RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 18. 4

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Editorial

Urgência e emergência: ainda uma das grandes agendas da saúde!

Helvécio Miranda Magalhães Júnior

 

Continua sendo uma das principais agendas dos sistemas de saúde em todo o mundo e também no Brasil a adequada atenção às urgências e emergências. Vale para o Sistema Único de Saúde - SUS e para o setor suplementar da saúde. Aparece com diferentes faces nas grandes cidades e nos pequenos municípios. Além dos aspectos humanitários e assistenciais que a área da urgência envolve na lógica dos usuários, também para os trabalhadores da saúde é um grande tensionamento cotidiano e para a gestão uma das principais agendas negativas, em especial para o SUS. Todos os inegáveis avanços do SUS nos seus vinte anos de traduzir a saúde como direito e não mais como objeto de compra de acordo com o poder aquisitivo de cada um, de ampliação do acesso, da incorporação para milhões de tecnologias modernas de cuidado, de melhoria significativa de indicadores de saúde, ficarão desvalorizados se a imagem do atendimento de urgência que é majoritariamente pública, continuar a ser o sofrimento estampada na face dos usuários em esperas odiosas nos pronto-socorros de vários lugares, sem acolhimento, sem humanização ou classificação rápida do risco individual.

Atender adequadamente cidadãos quando em situação de risco de morte (emergências médicas clássicas) ou em algum tipo de sofrimento ou desconforto agudo (o enorme leque das urgências), significa olhar para todo o sistema de saúde. As portas de urgência, na verdade, são um retrato de seu funcionamento e de seus desafios e paradoxos. Mesmo em locais em que o sistema de saúde se desenvolveu e se qualificou acima da média nacional, como é o caso de Belo Horizonte, o desafio das urgências ainda é uma questão importante. Significa do ponto de vista da gestão o processo contínuo de qualificação da atenção primária como oportunidade de oferta de outra porta de entrada para os usuários, principalmente pela carga de doenças crônicas que hoje caracteriza nossa população, em que o aparato da atenção primária é a melhor resposta possível, como já demonstrado em todo o mundo. Significa também, na outra ponta, ofertar retaguarda hospitalar adequada em termos quantitativos e tecnológicos e serviços substitutivos como a atenção domiciliar, atenção pré-hospitalar e as estruturas de cuidado-dia.

Entretanto, um aspecto que não pode ser negligenciado é a formação correta dos profissionais de saúde que atuam no atendimento de urgência, incluindo a correta identificação do evento urgente e estabilização clínica, quando em outros ambientes como no própria atenção primária. Portanto, esta é uma necessidade da quase totalidade dos profissionais de saúde, em especial dos médicos. Intervir nas lacunas claras na graduação e pós-graduação e ofertar oportunidades de educação permanente de conteúdos variados massivamente nos parece uma das formas de enfrentar a questão de forma estruturadora e conseqüente. Profissionais bem treinados do ponto de vista técnico, seguros nas suas intervenções e com claro sentido ético de compromisso com o o atendimento melhor possível ao sofrimento do outro, começa por estes processos de educação radical. Neste sentido, esta iniciativa da RMMG é muito importante no sentido de levantar a questão das urgências neste número, e ajudar a torná-la cada vez mais prioritária para a gestão dos sistemas de saúde, para a Universidade e para os profissionais de saúde.

 

Helvécio Miranda Magalhães Júnior
Secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte Presidente do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde - CONASEMS Diretor de Relações Institucionais da RMMG