ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
A incidência da gravidez no contexto da adolescência contemporânea
Incidence of pregnancy in the context of the contemporary adolescence
Eder Schmidt1; Lucélia Paula Cabral Schmidt2
1. Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF. Juiz de Fora, MG - Brasil
2. Médica do Serviço de Pediatria do Hospital Universitário da UFJF. Juiz de Fora, MG - Brasil
Eder Schmidt
Av. Barao do Rio Branco, 3.231/404 Centro
CEP: 36010-012 Juiz de Fora, MG - Brasil
E-mail: schmidteder@yahoo.com.br
Recebido em: 19/04/2012
Aprovado em: 17/07/2012
Instituiçao: Universidade Federal de Juiz de Fora Juiz de Fora, MG - Brasil
Resumo
INTRODUÇÃO: paralelamente às alterações físicas que lhe são próprias, a gravidez é habitualmente fonte de intensa mobilização afetiva, impondo um rearranjo nas vidas da mulher, do casal e do seu grupo familiar. Ocorrendo durante a adolescência, essa tarefa torna-se ao mesmo tempo mais imperativa e mais difícil. Sendo assim, o aumento verificado nas taxas de gravidez na adolescência concomitante ao decréscimo nas taxas globais de natalidade constitui certamente situação inquietante, inclusive pela eficácia limitada das estratégias tradicionais de enfrentamento das questoes de saúde pública.
OBJETIVOS: estabelecer possíveis vinculações entre os números crescentes de gravidez na adolescência, características próprias desse estágio do desenvolvimento e fatores biopsicossociais da cultura contemporânea. São apresentadas novas expectativas sobre o adolescente, bem como de suas prerrogativas, a partir das quais se pretende responder às questoes suscitadas pela atual prevalência da gravidez nessa faixa etária.
MÉTODOS: foram desenvolvidas reflexoes originais apoiadas na literatura disponível sobre o tema, tanto na mídia impressa como eletrônica, além de buscas on-line no banco de dados Scielo, no período entre 1995 e 2011, utilizando-se as seguintes palavras-chave: gravidez adolescente; sexualidade adolescente; adolescência. Foram também realizadas buscas manuais com os mesmos objetos.
RESULTADOS: traçou-se uma comparção entre a maior ocorrência da gravidez na adolescência e o abrandamento das mensagens interditoras junto ao atual padrao consumista da sociedade, estimulando o adolescente a um hedonismo sem limites ou reflexoes.
CONCLUSÕES: sem que percebam, adolescentes e adultos estabelecem um acordo tácito em que estes lançam sobre aqueles uma expectativa não explícita de que eles concretizem os ideais de satisfação irreprimida daquilo que o status de maturidade lhes coíbe. Nesse arranjo, faltam dispositivos eficazes para ampará-los nos desdobramentos de suas experiências, deixando-os expostos a efeitos que frequentemente se replicam ao longo de suas vidas.
Palavras-chave: Adolescente; Gravidez na Adolescência; Sexualidade; Cultura.
INTRODUÇÃO
Embora não se configure como doença, é inegável o quanto a gravidez é desencadeante de desestabilização na vida da mulher, o que se estende à do casal e da família e impoe o rearranjo dos elementos constituintes dessas vidas. Além disso, desencadeia intensa mobilização psicológica cujos efeitos se confundem com aqueles determinados pelas variações físicas que lhe são próprias.
Psicologicamente, a gravidez é a possibilidade única de fusão entre dois seres em uma completude mítica que se opoe à real condição humana de solidao e falta.1,2 Uma vez grávida, a mulher se transforma no continente físico de um outro ser, preenchida por algo que é significante de sua própria capacidade de criar. Simultaneamente, a imagem de um filho sustenta devaneios de aprimoramento e reparação daquilo que foi insatisfatório no passado, oferecendo, ainda, possibilidade de dar-se prosseguimento à vida a partir desse outro que, sobrevivendo à morte, garante a única forma de continuidade com que se pode efetivamente contar.
Mas, sem dúvida, esse não é um vínculo isento de contradições. Se sobram razoes para que seja amado, o lactente é, ao mesmo tempo, aquele que pode vir a desarranjar uma situação estabelecida, seja na relação do casal, seja na vida social, econômica ou profissional de cada um de seus membros, especialmente da mae. E isso sem que se abandone o pressuposto de uma gravidez saudável em ambiente igualmente saudável, envolvendo um casal com desejo e condições de arcar com um filho. Em outras palavras, uma gravidez planejada, embora ideal, pode-se dizer, está longe de ser o mais frequente.
Se até há algumas décadas o planejamento familiar era algo praticamente impensável, o surgimento dos anovulatórios nos anos 1960 viabilizou o controle da concepção, permitindo que os casais deliberassem mais livremente sobre este tema.
No entanto, alguns fatores culturais acabaram por se contrapor à prática do real planejamento. Em primeiro lugar, o fato de que, mesmo quando o casal elabora planos para a gravidez, controlar a concepção nunca deixou de ser visto, tacitamente, como atribuição da mulher, dependente, portanto, de seu grau de informação e maturidade para conduzir a questao, além, de sua autonomia em relação à possível desinformação e imaturidade de seu parceiro.
Observando a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher realizada em 20063, uma revelação interessante é a de que, paralelamente aos 26% das mulheres que se submeteram à laqueadura e 27,4% que utilizam contraceptivos orais ou injetáveis, apenas 5,1% dos homens submeteram-se à vasectomia e 13% utilizavam preservativos regularmente como método contraceptivo.3 Quanto à autonomia frente ao homem, portanto, parece que esses números falam por si.
Ao mesmo tempo, enquanto os índices demográficos caem nas famílias de classe média e alta, eles ascendem nas camadas socioeconômico-culturais mais carentes, supostamente com disponibilidade para menor número de filhos.4 Ou seja, são justamente os estratos nos quais se supoe menos acesso à informação os que apresentam índices de crescimento mais elevados.
Já em relação à maturidade da mulher e de seu parceiro, um triste contraponto é o aumento da ocorrência da gravidez em adolescentes, não apenas percebido no cotidiano, ou mais nitidamente constatada pelo crescente número de adolescentes nos serviços de assistência pré-natal e maternidade, mas ao mesmo tempo confirmado mundialmente por dados estatísticos. Calcula-se que, a cada ano, mais de 14 milhoes de adolescentes dao à luz no mundo. No Brasil, segundo o DATASUS, 68,19% de todas as internações ocorridas com adolescentes do sexo feminino no ano de 2005 foram motivadas por gravidez, sendo que 21,78% dos nascidos vivos foram filhos de adolescentes entre 10 e 19 anos.5
OBJETIVOS
O presente artigo busca avaliar possíveis vinculações entre o aumento dos casos de gravidez na adolescência e peculiaridades desse estágio do desenvolvimento que, em se tratando de um dado psicossocial, está condicionado às características da cultura vigente. Fato comum até algumas gerações atrás, a gravidez logo após a entrada na idade fértil mostra aumento na sua incidência justamente em contexto em que é permitido ao adolescente adiar consideravelmente a assunção de suas responsabilidades. Essa aparente contradição é abordada pelos autores à luz das transformações trazidas pela cultura contemporânea quanto às expectativas depositadas sobre os mais jovens, cujas prerrogativas se tornaram, de algumas décadas para cá, objetos de condescendência por parte dos adultos.
MÉTODOS
Os autores desenvolveram reflexoes originais apoiadas na literatura disponível sobre o tema, tanto na mídia impressa como eletrônica. Foram realizadas buscas on-line no banco de dados Scielo, no período entre 1995 e 2011, utilizando-se as seguintes palavras-chave: gravidez adolescente; sexualidade adolescente; adolescência. Foram também realizadas buscas manuais com os mesmos objetos.
DISCUSSÃO
Adolescentes grávidas não representam um fenômeno novo. Afinal, durante milênios e até algumas décadas atrás, a faixa etária entre 14 e 19 anos foi considerada bastante adequada à maternidade. Porém, é claro, em contextos socioculturais bastante diversos do atual. Até há bem pouco tempo, a cultura não dirigia à mulher expectativas para muito além da maternidade, quase sempre uma ocorrência natural dentro de relação referendada pelo Estado e pela Igreja. Uma consulta às estatísticas oficiais mostra que, no início do século XX, mais de um terço das mulheres com idade até 19 anos eram casadas6 e, no censo de 1950, mais de 80% das mulheres acima dos 10 anos foram profissionalmente referidas às "atividades domésticas não remuneradas e atividades escolares discentes".7
Uma vez que os casamentos precediam os nascimentos, de maneira geral a vida a dois era prevista e preparada, mesmo nos estratos mais modestos. Além disso, não havendo meios de controle da natalidade, supoe-se que as gravidezes ocorriam de maneira semelhante nas diversas faixas etárias férteis e ativas sexualmente.
Houve, porém, importantes mudanças no padrao reprodutivo no Brasil, em primeiro lugar em razao do processo de urbanização da população, que impôs a necessidade de se limitar o número de membros da família adequando-a ao modus vivendi das cidades. Como desdobramento, assistiu-se à permeabilidade progressivamente maior das mulheres à ideia de planejamento familiar, com mais acesso aos métodos contraceptivos.8 Ao mesmo tempo, a gradual incorporação da mulher à força de trabalho e gradativa ampliação de sua participação nas profissões trouxeram, como consequência, cobrança de desempenho que a obrigou à extensão de sua escolaridade.
O fato é que, ao longo das décadas, a natalidade no Brasil vem atingindo taxas cada vez mais baixas. Em 1940, a mulher brasileira tinha 6,2 filhos, em média, caindo em 1970 para 5,8 filhos; 30 anos depois, no censo de 2000, essa média era de 2,3 filhos, com taxa de natalidade de 21,2/1.000.9
Mudou o padrao reprodutivo e mudaram-se também as expectativas da sociedade em relação aos jovens. A eles vem sendo concedido período de dependência progressivamente estendido para muito além da maioridade legal, ao mesmo tempo em que cada vez mais são destacadas e valorizadas suas necessidades e conveniências. Nesse novo cenário, não há como olhar para a gravidez nessa faixa etária com naturalidade. Trata-se, inegavelmente, de profunda ruptura com a cultura que propoe adiamento cada vez mais do início da vida de responsabilidades, bem como do início do período reprodutivo.
Além disso, se a baixa idade das maes já foi a regra, preocupa o fato de que, em meio ao declínio global das taxas de fecundidade, a exceção é o seu crescimento entre as mulheres mais jovens, fenômeno observado principalmente nas regioes com menos desenvolvimento socioeconômico-cultural.9 Em 1994, 0,68% dos partos no Brasil foi de maes na faixa entre 10 e 14 anos; em 2005 o aumento foi de 0,9%, chegando a 1% em 2007, com avanço de 42% nesses 13 anos.10-12 No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IBGE/IPEA), só em 2006 a taxa de fecundidade adolescente cresceu 0,14 nas classes socialmente mais vulneráveis.12
Nesses estratos, a elevada incidência de gravidezes envolvendo mulheres e homens muito jovens acaba por fomentar alguns dos traços dramáticos do cotidiano das cidades. Isso porque, desamparados pela família e pelo Estado, para a sobrevivência própria e a de seus filhos, pode não lhes restar alternativa senão o recurso de expedientes marginais muitas vezes apoiados na violência, organizando-se em grupos igualmente à parte da rede de apoio social, componentes da assim dita "população de rua", de onde surgem novas gestações, precoces e desamparadas, que realimentam todo o ciclo da miséria urbana.13
Ainda que o desfecho não seja tao extremo, sendo na maioria das vezes gravidez não planejada ou mesmo não desejada, nem sempre a mae é poupada de entraves na manutenção ou aquisição de qualidade de vida satisfatória, especialmente nas camadas mais carentes. Observou-se que, na sequência da gravidez adolescente, apresentam-se diversas ocorrências, sejam obstétricas, sociais, relacionais ou psicológicas, implicando menos progressão escolar e profissional, em desemprego ou subemprego e relacionamento instável com o companheiro, levando a separações ou a relações tumultuadas.5
Considerada pela Organização Mundial de Saúde como gravidez de alto risco, é frequente sua associação com a alta incidência de prematuridade e com recém-nascidos de baixo peso. Vários autores, entretanto, discordam quanto às razoes para tal associação. Se, por um lado, há aqueles que a creditam fundamentalmente à imaturidade biológica da mae14, para outros as razoes estariam no conjunto de fatores desfavoráveis que a gravidez adolescente costuma aglutinar15,16. Para esses, surgindo com frequência devido à conjuntura disfuncional na vida da jovem, são mais amplas as possibilidades de acompanhamento pré-natal ausente ou escasso, o que se constitui na verdadeira causa daqueles riscos.
Além disso, a gravidez não desejada implica menos vinculação afetiva ao concepto, o que também afeta os cuidados pré-natais, aumentando os riscos já citados. Segundo Pedraza17, ao ter que lidar com seu estado, a noção da gravidez aparece, para a adolescente, desvinculada da noção da existência do bebê, que ela considera uma realidade apenas a partir do nascimento. Isso compromete seu investimento na assistência pré-natal, percebida, no máximo, como interesse dos que estao ao seu redor, mas, para ela mesma, sem sentido.
Para fazer frente à questao da gravidez precoce, o Brasil implantou política de esclarecimento sobre a sexualidade paralelamente a mais acesso aos mecanismos de controle da gestação, envolvendo diversos setores do governo, conseguindo, realmente, redução nas suas taxas de crescimento.12 No entanto, os resultados obtidos com essas campanhas têm se mostrado aquém do necessário e continua preocupante o número de gravidezes em jovens, especialmente naquelas em situação de mais vulnerabilidade social. Torna-se, entao, oportuna a reflexão sobre alguns pontos da própria condição adolescente, que possivelmente se impoem a essas estratégias educativas.12-17
Inicialmente, é interessante diferenciar puberdade de adolescência. Entende-se a primeira como um processo biológico representado por um conjunto de mudanças físicas, principalmente hormonais, que, entre outros efeitos, alteram o corpo, aumentam o impulso sexual e dao início à capacidade reprodutiva. Já a adolescência é processo cultural, implicando transformações psicológicas e sociais que alteram o posicionamento do indivíduo ante as obrigações e possibilidades que a cultura apresenta a todos os seus indivíduos.
A clássica "síndrome normal da adolescência", proposta pelos psicanalistas argentinos Maurício Knobel e Arminda Aberastury18, lista determinados traços psicológicos e comportamentais como característicos dessa etapa, entre outros, o padrao de passionalidade como são vividas as relações amorosas, a susceptibilidade à influência dos grupos e as dificuldades de referências temporais, com afrouxamento das noções de passado e futuro, o que compromete a avaliação das consequências daquilo que o adolescente faz.
Sabe-se, ainda, que, embora a atitude contestadora seja das grandes marcas dessa transição, sem que aceite ou sequer perceba o jovem é particularmente sujeito a influências que chegam até eles principalmente por meio da mídia. No entanto, percebe-se que a mídia dirigida ao adolescente nem sempre se mostra comprometida com sua real circunstância e a visão de mundo que lhe é enviada acaba por se revelar parcial, enganosa ou oportunista, no que inclui de maneira geral a estética, as prioridades de consumo, as modalidades de vínculo e o erotismo.
Em se tratando de processo cultural, a dinâmica própria da adolescência ganha matizes advindos da contemporaneidade. Assim, o abrandamento das mensagens interditoras e o padrao consumista característicos da sociedade atual se transformaram em determinantes privilegiados do modelo da sexualidade adolescente.
Cotet19 entende que para esse grupo a sexualidade incorporou o modelo consumista que rege a sociedade contemporânea. Segundo ele, a mídia propoe ao jovem o modelo de vida erótica em que o objeto de relação possui as mesmas características do objeto de consumo: algo a ser possuído e descartado, dando lugar a novo objeto, a ser também possuído e descartado, em movimento puramente hedonista.
Mas há um outro lado da questao. Obrigado ao abandono gradativo dos privilégios oferecidos à criança, o adolescente é apresentado às prerrogativas do adulto, às suas expectativas de satisfação. É necessário, no entanto, lembrar que, para o adulto, se o pressuposto de maturidade viabiliza uma pretensa autonomia para a busca de suas satisfações, essa mesma maturidade é conceituada e aferida pela dimensão das renúncias referentes a modelos de satisfação. A entrada na faixa adulta obriga à submissão a normas que balizam o desejo e, consequentemente, dao margem a sonhos. O problema é que é próprio do ser humano resistir a abrir mão de qualquer possibilidade de satisfação, ainda que em troca possa adquirir outras, que, no caso, nem tao sólidas assim se mostram.
Nesse arranjo, afirma Calligaris20, o adolescente é convocado a realizar os sonhos adultos de satisfação em sua forma mais livre. O autor observa que até a metade dos anos 60 o ideal adolescente era a idade adulta, ser aceito e reconhecido como tal. No entanto, de algumas décadas para cá a rebeldia adolescente foi encampada pelos mais velhos e a adolescência tornou-se ideal social necessário aos adultos como possibilidade de realização projetada daquilo que o pressuposto de maturidade já não mais lhes permite.
Paradoxalmente, a revolta contra o modelo adulto implica subordinação a esse mesmo modelo. Justamente ao tentar impor sua pretensão de liberdade, o adolescente se torna a encenação do ideal cultural de desprendimento das imposições que obrigam o adulto ao abandono inconformado de seus desejos. Numa aparente contradição, as escolhas adolescentes realizam sonhos adultos, o que leva o autor a indagar se a adolescência não existiria para a contemplação preocupada, sim, mas complacente por parte dos mais velhos.21
Tem-se aí algo do adolescente contemporâneo: um indivíduo caracteristicamente passional, impulsivo e pouco capaz de avaliar realisticamente os desdobramentos de seus atos. Alguém envolto pelas alterações hormonais próprias do seu desenvolvimento e em meio a turbulências emocionais inerentes ao processo que atravessam. Inserido em cultura na qual o erotismo se destaca como determinante privilegiado dos vínculos que se estabelecem, é confrontado com parâmetros interditores ambíguos e mal definidos. Ao mesmo tempo, encontra-se sob a influência de uma mídia que veicula mensagens enganosas sobre suas possibilidades, mensagens essas que, sem que perceba, o conduz ao papel de realizador autorizado de modelo de liberdade vetado a adultos. Estes, por sua vez, contemplam a inconsequência adolescente com preocupação, mas também com complacência efetiva, embora não assumida.
CONCLUSÃO
Naturalmente, a atividade sexual tornou-se dado precoce no cotidiano adolescente, mas em padrao que combina as particularidades da adolescência e da cultura contemporânea, o que, por uma via ou por outra, contribui para que as precauções em relação à gravidez acabem sendo desconsideradas.
A gravidez nessa faixa etária constitui, sem dúvida, quadro inquietante, em grande medida por se tratar do reflexo da cultura que incita o adolescente ao hedonismo sem limites ou reflexoes, mas não se ocupa com dispositivos eficazes para ampará-lo no confronto com seus desdobramentos.21 Ou mesmo amparar os frutos dessas circunstâncias: as crianças que nascem. Elementos mais importantes de todo esse drama, constituem o ponto final das implicações da precocidade da gravidez e potenciais multiplicadores de seus efeitos. Contrapondo-se aos devaneios reparadores do passado de seus pais, torna-se determinante involuntário de importantes desvios nas expectativas de suas vidas, sobrecarregando histórias com frequências já suficientemente difíceis. Fazendo parte de grupo de crianças mais sujeitas a maus-tratos do que outras entre a população geral22, partilham da condição de desamparo que frequentemente os antecedeu, experimentando de maneira dramática a condição humana de solidao e falta que em outro panorama lhes caberia atenuar.
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