RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 19. 2

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Editorial

Emergência do vírus influenza A-H1N1

José Gomes Temporão

 

O mundo se encontra diante de uma clara ameaça de epidemia de influenza A - H1N1. Sabemos que a emergência de uma ameaça como essa tem a ver com questões inerentes ao nosso mundo contemporâneo - cada vez mais globalizado e integrado. Epidemias podem se propagar hoje com uma facilidade nunca antes vista na História - atingindo, no exíguo tempo de pouco mais de um mês, mais de 12.500 pessoas espalhadas por 46 países.1

Essa magnitude jamais ocorreria, por exemplo, na Idade Média, quando a velocidade de deslocamento do homem era muito mais limitada, o que ajudava a circunscrever esse tipo de ameaça no tempo e no espaço. Hoje, infelizmente, riscos de epidemias globais exigem cada vez mais a nossa atenção e por isso necessitamos fortalecer e integrar - de forma solidária e visando ao interesse maior da humanidade - instituições acadêmicas, serviços de saúde, redes de pesquisa e quaisquer atores interessados em desenvolver respostas a esses problemas.

Dito isso, é preciso reconhecer por outra parte que o mundo nunca esteve tão preparado para lidar com epidemias globais: os alertas anteriores, gerados pela epidemia de SARS e da influenza aviária, ajudaram a gerar mecanismos de pronta vigilância. Também é importante citar o papel dos meios de comunicação, oficiais ou não, que conseguem levar alertas, informações e instruções virtualmente a qualquer canto do mundo - muito antes da chegada da doença em si. Esse quadro contrasta daquele observado, por exemplo, na epidemia de gripe espanhola nos anos 20, quando ainda demorávamos a entender o padrão da doença e a acompanhar a sua disseminação pelo globo terrestre.

Apesar desse otimismo, devemos nos lembrar de que, embora a forma da influenza A - H1N1 que surpreendeu o mundo tenha letalidade relativamente pequena, ela traz consigo a possibilidade de recombinação viral - principalmente com a chegada do inverno no hemisfério sul, quando sabidamente aumentam os casos de influenza. Esse risco exigirá de todos nós um estado de permanente vigilância e prontidão nos próximos meses. O preparo e a atualização de nossos médicos para fazer frente à doença são absolutamente essenciais e, por isso mesmo, prioritários.

É por esse motivo que venho saudar a iniciativa da Revista Médica de Minas Gerais de publicar uma edição especial sobre esse assunto - contando, inclusive, com depoimentos de quem assistiu a um dos primeiros casos registrados em nosso país. Iniciativas como esta, executadas por veículos do porte e da credibilidade desta revista, certamente colaborarão de forma efetiva para aumentar a nossa capacidade de resposta a esse desafio global.

José Gomes Temporão
Ministro da Saúde - Brasil

 

1. http://mail.google.com/mail/?ui=2&view=js&name=js&ver=5-KJLrhzj5c.en.&am=b7EwpdTXcKG5J92C07Q2YU2oaXd68Q#_ftnref1 Situação em 25 de maio de 2009, conforme reportado pela OMS no site: http://www.who.int/csr/disease/swineflu/en/