RMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Volume: 24. 1 DOI: https://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20140009

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Editorial

Paracoccidioidomicose (doença de Lutz-Splendore-Almeida)

Paracoccidioidomycosis (Lutz-Splendore-Almeida Disease)

Enio Roberto Pietra Pedroso

 

A paracoccidioidomicose (PCM), doença provocada pelo Paracoccidioidis brasiliensis, é a mais importante micose profunda existente na América Latina. Foi descrita inicialmente no Brasil em 1908 por Adolfo Lutz, com contribuições posteriores de relevância, para seu entendimento, de Splendore e Almeida.

Pode acometer pessoas de todas as faixas etárias, evoluindo de forma aguda-subaguda ou crônica, respectivamente, em crianças-adolescentes e adultos após os 30 anos de idade. Possui desde manifestações benignas até formas graves com risco de morte. Apresenta anatomopatologicamente caráter granulomatoso e supurativo, acometendo principalmente os pulmoes, mucosas das vias aéreas superiores e boca, pele e linfonodos, podendo afetar todos os órgaos e sistemas.

Sua importância relaciona-se aos custos sociais e econômicos derivados não apenas da doença em atividade, por ocorrer em indivíduos na fase mais produtiva da vida, como pela determinação de sequelas, que representam motivo de incapacitação para o trabalho. De forma geral, a história natural sem intervenção terapêutica específica é para o óbito.

Constitui-se em uma das doenças negligenciadas por todas as agências financiadoras de recursos para seu estudo e, apesar de endêmica no Brasil, nem sempre é considerada diante de diagnóstico diferencial de linfonodomegalias, lesões infiltrativas e nodulares-vegetantes cutaneomucosas, doenças fibrosantes pulmonares ou sistêmicas com acometimentos os mais variados desde insuficiência suprarrenal a neurológicas graves.

É preciso considerar a possibilidade de PCM sempre que o diagnóstico diferencial inclua tuberculose ou linfoma, o que significa valorizar a epidemiologia clínica (geografia das doenças), as suas manifestações clínicas principais e a propedêutica complementar direcionada para a análise anatomopatológica das lesões encontradas.

O conhecimento sobre a PCM ainda requer desvendar aspectos relevantes da biologia do fungo, sua fisiopatologia, métodos diagnósticos menos intervencionistas, terapêutica mais curta e controle de cura adequado.

A revisão aqui apresentada representa esforço do grupo de estudos sobre PCM da Universidade Federal de Minas Gerais (Faculdade de Medicina e Instituto de Ciências Biológicas) em alertar e contribuir para o entendimento clínico desta micose de importância na nosologia prevalente brasileira e estimular o seu diagnóstico precoce e terapêutica adequada.

 

Enio Roberto Pietra Pedroso
Professor Titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Editor Geral da Revista Médica de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG - Brasil