ISSN (on-line): 2238-3182
ISSN (Impressa): 0103-880X
CAPES/Qualis: B2
Prevalência de tabagismo em policiais militares
Prevalence of tobacco smoking among military policemen in Brazil
Adriana Arruda Barbosa Rezende1; Elizangela Sofia Ribeiro Rodrigues2; Sávia Denise Silva Carlotto Herrera3; Janne Marques Silveira4; Keylla Karla da Silva Barreto5; Pedro Henrique Félix do Carmo5
1. Fisioterapeuta. Professsora Adjunta do Centro Universitário Unirg. Gurupi, TO - Brasil
2. Fisioterapeuta. Professora Adjunta I do Centro Universitário Unirg. Gurupi, TO - Brasil
3. Fisioterapeuta. Professora Assistente do Centro Universitário Unirg. Gurupi, TO - Brasil
4. Fisioterapeuta. Professora Adjunta II do Centro Universitário Unirg. Gurupi, TO - Brasil
5. Fisioterapeuta. Graduados pelo Centro Universitário Unirg. Gurupi, TO - Brasil
Adriana Arruda Barbosa Rezende
Rua 80 H Qd. 173 Lt. 22 nº 123 Setor Nova Fronteira
Gurupi, TO - Brasil CEP: 77415-780
E-mail: drikas.arruda@gmail.com
Recebido em: 02/03/2012
Aprovado em: 08/06/2012
Instituição: Centro Universitário Unirg Gurupi, TO - Brasil
Resumo
INTRODUÇÃO: o tabagismo é o hábito de consumir cigarros cujo princípio ativo da dependência é a nicotina. É reconhecido como fator etiológico para inúmeras doenças e, devido a isso, responsável por alta porcentagem de mortalidade anualmente no mundo.
OBJETIVO: identificar a prevalência de tabagismo em policiais militares do 4º Batalhao de Policia Militar de Gurupi-TO.
METODOLOGIA: foi realizada abordagem direta em 165 policiais militares da cidade de Gurupi-TO e solicitados a responder um questionário sobre o consumo de tabaco. O questionário foi autoaplicável e continha o teste de Fagerstrom, que avalia o grau de dependência nicotínica.
RESULTADOS: verificou-se que 17% dos militares eram ex-tabagistas, 4% eram tabagistas regulares, enquanto somente 1% fumava esporadicamente. O cigarro com filtro foi o mais utilizado pelos indivíduos selecionados (87,5%). O abandono do hábito tabágico foi observado em 39, 36, 7, 11, 4 e 4% dos militares há mais de 120, entre 60 a 120 anos, entre 12 a 60, entre 6 a 12, entre 1 a 6, e há menos de um mês, repsectivamente. A dependência nicotínica foi observada como muito baixa e baixa em 37 e 25%, respectivamente (62%), enquanto 37,5% exibiram grau muito elevado.
CONCLUSÃO: a prevalência de tabagismo em policiais militares é inferior à média encontrada na população geral do Brasil.
Palavras-chave: Tabagismo/epidemiologia; Polícia; Prevalência; Estudos Transversais.
INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo representa o ato de consumir cigarros ou outros produtos que venham a conter o tabaco, cujo princípio ativo é a substância nicotina.1
O tabaco é considerado a droga mais utilizada e disseminada no mundo, responsável por 50% de cerca de cinco milhoes de mortes registradas no ano 2000 nos países em desenvolvimento.2,3 Estima-se que no período de 2002/2030 as mortes atribuíveis ao tabaco irao reduzir em 9% em países desenvolvidos, entretanto, aumentará em 100% (para 6,8 milhoes) em países em desenvolvimento. Outras estimativa afirmam que em 2015 as mortes relacionadas ao fumo superarao em 50% aquelas causadas pela epidemia da síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) e que o tabaco passará a ser responsável por cerca de 10% de todas as mortes no mundo.4
A mortalidade por câncer de pulmão entre fumantes é 15 vezes maior do que entre pessoas que nunca fumaram em suas vidas, enquanto entre ex-fumantes esses valores são quatro vezes mais altos. Fumantes que consomem entre um e 14 cigarros ao dia apresentam risco oito vezes mais alto de morte por câncer de pulmão. Já fumantes que consomem entre 15 e 24 cigarros e mais de 25 cigarros ao dia têm, respectivamente, risco 14 e 24 vezes mais alto de morte por esse tipo de câncer do que pessoas que nunca fumaram. A cessação do hábito de fumar reduz consideravelmente o risco de morte por causas associadas ao tabaco, aumentando em nove anos a sobrevida média de uma população.5
Os prejuízos causados à saúde pelo hábito de fumar são amplamente conhecidos e divulgados pela imprensa, sendo o seu controle considerado um dos maiores desafios da saúde pública no mundo atual. O tratamento para a cessação do tabagismo envolve uma abordagem que contempla aspectos físicos, emocionais e comportamentais.6
Entre as principais causas para o uso do tabaco, encontra-se o estresse, seguido por situações conflitantes no trabalho.7 A profissão de policial militar exige versatilidade de atitudes e comportamentos que, para se obter êxito na profissão, é necessário controle emocional e preparação física. Em função do trabalho ocorrer num ambiente diversificado, sob grande estresse pela exposição da sua vida a situações adversas, os policiais tendem a predispor ao estilo de vida incorreto, o qual pode comprometer seu rendimento físico e mental, além de comprometer sua saúde.8
Diante disso, o presente estudo teve por objetivo identificar a prevalência de tabagismo em policiais militares (PM) do 4º Batalhao de Polícia Militar (BPM) de Gurupi-TO.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo teve caráter transversal, descritivo e exploratório e foi realizado no período de setembro a outubro de 2010, no 4º BPM do município de Gurupi-TO. No momento da coleta de dados, a população estudada constituía-se de 220 policiais, sendo 180 do gênero masculino e 40 do gênero feminino. Foi desenvolvido após a sua aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Centro Universitário Unirg sob o protocolo nº 0142/2010.
Os fatores de inclusão foram: PM lotados no 4º BPM presentes no local de trabalho na data da aplicação dos questionários, de ambos os sexos, de qualquer faixa etária e sem déficit cognitivo que impedisse a compreensão dos questionários. Sendo assim, a amostra foi composta de 165 policiais que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
A coleta de dados aconteceu em conformidade com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.9 Inicialmente, foi solicitada autorização dos participantes para que o estudo fosse desenvolvido, a partir do TCLE, explicando-se a natureza do estudo, objetivos e procedimentos.
Os policiais previamente esclarecidos responderam os questionários na forma autoaplicável.
Inicialmente responderam a um questionário adaptado sobre hábito tabagístico.10 Nesse questionário, os PMs foram indagados sobre o consumo de tabaco, parecer do entrevistado sobre a existência de locais com proibição do fumo, a idade de início, o tempo de abstinência ao tabaco para os ex-fumantes, o número de maços ou cigarros consumidos por dia, a duração do consumo tabagístico, se houve aconselhamento para parar de fumar, o tipo de produto tabagístico consumido, a intenção em deixar de fumar, a prática do tabagismo em casa, na presença de familiares e no ambiente de trabalho.
Foi considerado fumante o indivíduo que consumiu cigarros ou qualquer produto tabágico regularmente ou ocasionalmente no momento da realização do estudo; o fumante regular foi considerado aquele que consumiu no mínimo um cigarro por dia e ocasional o fumante sem regularidade. Foi considerado não fumante o indivíduo que nunca fumou ou que fumava anteriormente ao período do estudo.11 Posteriormente, os voluntários identificados como fumantes foram submetidos à avaliação do grau de dependência nicotínica, por meio do questionário autoaplicável e modificado de Fagerstrom.12
Para a análise estatística utilizou-se o software Bioestat versão 413, adotando-se o nível de significância de 5% de probabilidade nos procedimentos estatísticos. Foi utilizado o teste qui-quadrado e calculado o intervalo de confiança para o percentual de fumantes.
RESULTADOS
Foram avaliados 165 policiais militares do 4º Batalhao de Polícia Militar de Gurupi, sendo 121 homens (73%) e 44 mulheres (27%). Entre os participantes, 129 (78%) não eram fumantes, 28 (17%) eram ex-fumantes e oito (5%) eram fumantes. Dos fumantes, seis (75%) eram fumantes regulares e dois (25%) fumantes ocasionais.
A análise estatística demonstrou intervalo de confiança de 95%, na qual a proporção da população fumante permaneceu entre 2 e 8%.
Verificou-se que o gênero masculino influenciou no hábito tabágico (p<0,01).
Em se tratando da existência de locais de proibição do fumo, 162 (98%) foram favoráveis.
A Figura 1 demonstra porcentagem da amostra e o tempo de abstinência do hábito de fumar.
A Tabela 1 demonstra o número de maços de cigarros consumido ao dia, tempo de consumo e idade da primeira experiência.
Entre os oito fumantes e 28 ex-fumantes, seis (75%) e 21 (75%), respectivamente, informaram ter sido aconselhados a deixar de fumar, entretanto, verificou-se que o aconselhamento não influenciou na cessação do hábito tabágico (p=0,9868).
O cigarro com filtro foi a forma de tabagismo mais utilizada pela amostra, sendo que 75% relataram o interesse em cessar o hábito de fumar. Da amostra estudada, 25% referiram o hábito no domicílio e na presença de familiares e 75% utilizavam o cigarro no local de trabalho.
Sobre a dependência nicotínica, verificaram-se elevadas prevalências do grau muito baixo e muito elevado, conforme a Tabela 2.
DISCUSSÃO
A baixa prevalência de fumantes encontrada no presente estudo (5%) pode ser atribuída a uma tendência regional. Segundo a pesquisa realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), a mais alta prevalência de uso regular de cigarros foi encontrada em Porto Alegre (25,2%) e a mais baixa em Aracaju (12,9%). Regioes menos populosas e menos industrializadas apresentam reduzidas prevalências em comparação aos grandes centros.14
Assim como nesste estudo, que detectou baixa prevalência de fumantes, em pesquisa com 70 indivíduos (51 militares e 19 esposas de militares) constatou-se que 91,5% não possuíam o hábito de fumar ou o abandonaram há mais de cinco anos.15 Em 492 universitários da área da saúde entrevistados, somente 5,7% eram tabagistas16 e em outro estudo, dos 1.245 universitários observou-se prevalência de fumantes de 6,67%.17 Foram encontrados dados superiores a esses na cidade de Passo Fundo-RS, em pesquisa com 521 policiais militares, no qual a prevalência de fumantes encontrada foi de 25,5% dos entrevistados.18
A maior parte da população investigada neste estudo (seis - 75%) referiu o interesse de interromper o hábito de fumar. Resultados semelhantes foram observados noutros trabalhos. 10
Nesta pesquisa, 75% dos 28 ex-fumantes relataram ter sido aconselhados a deixar de fumar. Acredita-se que embora não existam programas específicos na cidade de Gurupi-TO para o combate ao tabagismo, existem outras formas de incentivo ao abandono do hábito. Os profissionais da área de saúde tornam-se fontes diretas de orientação e apoio para o controle do tabagismo, quando procurados pelos fumantes.19 Os melhores resultados são observados quando há aconselhamento por esses profissionais20, incentivo da família21 e dos amigos22.
Entre os fumantes atuais (regulares e ocasionais), 75% afirmaram ter recebido o aconselhamento para abandonar o hábito, embora todos ainda mantenham o hábito ativo independentemente de aconselhamento. Isso permite supor que embora a abordagem direta seja importante, as políticas públicas locais poderiam ser mais eficazes para influenciar comportamentos e decisões.23 Além disso, observando-se o número de anos-maço (consumo do número de maços por dia x tempo de consumo de cigarros em anos) apresentado pelos ex-fumantes e pelos fumantes, detectaram-se, em média, nove e 21 anos-maço, respectivamente, para cada grupo, o que sugere que os ex-fumantes tiveram, em média, tempo e quantidade de consumo tabágico menores que dos fumantes atuais, o que também pode ter influenciado na determinação da cessação tabágica dos ex-fumantes.
A tendência à diminuição do tabagismo pode ser indicativo da eficiência de intervenções em políticas públicas nacionais.10,17 Entre as intervenções tomadas, estao: a criação e aprovação de projetos de lei que proíbem o fumo em locais fechados no país, sejam eles públicos ou privados; a determinação do fim dos fumódromos; o aumento da advertência sobre os riscos do fumo; a obrigatoriedade de aumentar os avisos sobre os malefícios do fumo, que deverao aparecer em 30% da área frontal do maço de cigarros, a partir de 1º de janeiro de 2016; a proibição da publicidade dos cigarros em pontos de vendas; aumento da carga tributária dos cigarros, além de fixar preço mínimo de venda do produto no varejo.24
A baixa prevalência detectada neste estudo (5%) pode ser reflexo do bom êxito de ações antitabágicas em nível federal. Mesmo não recebendo as medidas educativas diretamente, pode-se presumir que para esses indivíduos as diversas formas de mídia contribuíram positivamente para a detecção da baixa prevalência encontrada.
Da mesma forma, a verificação da existência, neste estudo, de ex-tabagistas que não receberam aconselhamento para a cessação do hábito tabágico pode ser considerada mais um indício de que as campanhas realizadas pela mídia televisiva, impressa e digital, de caráter nacional tiveram impacto positivo no grupo investigado. Isso porque os mesmos apenas afirmaram não terem recebido aconselhamento direto para deixar de fumar, o que não descarta a possibilidade de terem recebido esclarecimentos e conscientização sobre os riscos do hábito de forma indireta.
O índice de cessação do uso do tabaco no Brasil, apurado no Inquérito Domiciliar das 15 capitais brasileiras e no Distrito Federal, foi de 44 a 58,3% e considerado fator promissor no país.14 Neste estudo encontrou-se índice superior aos índices nacionais (77%), o que é extremante satisfatório e mais um indicativo da eficiência das políticas públicas nacionais na população estudada.
Além disso, o nível de esclarecimento do grupo estudado (policiais militares), embora não tenha passado por avaliação nesta investigação, deve ser satisfatório, pela implicação na execução da atividade profissional dos mesmos, o que pode ter contribuído para o ótimo índice de cessação verificado nesse grupo, visto que o mesmo inquérito realizado pelo INCA, anteriormente citado, afirma que o índice de cessação do tabagismo é mais elevado em grupos com mais escolaridade, pelo nível de esclarecimento que os mesmos apresentam.14
Apesar do índice de cessação do tabagismo ser mais elevado em grupos com mais escolaridade, o que é benéfico, o nível de industrialização e urbanização também influenciam nas taxas de prevalência do tabagismo, como observado em grandes cidades como Manaus e São Paulo, que apresentam níveis ideais de escolaridade, mas intenso desenvolvimento industrial e populacional.14 Regioes mais industrializadas e urbanizadas tendem a ter um aumento no consumo de tabaco na faixa etária mais jovem.25 Além disso, evidenciam-se hábito mais boêmio em regioes mais urbanizadas e a associação do tabaco com o uso de drogas lícitas e ilícitas.26
Nesta pesquisa, apurou-se que oito (100%) dos fumantes atuais e 25 (91,7%) dos ex-fumantes são homens. A influência do gênero masculino no hábito de fumar também foi registrada em amostra de 871 universitários pesquisados, sendo que 10,8% do sexo masculino e 5,5% do sexo feminino referiram esse hábito,10 como demonstrado neste estudo. No Brasil, um terço da população adulta é tabagista, sendo 60% do sexo masculino e 40% do sexo feminino.27 Esses dados corroboram o inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis realizado em 2004 em 15 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Neste se encontrou que em todas as capitais estudadas a prevalência de consumo de cigarros foi mais alta entre os homens do que entre mulheres,25 assim, como reportado por meio do sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico.28 Essa diferença da prevalência de tabagismo entre os sexos pode ser explicada pelos fatores socioeconômicos, históricos e culturais,17 além do estímulo de outros jovens e da influência de familiares que experimentaram o tabaco e o álcool. 29
A alta prevalência encontrada neste estudo de policiais favoráveis à proibição do fumo em ambientes coletivos leva a crer que existe a preocupação com aqueles que não fumam, sabendo da existência do fumante passivo. Essa preocupação se justifica, pois o tabagismo passivo é a terceira maior causa de morte evitável no mundo.30 Pesquisas realizadas pelo Instituto Datafolha destacam que a maioria dos brasileiros (81%) concorda com a proibição do fumo dentro de ambientes coletivos fechados.31 Resultados semelhantes foram enfatizados ao identificar-se que mesmo as pessoas que fumavam há mais de 10 anos, os ex fumantes e os não fumantes se diziam favoráveis à restrição do fumo em ambientes com circulação pública.32 O tempo de abstinência do tabaco constatado para os ex-fumantes foi superior ao de outras pesquisas (mais prevalente em 39% maior que 10 anos), o que ressalta um aspecto positivo encontrado na população investigada. Outras pesquisas mencionaram períodos mais curtos. Exemplo disso foi citado por Costa e Elabras Filho (2006),33 em que 17% afirmaram abstinência de apenas um, enquanto Rodrigues, Cheik e Mayer (2008)10 obtiveram a mais alta prevalência de abstinência entre um e cinco anos.
Nesta pesquisa a idade da primeira experiência tabágica ocorreu, em média, aos 16,9 anos (dp ± 4,72). Outros dados referem que o primeiro contanto com o cigarro acontece no âmbito universitário, na faixa etária dos 17 anos (dp±4) anos, tendo como consumo tabagístico menos de 10 cigarros por dia.10 Em Porto Alegre, Vitória, Goiânia e Boa Vista, verificou-se que cerca de 70% dos jovens experimentam cigarro aos 13 anos ou menos e em Curitiba a experimentação precoce chega a quase 80% (Brasil, 2004).32 O mesmo foi salientado em outra pesquisa ao observar que 89% dos entrevistados fumantes iniciaram o hábito com idade inferior aos 20 anos,34 enquanto para outros autores35 a primeira experiência tabágica foi na faixa etária dos 16 aos 20 anos (p<0,05). Em alguns trabalhos36, a idade de experimentação e início do hábito tabágico antes dos 20 anos de idade estao comumente associados ao período de transição do indivíduo, do nível de ensino médio para o superior, sendo que muitos jovens podem apresentar o primeiro contato com o cigarro ao ingressarem na Universidade.
Os efeitos do status socioeconómico dos país, nível socioeconômico próprio e a mobilidade social influenciam no desenvolvimento do hábito de fumar desde a adolescência até a idade adulta. Isso porque o mais baixo nível de instrução por parte dos pais representa significativo fator de risco para o tabagismo nos filhos.37 Outra questao que se relaciona ao hábito é a participação em grupos sociais, pois o fato de ter um amigo tabagista aumenta cinco vezes as chances de iniciar o consumo. E esse uso inicia-se geralmente com os amigos. Além disso, destaca-se que o uso de outras drogas tanto ilícitas quanto lícitas, principalmente o álcool, favorece o consumo de tabaco.26 A faixa etária da primeira experiência tabágica encontrada neste estudo (16,9 anos - dp ± 4,72) considera a hipótese do incentivo ao início do hábito tabágico associada a comportamentos ligados à participação em grupos sociais.
Vários pesquisadores avaliaram a associação entre tabagismo, uso de álcool e atividade física e a forma como os hábitos de saúde podem prever mudanças em outros comportamentos, desde a adolescência até a idade adulta, e constataram que o hábito de fumar foi associado à inatividade física e ao uso de álcool. Desse modo, os autores destacam que a promoção de hábitos de vida saudáveis, o bom uso do lazer, estímulo à prática de atividades físicas e a criação de projetos de vida são fatores significativos que contribuem não só para minimizar o consumo de tabaco, mas também previnem outros comportamentos de hábitos não saudáveis.37
Acredita-se que a baixa dependência nicotínica encontrada neste estudo (37% muito baixo e 25% baixo grau) seja em razao dos policiais serem fisicamente ativos, pois indivíduos praticantes de atividade física, quando tabagistas, tendem a ser fumantes leves e ocasionais, sugerindo que o exercício físico colabora para a manutenção da baixa dependência nicotínica.38 Esses achados podem estar relacionados à atuação de programas nacionais, a partir de campanhas de conscientização antitabágica, sendo um forte indicativo para minimizar a prevalência do hábito tabágico, apesar da deficiência em ações de combate local.
CONCLUSÃO
O estudo com policiais militares no 4º BPM de Gurupi-TO para verificar a prevalência de tabagismo constatou índice de 5%, considerado abaixo da média brasileira, sendo que apenas 25% apresentaram baixo grau de dependência nicotínica.
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