o câncer da próstata é uma doença complexa e que precisa ser encarada de maneira individual para cada paciente, desde o momento do diagnóstico até a escolha da melhor terapêutica. Os médicos generalistas também devem acompanhar essa evolução para poder fornecer orientações que estejam de acordo com as evidências científicas vigentes.
CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:
As contribuições dos autores estão estruturadas de acordo com a taxonomia (CRediT) descrita abaixo:
Lima DX: Conceptualização, Investigação, Metodologia, Visualização & Escrita - análise e edição. Administração do Projeto, Supervisão & Escrita - Rascunho Original. Validação, Software. Recursos & Aquisição de Financiamento. Curadoria de Dados & Análise Formal.
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REFERÊNCIAS
1. Lima DX. The recent changes in prostate cancer screening. Rev Méd Minas Gerais. 2017;27(1-3):e-1882.
2. Brawley S, Mohan R, Nein CD. Localized prostate cancer: treatment options. Am Fam Physician. 2018 Jun;15(12):798-805.
3. Loeb S, Folkvaljon Y, Bratt O, Robinson D, Stattin P. Defining intermediate risk prostate cancer suitable for active surveillance. J Urol. 2019 Fev;201(2):292-9.
4. Loeb S, Byrne NK, Wang B, Makarov DV, Becker D, Wise DR, et al. Exploring variation in the use of conservative management for low-risk prostate cancer in the veterans affairs healthcare system. Eur Urol. 2020 Jun;77(6):683-6.
5. Ong WL, Evans SM, Evans M, Tacey M, Dodds L, Kearns P, et al. Trends in conservative management for low-risk prostate cancer in a population-based cohort of Australian men diagnosed between 2009 and 2016. Eur Urol Oncol. 2021 Abr;4(2):319-22.
6. Timilshina N, Ouellet V, Alibhai SM, Mes-Massn AM, Delvoye N, Drachenber D, et al. Analysis of active surveillance uptake for low-risk localized prostate cancer in Canada: a Canadian multi-institutional study. World J Urol. 2017 Abr;35(4):595-603.
7. Chen RC, Rumble RB, Loblaw DA, Finelli A, Ehdaie B, Cooperberg MR, et al. Active surveillance for the management of localized prostate cancer (Cancer Care Ontario Guideline): American Society of Clinical Oncology Clinical Practice Guideline Endorsement. J Clin Oncol. 2016 Jun;34(18):2182-90.
8. Komisarenko M, Timilshina N, Richard PO, Alibhai SMH, Hamilton R, Kulkarni G, et al. Stricter active surveillance criteria for prostate cancer do not result in significantly better outcomes: a comparison of contemporary protocols. J Urol. 2016 Dez;196(6):1645-50.
9. Drost FH, Nieboer D, Morgan TM, Carroll PR, Roobol MJ; Movember Foundation's Global Action Plan Prostate Cancer Active Surveillance (GAP) Consortium. Predicting biopsy outcomes during active surveillance for prostate cancer: external validation of the canary prostate active surveillance study risk calculators in five large active surveillance cohorts. Eur Urol. 2019 Nov;76(5):693-702.
10. Kang DW, Fairey AS, Boulé NG, Field CJ, Wharton SA, Courneya KS. Effects of exercise on cardiorespiratory fitness and biochemical progression in men with localized prostate cancer under active surveillance: the ERASE randomized clinical trial. JAMA Oncol. 2021 Out;7(10):1487-95.
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