ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Avaliação de dor em pacientes com fibromialgia: revisão integrativa
Pain evaluation in patients with fibromyalgia: integrative review
Célia Maria de Oliveira1; Helena Pereira de Souza1; Kely Cristine Aparecida Fonseca Lana1; Selme Silqueira de Matos1; Daniela Mascarenhas de Paula Campos1; Amanda Damasceno de Souza2
1. Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil
2. Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Informação e Gestão do Conhecimento (PPGSIGC), Universidade FUMEC, Brasil
Amanda Damasceno de Souza
E-mail: amanda.dsouza@fumec.br
Recebido em: 28 Julho 2022
Aprovado em: 18 Dezembro 2022
Data de Publicação: 03 Maio 2023
Resumo
INTRODUÇÃO: A fibromialgia é doença de difícil controle, que gera impactos na vida social e profissional dos indivíduos, incapacitando-os de realizar atividades de vida diária e que cursa com dor.
OBJETIVO: Identificar na literatura instrumentos para avaliação de dor em pacientes com fibromialgia.
MÉTODOS: Estudo de revisão integrativa realizado no portal BVS, nas bases de dados PubMed, Embase e Cinahl. Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos publicados entre 2014 a 2019, nos idiomas português, inglês e espanhol.
RESULTADOS: A amostra foi composta por 30 estudos desenvolvidos em diversos países. A fibromialgia foi descrita como uma patologia crônica, de difícil controle, disseminada em todo o mundo. Categorização e quantitativos dos artigos: nível de evidência I: 1, nível de evidência II: 14 (46,66%) e nível de evidência III: 15 (50%). Ensaio clínico não randomizado: 13 (43,33%), ensaio clínico randomizado: 12 (40%), ensaio clínico com grupo controle: 3 (10%), metanálise: 1 (3,33%) e estudo de intervenção, quase experimental: 1 (3,33%).
DISCUSSÃO: Foi observado o uso de mais de 20 métodos para avaliação de dor, sendo que a maioria dos estudos combinou instrumentos para tal.
CONCLUSÕES: A avaliação da dor é fundamental para a promoção de uma assistência efetiva às pessoas com fibromialgia. Os profissionais de saúde, em todos os níveis de atenção, devem estar capacitados para utilizar instrumentos que facilitem a compreensão e avaliação da dor do usuário da rede de saúde, promovendo uma atenção integral e humanizada.
Palavras-chave: Fibromialgia; Dor; Dor crônica; Medição da dor.
INTRODUÇÃO
Experiência física e emocional desagradável relacionada à injúria, a dor é vivenciada de maneira peculiar por cada indivíduo, de acordo com a sua história de vida1. É causa de sofrimento humano, podendo resultar em incapacidades, gerando prejuízos sociais e econômicos ao indivíduo, família e sociedade2.
A dor aguda é o quinto sinal vital, de acordo com a Sociedade Americana de Dor e, como tal, deve ser avaliada, juntamente com os demais parâmetros vitais. Trata-se de um mecanismo de defesa que alerta o indivíduo sobre um perigo3. Diferentemente, a dor crônica não tem a característica de proteção, é lenta e mal delimitada, produzida por estímulos químicos e/ou mecânicos e térmicos persistentes. Além disso, a dor crônica é uma doença, que pode se associar a outras patologias crônicas, como a fibromialgia4,5.
A fibromialgia é de causa idiopática e repercute negativamente na qualidade de vida. Manifesta-se com fadiga generalizada, sono não restaurador, comprometimento da memória, rigidez articular matinal, dispneia, ansiedade, depressão, entre outros6,7. É, sobretudo, uma patologia crônica que compromete o sistema músculo esquelético de forma generalizada, que se manifesta, principalmente, em mulheres na faixa etária de 35 anos a 44 anos de idade. Verifica-se que aproximadamente cinco milhões de pessoas, 2,5% da população brasileira, têm fibromialgia6,7.
Em 1990, buscando facilitar o diagnóstico médico, o Colégio Americano de Reumatologia descreveu 18 pontos específicos de dor, os "Tender points", para diagnóstico de fibromialgia. Tais pontos estão bilateralmente localizados na região occipital, músculo trapézio, músculo supraespinhal, músculo glúteo, grande trocânter, cervical inferior, segunda costela, epicôndilos laterais e joelhos6.
O diagnóstico positivo de fibromialgia se dá quando a dor estiver presente à palpação em pelo menos 11 dos 18 pontos específicos. Além disso, o quadro de algia deve ser superior há três meses, de um lado ou outro do corpo, acima e abaixo da cintura6.
Em 2010, o Colégio Americano de Reumatologia passou a considerar como critérios diagnósticos preliminares de fibromialgia outros parâmetros além do número de regiões dolorosas do corpo, como fadiga, sono não reparador, dificuldade cognitiva e outros sintomas somáticos, principalmente ansiedade, depressão e dor crônica. Vale destacar que a utilização dos critérios estabelecidos em 1990 associados aos de 2010, amplia a acurácia diagnóstica6.
O tratamento da fibromialgia deve ser interdisciplinar, com abordagem sobre os aspectos físicos, emocionais e sociais que compõem a dor. Nesse contexto, ressalta-se que o enfermeiro tem papel essencial, em uma equipe interdisciplinar, no controle da dor. Cabe ao enfermeiro realizar avaliação, elaborar diagnósticos de enfermagem, implementar medidas terapêuticas, bem como avaliar os resultados do tratamento implementado. Por isso, é fundamental que estejam ao alcance da equipe de enfermagem, em todos os níveis de atenção à saúde, instrumentos que facilitem a compreensão e avaliação da dor do usuário da rede de saúde2,7.
Sabe-se que grande parte dos profissionais inseridos na equipe de enfermagem possui dificuldade para avaliar a dor, seja ela crônica ou aguda. Este déficit se dá, muitas vezes, por falta de conhecimento sobre os instrumentos de avaliação, levando a uma baixa adesão da equipe a essa prática assistencial8. No cotidiano da enfermagem, é possível constatar entre os profissionais dificuldade na mensuração da dor e dificuldade de interpretar as diversas escalas, muitas vezes, não padronizadas na instituição. Assim, com este problema apresentado, justifica-se a realização do presente estudo com vistas a identificar instrumentos de avaliação de dor crônica adequados.
Considerando a lacuna do conhecimento sobre os métodos e instrumentos para diagnósticos de dor, especialmente em fibromialgia que é uma patologia complexa, faz-se necessária uma revisão integrativa da literatura, buscando os métodos de avaliação de pacientes com dor devido à fibromialgia. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi identificar na literatura os instrumentos utilizados para avaliação de dor crônica em pacientes com fibromialgia.
MÉTODOS
A revisão integrativa de literatura (RIL) é um método de pesquisa desenvolvido na medicina baseada em evidências que possibilita uma busca mais abrangente, incluindo estudos experimentais e não experimentais, levando a uma análise mais ampla e detalhada do assunto abordado9.
A fim de padronizar a qualidade dos estudos científicos, os mesmos podem ser divididos de acordo com o nível de evidência científica. As pesquisas podem ser classificadas em: nível 1 - estudos de metanálise de múltiplos estudos controlados; nível 2 - evidências de estudos individuais com delineamento experimental randomizado; nível 3 - evidências de estudos quase experimentais; nível 4 - evidências de estudos descritivos, não experimentais, ou com abordagem qualitativa; nível 5 - relatos de caso/experiência e nível 6 - opiniões de especialistas10.
Para elaboração deste estudo, foram seguidas as seguintes etapas: 1.) identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa; 2.) estabelecimento de critérios para a inclusão e exclusão de estudos/amostragem ou busca na literatura; 3.) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4.) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; 5.) interpretação dos resultados e 6.) apresentação da revisão/síntese do conhecimento11.
Na primeira etapa da RIL, a pergunta condutora foi criada a partir da estratégia supracitada: com o intuito de responder à seguinte pergunta norteadora: "Quais instrumentos têm sido utilizados para avaliação de dor em pacientes com fibromialgia?". Este método é viável quando se deseja uma análise e resumo dos resultados obtidos na literatura, acerca do tema pensado, de maneira sistemática e abrangente12.
Os dados foram extraídos no período entre julho e novembro de 2019. Foi elaborado critério de busca bibliográfica nas bases de dados PubMed, Embase e Cinahl, a partir do cruzamento dos descritores em ciências da saúde: fibromialgia, dor, dor crônica e medição de dor. Foram resultantes da busca bibliográfica, 789 artigos, nos quais foram aplicados critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão estabelecidos foram: artigos publicados nos anos entre 2014 a 2019, nos idiomas português, inglês e espanhol. Esses critérios de exclusão englobaram: estudos qualitativos, descritivos, relatos de casos, revisão de literatura, estudos duplicados, estudos em animais, crianças ou menores de 18 anos e aqueles cuja temática não se encaixava na questão norteadora. Com o intuito de facilitar a compreensão acerca do processo de seleção dos artigos, elaboramos o seguinte fluxograma (Figura 1):
Elaborou-se um quadro a fim de facilitar a visualização e interpretação das informações analisadas. O quadro foi composto pelas seguintes informações: título do estudo, base de dados utilizada, resultados que respondessem à pergunta norteadora, ano de publicação, país de origem, objetivo do estudo, metodologia e nível de evidência científica.
RESULTADOS
O presente estudo obteve como resultado 30 artigos que contemplaram a questão norteadora. Dos estudos que compuseram a amostra 6 artigos (20%) do Brasil, 6 artigos (20%) da Turquia, 6 artigos (20%) dos EUA, 5 artigos (16,66%) da Espanha, 1 artigo (3,33%) da Bélgica, 1 artigo (3,33%) do Egito, 1 artigo (3,33%) da França, 1 artigo (3,33%) da Finlândia, 1 artigo (3,33%) do Japão, 1 artigo (3,33%) de Portugal, e 1 artigo (3,33%) de Espanha-Argentina-Peru (Quadro 1). Visto isso, infere-se que é uma patologia que se manifesta mundialmente, reforçando a importância desse estudo para uma maior eficácia na avaliação dos indivíduos acometidos.
Observou-se que 1 artigo (3,33%) foi categorizado como nível de evidência I, 14 artigos (46,66%) nível de evidência II e 15 artigos (50%) nível de evidência III, o que nos indica a qualidade amostral. Além disso, 13 artigos do tipo ensaio clínico não randomizado (43,33%), 12 artigos do tipo ensaio clínico randomizado (40%), 3 artigos do tipo ensaio clínico com grupo controle (10%), 1 artigo do tipo metanálise de estudos randomizados (3,33%) e 1 artigo do tipo estudo de intervenção, quase experimental (Quadro 2).
DISCUSSÃO
A dor crônica, diferente da aguda, não é fator de proteção do organismo, resultando em danos físicos e mentais. Pode-se afirmar que a dor de um indivíduo é crônica quando esta permanece por mais de seis meses ou está associada a processos patológicos crônicos43. Nessa perspectiva, a fibromialgia é uma patologia que cursa com dor crônica, com grande potencial de interferência nas atividades de vida diária de quem é acometido. Além da dor, pacientes com fibromialgia costumam apresentar fadiga, insônia, distúrbios de ansiedade, depressão, entre outros sintomas, com grande impacto nas atividades de vida diária44. Por isso, faz-se necessário que os profissionais estejam capacitados para avaliar a dor de forma sistemática, por meio de anamnese e exame físico completo, utilizando instrumentos validados (A1, A3, A4, A5, A8, A11, A14, A18, A21, A24).
Vale ressaltar que a avaliação da dor crônica deve ser ampla, pois é necessário considerar vários aspectos: intensidade, localização, fator de melhora, fator de piora, dentre outros45. Nos estudos que compuseram a amostra desta pesquisa, não observou-se avaliação sistematizada e ampla, uma vez que os estudos analisados utilizaram mais de 20 métodos distintos para avaliação de dor (A6, A8 - A11, A14, A16 - A19, A21, A23 - A26, A30), sendo que alguns implementaram apenas uma ferramenta (A7, A12, A13, A15, A20, A22, A23, A27 - A29) e outros combinaram vários instrumentos de avaliação (A1 - A6, A8 - A11, A14, A16 - A19, A21, A24 - A26, A30).
Até a década de 1960, a dor era considerada um fenômeno diretamente relacionado à extensão da lesão tecidual, e predominavam os instrumentos unidimensionais para mensurar a intensidade da dor. Na amostra, era frequente a utilização de instrumentos unidimensionais, que consideram apenas uma dimensão da dor para avaliação (A1 - A6, A8 - A13, A16 - A20, A22, A24, A26, A29, A30). Nesta amostra, a maioria dos instrumentos mediu a intensidade de dor através da escala visual analógica, escala numérica de dor, escala de dor de faces e escala verbal de dor (A1 - A6, A8 - A14, A16 - A20, A22, A24, A26, A29, A30). Essas escalas trabalham com pontuações de 0 (nenhuma dor) até 10 (pior dor imaginável), exceto as escalas de dor de faces que utilizam ilustração de expressões faciais para representar a intensidade da dor.
Outra metodologia presente na amostra utilizou de ferramentas que avaliaram intensidade e localização da dor, tais como: índice de dor generalizado, índice de gravidade de sintomas (WPI SSS), exame físico à procura de pontos dolorosos, algômetro de pressão, escalas para detecção de limiar da dor, contagem de pontos sensíveis segundo Colégio Americano de Reumatologia, escala de dor vertebral (VPS) e instrumentos de imagem (A1, A2, A4, A9, A11, A14, A16, A17, A19, A21, A25, A28).
Quanto à estrutura de tais instrumentos, pode-se agrupá-los em três subgrupos. O primeiro subgrupo, composto por índice de dor generalizada, índice de gravidade de sintomas (WPI SSS), escalas para detecção de limiar da dor e escala de dor vertebral (VPS) (A1, A11, A16). O segundo subgrupo, composto por exame físico à procura de pontos dolorosos, algômetro de pressão e contagem de pontos sensíveis, segundo o Colégio Americano de Reumatologia (A2, A4, A9, A16, A17, A19, A21, A25). O terceiro subgrupo foi composto por instrumentos de imagem (A14, A28).
O primeiro subgrupo composto por ferramentas que mensuraram a intensidade da dor, de 0 (nenhuma dor) até 10 (pior dor imaginável), como também avaliaram a localização da dor no corpo do indivíduo. Nestes instrumentos, primeiro o paciente marcava a pontuação de sua dor no gráfico de intensidade, após isso, localizava a dor. Quanto à localização, o índice de dor generalizada, índice de gravidade de sintomas (WPI SSS) e escalas para detecção de limiar da dor, que não trabalharam com imagem corporal, apenas com o registro da parte do corpo onde a dor está localizada. Já a escala de dor vertebral (VPS) traz a imagem da coluna vertebral, onde o paciente pode marcar com a numeração de intensidade da dor, o local onde dói (A1, A11, A16).
O segundo subgrupo tem em comum o exame físico no paciente. Todas as ferramentas exigiram que o profissional realizasse palpação à procura da dor no enfermo, o que as diferenciava era o referencial que utilizaram para o exame físico. No exame físico à procura de pontos dolorosos e na contagem dos pontos sensíveis, segundo Colégio Americano de Reumatologia, o profissional aplica uma pressão de 4 a 5kg de peso/cm² com o dedo indicador no local onde o paciente sente a dor. Para que o resultado do exame seja exitoso, se faz necessária a capacitação do examinador (A2, A16, A17, A19). O algômetro de pressão é um aparelho que permite controlar a pressão exercida, devendo ser de 3 a 4kg/cm2 no exame físico, sob o local sensível (A4, A9, A21, A25).
O terceiro subgrupo, composto por instrumentos de imagem, apresentou uma ilustração do corpo humano, parte posterior e anterior. O paciente utilizava um lápis para sombrear o local onde dói. Dessa forma, o profissional buscava identificar a localização da dor. A intensidade era avaliada pela força do sombreado, quanto menor a força do preenchimento, menor a intensidade da dor, e, quanto maior a força do preenchimento, maior a intensidade da dor (A14, A28).
Na amostra da pesquisa, também foram apresentados instrumentos multidimensionais (A1, A3 - A8, A10, A15, A16, A19, A21, A23 - A27, A30), que exploravam diferentes aspectos da dor como intensidade, localização, interferência na vida diária. Esse grupo composto por Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ), Fibromyalgia Rapid Screening Tool (FIRST), Holy Questionnaire - Antoine (QDSA), formulário Brief Pain Inventory (BPI), Short Form-36 e questionário McGill, sendo todos estes instrumentos validados.
Em relação ao método de aplicação, as ferramentas descritas acima foram divididas em dois subgrupos: o primeiro composto por questionário McGill e Holy Questionnaire - Antoine (QDSA) (A1, A7, A26, A27). O segundo composto por Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ), Fibromyalgia Rapid Screening Tool (FIRST), formulário Brief Pain Inventory (BPI) e Short Form-36 (A1, A3-A6, A8, A10, A15, A16, A19, A21, A23-A26, A30).
O primeiro subgrupo foi composto por dois questionários McGill e Holy Questionnaire - Antoine (QDSA), que é a tradução validada do questionário McGill na França. Trata-se de questionário composto por 20 grupos de palavras para que o paciente possa descrever a sua experiência dolorosa. Contém 10 grupos de palavras para descrever a sensação física, cinco grupos de palavras para descrever o aspecto afetivo, um grupo para descrever o aspecto cognitivo/avaliativo da experiência dolorosa e quatro grupos que não se encaixam nos grupos acima, chamados de miscelânea.
Ao final, os pontos obtidos com a soma dos índices dos subgrupos resultam no índice de dor total. Também se avaliou o índice para as dimensões, sensorial discriminativo, afetivo-motivacional e cognitivo-avaliativo, que compõem a experiência dolorosa. Dessa forma, o profissional consegue ter uma visão abrangente da experiência de dor daquele indivíduo, através da interpretação dos escores obtidos, podendo planejar sua assistência de acordo com o relato do paciente.
O segundo subgrupo, abordou em suas escalas, os seguintes aspectos: intensidade da dor, localização, autodeclaração do estado geral de saúde, facilidade e dificuldade de realizar atividades da vida diária, interferência da dor no relacionamento interpessoal e estado emocional. Sendo que, apenas o Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) abordou todos esses pilares voltados apenas para a fibromialgia. Neste subgrupo, apenas o Fibromyalgia Rapid Screening Tool (FIRST) é utilizado para fim diagnóstico, sendo um questionário rápido e objetivo para detectar aspectos próprios da fibromialgia, avaliando descrições relacionadas à fibromialgia, como relato de dor em todo o corpo; dor acompanhada de fadiga geral contínua. Caso cinco ou mais frases deste questionário sejam compatíveis com o quadro clínico do paciente, o indicativo era de fibromialgia.
Outra ferramenta presente na amostra (A18) é o Pain Catastrophizing Scale (PCS), um questionário autoadministrado que mostra os pensamentos do paciente sobre sua experiência de dor. Este instrumento traz afirmações relacionadas, por exemplo, à preocupação constante com o tempo de duração da dor, com pontuação variando de 0 (de modo nenhum) até 4 (o tempo todo), representando a frequência com que produz esses pensamentos. Ao final, as pontuações de cada item são somadas para verificar o nível de catastrofização da dor daquele paciente. Dessa forma, o profissional conseguirá planejar intervenções que considerem a relação do indivíduo com a dor, isto é o impacto da dor sobre a qualidade de vida do indivíduo.
Observa-se também, nos estudos que compuseram a amostra, o uso de dois questionários, "Pontuação da qualidade de vida (QV)" e "Inventário de depressão de Beck (BDI)", para avaliar qualidade de vida e nível de depressão (A3 e A10), concomitante aos instrumentos que avaliam dor. Embora esses questionários não abordem a dor, eles permitem que o profissional avalie outros aspectos da fibromialgia com impacto direto na experiência dolorosa do enfermo, como também, permitem que o profissional planeje intervenções integradas em parceria com outros profissionais de saúde, por exemplo, com psicólogos e/ou psiquiatras.
A pontuação da qualidade de vida (QV) permite avaliar as atividades que o paciente consegue desenvolver no seu cotidiano, o bem-estar e a saúde emocional. Já o inventário de depressão de Beck (BDI) aborda como a pessoa se sente, o conteúdo do pensamento, o interesse nas relações interpessoais e outros. O indivíduo responde 21 questões que podem ser pontuadas (0 a 3.). Ao final, essas notas eram somadas e interpretadas. O paciente que obteve um score de 10 a 18 tinha indício de depressão leve, 19 a 29 tinha indício de depressão moderada e 30 a 63 tem indício de depressão grave.
Ressalta-se a qualidade amostral deste estudo, uma vez que todas as pesquisas que compõem a amostra têm nível de evidência de I a III, ou seja, a qualidade das pesquisas não interfere na escolha dos métodos de avaliação da dor. Vale destacar que os instrumentos utilizados na amostra tiveram índice de validade acima de 70%, considerado alto. Os artigos não abordaram a justificativa da escolha da metodologia de avaliação, como também não discorreram sobre os impactos do uso dos instrumentos escolhidos.
A avaliação adequada de dor torna possível um manejo clínico eficaz, que se não for realizada poderá acarretar prejuízo para a vida do indivíduo46. A escuta qualificada da experiência de dor do paciente é considerada o padrão ouro na avaliação de dor. O ideal é que se explore intensidade, localização, fator de melhora, fator de piora, os impactos que a dor causa no indivíduo, considerando a interferência nas atividades de vida diária, idealmente associando ferramentas de avaliação, além de rigor na anamnese e no exame físico47.
Neste sentido, a avaliação é complexa para os profissionais, pois a avaliação de dor é subjetiva, pautada nas experiências únicas e individuais de cada ser humano. Cada pessoa, ao relatar sua experiência, a faz a partir de suas experiências e contextos2.
Vale ressaltar a necessidade de um acompanhamento multidisciplinar e integral, considerando as particularidades de cada ser humano acometido pela fibromialgia. Além disso, é importante que esses pacientes sejam acompanhados por equipe interdisciplinar composta por médicos e enfermeiros. A enfermagem traz uma bagagem de conhecimento próprio importante para lidar com os aspectos biológicos, sociais e mentais48.
O profissional enfermeiro terá uma abordagem ampla, avaliando e intervindo em vários aspectos como qualidade do sono, atividade de lazer, hidratação, controle não farmacológico da dor; permitindo um acompanhamento mais minucioso do quadro. Portanto, é fundamental que estes profissionais sejam capacitados para avaliar a dor em todos os seus aspectos, buscando sempre os melhores métodos para tal48,49.
Destaca-se a importância desse estudo, uma vez que o mesmo trouxe um compilado dos métodos de avaliação de dor em pacientes com fibromialgia, com detalhamento dos pontos de avaliação desse instrumento, contribuindo para o aprimoramento da avaliação de dor.
CONCLUSÕES
A fibromialgia é doença de difícil controle, que gera impactos na vida social e profissional dos indivíduos, incapacitando-os para a realização de atividades de vida diária e que cursa com dor crônica. Para que os enfermos acometidos por essa patologia sejam assistidos com qualidade, de forma integral e humana, é indispensável que o profissional saiba avaliar a experiência dolorosa desses indivíduos, pois a avaliação sistematizada da dor permite ao enfermeiro planejar a sua assistência e monitorar os resultados do tratamento.
Ressalta-se que existem várias metodologias para avaliação da dor, que consideram aspectos como intensidade, localização, fator de piora, fator de melhora, interferência da dor nas atividades de vida diária e outros. Cabe ao profissional, saber utilizar essas ferramentas de forma adequada, levando em consideração a subjetividade da vivência dolorosa de cada indivíduo, moldada pelas experiências individuais de cada enfermo.
Como limitação deste estudo destaca-se que nenhuma das pesquisas que compõem os resultados justificou as metodologias de avaliação de dor, bem como não evidenciou os benefícios ou prejuízos ao utilizar os métodos.
Por fim, é evidente que as instituições de ensino da área da saúde devem investir na capacitação dos alunos para avaliação de dor, uma vez que há profissionais que têm dificuldades em realizar esta prática assistencial. Assim, é importante enfatizar que os profissionais de saúde, em todos os níveis de atenção, devem estar capacitados para utilizar instrumentos que facilitem a compreensão e avaliação da dor do usuário da rede de saúde, promovendo uma atenção integral e humanizada.
Acrescenta-se que o objetivo deste estudo foi alcançado considerando a ampla revisão de literatura encontrada no cenário nacional e internacional. Assim, deve ser motivo de discussão dos profissionais de saúde para ações estratégicas em prol do controle do quadro álgico. Espera-se que este trabalho possa contribuir como uma fonte de pesquisa para profissionais de saúde e acadêmicos de enfermagem. Para os pesquisadores foi uma forma de aperfeiçoamento do conhecimento em relação ao tema, estando assim melhor preparados para lidar com o paciente com quadro clínico de dor em especial de fibromialgia. O propósito do artigo foi discutir instrumentos de avaliação de dor utilizados em pesquisas sobre fibromialgia, assim não se pretendeu eleger a melhor estratégia de avaliação, por não ser um estudo primário.
CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES
Conceptualização, Investigação, Metodologia, Visualização & Escrita - Análise e Edição: Célia Maria de Oliveira; Administração do Projeto, Investigação, Metodologia, Visualização & Escrita - Rascunho Original: Helena Pereira de Souza; Investigação, Metodologia, Visualização & Escrita: Kely Cristine Aparecida Fonseca Lana, Visualização & Escrita Análise: Selme Silqueira de Matos. Visualização & Escrita Análise. Daniela Mascarenhas de Paula Campos. Visualização & Escrita Análise e Edição: Amanda Damasceno de Souza.
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