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ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Intussuscepção colônica em adulto: relato de caso
Adult colonic intussusception: a case report
Marcelo Barros Weiss1; Romeu Barradas de Menezes2
1. Médico-cirurgião. Mestrado em UTI. Professor de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora e Preceptor de Residência Médica de Cirurgia Geral no Hospital Maternidade Therezinha de Jesus-HMTJ. Juiz de Fora, MG - Brasil
2. Acadêmico do curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF. Juiz de Fora, MG - Brasil
Romeu Barradas de Menezes
E-mail: romeubm@globo.com
Recebido em: 29/05/2013
Aprovado em: 15/10/2013
Instituição: Faculdade de Medicina da UFJF Juiz de Fora, MG - Brasil
Resumo
Intussuscepção é a penetração de um segmento do tubo gastrintestinal (TGI) em direção ao segmento adjacente. É rara em adultos e de diagnóstico difícil. Possui na faixa etária adulta, em geral, um fator precipitante. Este trabalho relata paciente adulta que se apresentou à emergência cirúrgica com abdome agudo. Realizada laparotomia de emergência que evidenciou invaginação colônica. A patologia confirmou tratar-se de lipoma como cabeça do intussuscepto.
Palavras-chave: Intussuscepção; Intestino Grosso; Adulto; Lipoma; Laparotomia.
INTRODUÇÃO
A invaginação, ou intussuscepção intestinal, é comum em crianças, porém rara em adultos. Sua raridade e inespecificidade clínica atrasam o seu diagnóstico e de suas complicações, com repercussão sobre seu tratamento em adultos e idosos.
DESCRIÇÃO DO CASO
Paciente feminina, 38 anos de idade, procurou serviço de urgência devido à dor abdominal recorrente, de início há duas semanas, e parada de eliminação de fezes nos últimos dias, diminuição de flatos e episódio no dia anterior de hematoquezia. Apresentou episódio de vômito, com náuseas, hiporexia e emagrecimento de 4 kg em duas semanas, sem febre. Procurou a Unidade de Pronto-Atendimento cinco vezes anteriormente, sendo prescrita analgesia, o que trouxe melhora parcial. O abdome estava distendido, doloroso difusamente à palpação superficial, com ruídos hidroaéreos, timpanismo e massa palpável paraumbilical à direita. Apresentava os seguintes exames hematológicos: hemoglobina de 12,4 g%; leucócitos totais: 10.000/mm3; plaquetas: 382.000/mm3; creatinina: 0,6 mg%; ureia: 21 mg%; sódio: 137 mEq/L; potássio: 3,8 mEq/L. O exame de urina (elementos anormais, sedimentoscopia) estava normal. A ultrassonografia abdominal visualizou alça no interior de alça intestinal na regiao infraumbilical, podendo corresponder à invaginação intestinal.
Foi submetida à laparotomia, que identificou grande cabeça de invaginação em colo transverso, próximo do ângulo hepático. Realizada hemicolectomia direita com esvaziamento linfonodal e anastomose primária terminolateral (Figura 1).
Evoluiu sem complicações no pós-operatório. O resultado histopatológico evidenciou lipoma gigante.
DISCUSSÃO
A intussuscepção é a entrada de um segmento do tubo gastrintestinal (TGI) em direção ao segmento adjacente, anterior ou posteriormente.1 Pode ser classificada, em relação à sua sintomatologia, em aguda, menos de quatro dias; subaguda, quatro a 14 dias; e crônica, acima de 14 dias. A invaginação anterógrada ocorre quando o segmento intestinal proximal invagina-se para o interior do lúmen do segmento distal; e a retrógrada, quando o segmento distal invagina-se para o interior do proximal.1
A invaginação em adulto é rara, perfazendo 5% dos casos de intussuscepção e 1% das causas de obstrução intestinal.2 Pode envolver qualquer parte do TGI, sendo mais frequente no intestino delgado do que no colo.2,3 Nos adultos a idade média de aparecimento é de 54,4 anos, com pequeno predomínio em mulheres (1,3:1).4
O mecanismo exato que leva à invaginação ainda é desconhecido, entretanto, acredita-se que qualquer lesão ou processo irritativo dentro do lúmen intestinal é capaz de desencadeá-la.1 Estima-se que 90% das intussuscepções em adultos tenham causa subjacente.3-5 No intestino grosso, a maioria dos estudos institucionais mostra que os tumores malignos compoem mais de 50% das causas de invaginação de colo.5 Outros fatores de risco citados, além de tumores malignos e benignos, são infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, doença inflamatória intestinal, cirurgia abdominal prévia e transplante hepático.6
Neste caso, a cabeça de invaginação foi um lipoma, tumor benigno constituído por células gordurosas tipo adulto envoltas por cápsula fibrosa.7 Possui incidência de 0,6% com predomínio na quinta e sexta décadas de vida, sendo mais prevalente em mulheres.7-9 Foram relatados entre 1976 e 2001, 32 casos de invaginações colônicas secundárias ao lipoma.10 É considerado o segundo tumor benigno mais comum do intestino grosso, sendo, geralmente, assintomático8, podendo evoluir de forma sintomática em 6,6% dos casos.9 Em 24 casos de intussuscepção observados durante 22 anos, somente dois foram ocasionados por lipoma.8 Não há controvérsia que os lipomas devem ter pelo menos 2 cm para gerar sinais e sintomas, os quais podem ser: intussuscepção, sangramento, obstrução intestinal e dor abdominal7-9, sendo controverso na literatura qual ocorre com mais frequência.8 Os lipomas teoricamente podem sofrer degeneração sarcomatosa e se tornarem malignos, porém é evento extremamente raro.8
A sintomatologia da invaginação intestinal é inespecífica, sendo mais prevalentes em pacientes com diagnóstico confirmado de intussuscepção: dor abdominal (100%), náuseas e vômitos (55,5%), hematoquezia (50%) e massa palpável no hemiabdome inferior (11,1 %).5
A inespecificidade dos sinais e sintomas da invaginação torna o diagnóstico pré-operatório um desafio para os cirurgioes. Na grande parte das vezes a sintomatologia clínica de obstrução predomina, fazendo da radiografia o primeiro exame solicitado, que evidencia sinais de obstrução intestinal e, eventualmente, seu sítio.3 Apesar de a ultrassonografia ser considerada exame de grande utilidade no diagnóstico de invaginação, o exame com mais acurácia é a tomografia computadorizada, podendo chegar a 100%.3-11 Entretanto, de acordo com a situação clínica e das condições do serviço, podem ser usados o enema opaco, a colonoscopia e a sigmoidoscopia flexível como recursos diagnósticos.3
Grande parte das revisões indica a cirurgia de urgência ou eletiva como escolha no manejo terapêutico da invaginação intestinal pelo risco de isquemia intestinal e lesão maligna como causa do processo.12 O manejo conservador com acompanhamento imaginológico (ultrassonografia e TC) é possível em pacientes sem lesões subjacentes nos exames de imagem e sem manifestações clínicas.3
Importante citar que, como a intussuscepção em adultos tem causa maligna subjacente na maioria dos casos, a redução manual pode causar dispersão do tumor e não está indicada, principalmente, se houver acometimento do colo.12 Entretanto, quando houver diagnóstico pré-operatório de lesão benigna a redução pode ser feita, possibilitando ressecção menor, caso não haja sinais de isquemia de parede intestinal.11
CONCLUSÕES
A intussuscepção é evento raro em adultos, com diagnóstico difícil devido à inespecificidade da sua sintomatologia. O cirurgiao deve, portanto, ficar atento a essa possibilidade diagnóstica, em que o melhor método de imagem é a tomografia computadorizada para sua identificação. O tratamento requer ressecção do segmento envolvido sem tentativa de redução nas lesões de colo.
REFERENCIAS
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